Saturday, December 8, 2007

Improvisação segundo Viola Spolin

O que é a improvisação teatral?

Ouvimos falar de improvisação em música, ou de alguém que resolve um problema recorrendo ao que tinha mais à mão, inesperadamente, ou então como prática teatral

- Vamos lá improvisar.

Portanto, será que improvisação no teatro é inventar o que fazer ou dizer, criação espontânea, automática, sem pensar? Será fazer qualquer coisa não importa o quê?

- Improvisa praí!

Será que improvisação é lutar com o vazio, com o não saber o que fazer e dizer, é fazer coisas malucas, é deitar para fora qualquer coisa para que depois se aproveite o que for de aproveitar?

Viola Spolin no seu livro "Improvisação para o Teatro" põe as coisas nestes termos:

- Improvisação é sempre algo de concreto apoiado em eixos muito concretos (Onde, Quem e O Quê);
- Há uma diferença entre fisicalizar o que se passa e produzir falatório, entre mostrar uma realidade e descrever uma realidade, entre ter um foco de atenção e não ter, entre criar algo e inventar qualquer coisa, entre obedecer ao Onde, Quem e O Quê e planear antecipadamente o Como (se fará a improvisação);
- É algo que se joga, pratica e exercita, tão claramente como qualquer outro jogo - com as regras tão transparentes para quem faz como para quem vê - sendo na verdade uma resolução de problemas de actuação, ou quase charadas teatrais (Como mostrar Quem sou através d´O Que faço?, por exemplo).

Dois casos:

A)Improvisação abstracta, como a da composição de tema livre dos tempos da primária, só poderá ser resolvida se houver algo de concreto em que trabalhar. Se derem, digamos, uma frase sobre a qual improvisar, que essa frase sirva para se determinar Quem, O quê ou Onde. A partir daí é fazer como sugere Viola Spolin, escolher um problema de actuação para resolver, em directo, em comunicação com essa plateia. Sem problemas não temos soluções.

B) Robin Williams é um actor improvisacional extraordinário: o registo da sua actuação no dvd "Robin Williams Live On Broadway" é uma epopeia de criatividade incansável de um homem só em palco sempre a trazer, fisicalizando, mostrando, pessoas, desportos e situações.

Se o livro de Viola Spolin é a Bíblia da improvisação, então este dvd de Robin Williams bem poderá ser o previlegiado registo de um dos seus apóstolos em acção.

Monday, December 3, 2007

Livros: "Improvisação Para o Teatro" de Viola Spolin

Improvisação para o Teatro é um achado. É um livro genial. O que este livro faz pelo teatro é iniminaginável.

Neste livro estão postos os fundamentos de uma sólida prática e ensino de teatro, por meio de problemas a serem resolvidos, sistematicamente, apostando no problema como centro da relação entre professor/aluno e actor/plateia.

Viola Spolin faz uma pequena revolução a partir deste livro. Porque introduz regras e as regras, como em qualquer jogo, são ou não cumpridas, sem meio termo. A serem-no resolve-se o problema e acontece jogo e improvisação.

Neste livro fala-se sobretudo de improvisação como criação em directo frente a uma plateia. No entanto essa improvisação não é outra senão a criação teatral, que Viola Spolin ajuda como ninguém a criar, sistematizando.

Sistematiza o livro em sessões de trabalho (como se fosse um manual dirigido a professores-directores); sistematiza todos os exercícios-jogos em problemas de actuação que devem ser resolvidos; sistematiza também os problemas em torno de três termos fundamentais: Onde, Quem e O Quê. Onde se passa a situação, Quem está lá, e O Que está a fazer lá.

E por fim sistematiza cada exercício-jogo a partir de uma regra: mostrar. Porque mostrar é o essencial no teatro, tão essencial quanto o Onde, o Quem e O Quê. Em cada exercício existe uma regra e a atenção, a preocupação, a concentração - enfim, o Foco - do aluno-actor deve estar nesse problema: como mostrar Quem, Onde, O Quê?

Viola Spolin vai desde a introdução de alguns jogos sensoriais até à organização dos ensaios de teatro formal (por oposição ao improvisacional). E cada exercício, tornado jogo, é um jogo teatral entre o aluno-actor e a sua plateia. Plateia é outro termo fundamental neste livro, sem ela não existe o jogo teatral, não existe a avaliação de acordo com a regra do jogo: terá sido mostrado isto ou aquilo, terá sido resolvido o problema de actuação?

Esquece-se a apreciação do Como e trata-se o teatro como um jogo, mas como um jogo que não se joga a sós ou para si mesmo mas sempre para alguém, tornando real uma situação, uma acção, um local, uma relação.

Este livro, que parte tanto do desporto, dos jogos infantis de regras e ainda de Stanislavski, é extraordinário pela democratização da aprendizagem e prática do teatro que permite, erradicando, de uma vez por todas, o mal e o bem feito, o gostei ou não gostei. Interpondo, em seu lugar, o vi ou não vi, o foi mostrado ou não foi mostrado.

A admiração por este livro (fundamental) e pela sua autora nunca será demais.

Nota: Este livro chega ao deserto editorial português quarenta anos depois da sua publicação nos EUA por via do mercado brasileiro, e mais uma vez pela mão da Editora Perspectiva.

SPOLIN, Viola: Improvisação Para o Teatro, Tradução de Ingrid Dormien Koudela et Eduardo José de Almeida Amos, Colecção Estudos nº 62, Editora Perspectiva, 2003
352 págs.

 

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