Thursday, November 27, 2008

Curso Intensivo de Iniciação Teatral/Seiva Trupe

Inscrições até dia 30 de Novembro, no Teatro Constantino Nery.
mas informações aqui.

Crítica por Pretérita Pessoa

“Os Estados Eróticos Imediatos de Sören Kierkgaard”

de Agustina Bessa Luís

pela Seiva Trupe

Direcção de Roberto Merino

Desta peça, Carlos Porto (1930-2008) crítico teatral especialmente ligado ao Porto e aos grupos mais antigos da cidade, nos quais o Seiva Trupe honrosamente se inscreve, provavelmente acentuaria – como em muita da sua produção crítica, sendo um exemplo a generosa menção a Cenas da Vida do Príncipe Hamlet, encenação de Roberto Merino com alunos da ESAP no FITEI 2004 – as qualidades e o trabalho específico de cada um, sejam pessoas ou elementos que constituem a peça.

Provavelmente Carlos Porto falaria de Paulo Calatré, e de como este tão claramente somatiza o tormento de Kierkegaard na sua caracterização do filósofo, fazendo um homem que carrega uma corcunda como, simbolicamente, um peso; e falaria também da presença ágil e voz desenvolta de Jorge Loureiro, num D. João vexado e apoquentado; e mencionaria também a impressionante segurança da Tia, de Clara Nogueira, com a força necessária para dar luta ao protagonista, sedutor que se descobre.

Também o crítico não descuraria falar da ingenuidade patética, em especial na face e voz, da personagem de Miguel Rosas, esse Frederick, para sempre putativo noivo da Regina Olsen de Isabel Nunes, vibrante na sua primeira aparição, ao piano, num silêncio incomportável perante Kierkegaard, com o corpo e os olhos em tensão como que numa espera inquieta de poder falar.

De certeza que Carlos Porto também referiria Hugo Sousa, companheiro do filósofo, libertino mais libertino que Kierkegarard, sem os remorsos e com o orgulho que tão bem demonstrou no modo desabrido com que falava da sua relação com a actriz representada por Anabela Nóbrega, uma Julieta de quarenta anos; a voz de Anabela Nóbrega não deixaria por certo de merecer que se lhe sublinhasse a beleza do timbre.

Parece-nos também evidente que o decano dos críticos não deixaria por dizer que as Criadas Carolina Sousa, Juliana Rodrigues, Lizete Pinto, Vânia Mendes e Vera Pitrez representaram na perfeição – em uma espécie de coro – a seduzida sedutora, cada uma com um tom diferente como as diferentes situações onde cada qual languidamente enunciou ser abordada pelo filósofo. O mesmo Kierkegaard que nesta peça gostava da companhia das criadas e era inseparável do seu guarda-chuva - esse pretexto tão bom como outro qualquer para enredar uma criada que poderia não ter noivo ou namorado e se encontrasse a passear o cãozinho dos senhores.

Carlos Porto haveria também de falar do acerto dos figurinos de Manuela Bronze, na sua sugestão de toda uma época sobretudo pelas cartolas dos homens assim como pelas toucas das criadas, elemento este tão citado de atracção e maldição; e da cenografia de Acácio de Carvalho também falaria, dizendo por certo da sua versatilidade – por um lado – dos módulos metálicos, como da opulência visual dos panos vermelhos em fundo, que, como teatrais cortinas de uma teatral invocação de máscaras e mitos, estão presentes sempre para só se fecharem em conclusão.

A luz de Roberto Merino e Davide da Costa levaria, decerto, a falar da penumbra final que o é também na vida da personagem central, em jogo com a luz da chama no livro que arde no fim; o desenho de som de José Prata e Daniel Santos que tão bem pontua passagens e memórias (como o caso do D. Juan de Mozart ouvindo-se em fundo, na mais plena assunção do carácter sedutor de Kierkegarard) ou presságios (no esvoaçar da ave, quase um arranhar) também seria mencionado.

E a direcção de Roberto Merino seria com certeza relevada nas palavras de Carlos Porto por concentrar em pouco espaço e pouco tempo (menos de hora e meia) várias vidas e uma em particular, a do protagonista, que vai do orgulho à queda: em dinâmicas movimentações de cena e de objectos cenográficos, criando vários cenários que multiplicam a sala, e lhe dão - como em especial com o uso da porta que o era para a rua, o jardim ou, simbolicamente, para uma saída a que Kierkegaard se furtava – dão o paralelo justo às tensões que intensas sucederam às não menos intensas seduções entre as personagens.

Talvez o dissesse Carlos Porto, crítico nobre e generoso na sua atenção. Talvez muito provavelmente o fizesse. E nós assinaríamos por baixo.


Sexta 31 de Outubro 2008

Sala Cheia.

Última representação.

publicado originalmente aqui.

Tuesday, November 11, 2008

O futebol como um não jogo

Num jogo de futebol, há dias, um treinador referiu-se à arbitragem como situação de "nojo"; sendo que se estava a distanciar da noção de luto que há em nojo, provavelmente também se estaria a distanciar da noção de árbitro como árbitro. Aliás, ele e todos os que depois disseram o mesmo ou pior.

Não compreendem que entrando em campo entram no jogo e seja quem for que estiver a apitar ou a jogar, aceita-se todos eles mal se começa, em começando*. O resto (todo este assunto de se bradar ofensa!, incompetência!, crime! e outras palavrinhas estranhas do mesmo género) é simplesmente toleima ou má-educação.

* a alternativa é não começar o jogo, caso se tenha dúvidas ou se preveja vir depois para a televisão dizer enormidades, provando a todos que o futebol não é um desporto, nem muito menos um jogo, mas sim uma luta de clãs, sem regras.

 

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