Jogo dramático é um jogo em que haja faz-de-conta ou simulação.
Tem que ser de âmbito privado, ou seja, não pode ser para mostrar a outros - senão seria jogo teatral ou uma criação teatral.
Sempre que uma criança pega num carro para fazer um percurso rodoviário acompanhado de vrummmm isso é jogo dramático. E espontâneo, porque surge a ideia à criança como poderia ter surgido jogar à bola contra a parede.
E como é um jogo, só interessa a quem joga (logo o aspecto privado: é um teatro feito para si mesmo) e é de simulação de alguma coisa, de faz-de-conta.
Jogar à bola não o é*.
Brincar com uma pistola de plástico ou uma boneca, ou aos médicos, às casinhas, às famílias, aos polícias e caubóis já o é.
*A não ser que a bola seja tida por outra coisa: um asteróide ou um mundo nos pés de um Ser todo-poderoso...
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Sunday, April 20, 2008
Definição breve de jogo dramático
Friday, April 18, 2008
A consciência e o contexto de jogo dramático
Roger Callois no seu livro "Os Jogos e os Homens" define o jogo como sendo
1. Uma actividade livre
2. Uma actividade delimitada no espaço e no tempo
3. Uma actividade incerta no seu desenrolar e no seu resultado
4. Uma actividade que não gera nem bens, nem riqueza, nem elementos novos de espécie alguma
5. Uma actividade acompanhada de uma consciência específica de uma outra realidade
6. Uma actividade sujeita a convenções
Na 5ª destas características encontramos a chave para o jogo dramático induzido, em que alguém (um orientador, por exemplo, a que podemos muito correctamente chamar facilitador) ao criar um contexto de jogo, de brincadeira, faz com que possa emergir outra consciência e que esta, a do dia-a-dia, descanse e vá tirar umas férias para a parte de trás do nosso cérebro.
Isto não é senão o que acontece quando estamos entre amigos, distraídos, divertidos e damos por nós a falar e a fazer habilidades com um destemor e desenvoltura quase impossíveis de repetir:
temos aqui o contexto que nos permite evadir desta consciência para a outra. Em que tudo é possível.
Sunday, April 13, 2008
Jogo Dramático e Quarta Parede
Brincar:
Fazer de conta que se voa, que se é super-herói, que um carro de brinquedo anda realmente, que uma boneca fala, que um lápis é uma espada ou que um guarda-chuva é uma epingarda, que estamos debaixo de água, que se lança raios pelos dedos, que se é especial, que se está no meio de um filme.
Brincar a fazer outro mundo: fazemo-lo para nós - que interessam os outros (senão na nossa imaginação)?
Isto está na esfera do desejo e, como todos os desejos, é uma coisa nossa. Não é uma habilidade, não é coisa que se faça e se vá mostrar: Olha como faço de conta que voo!
É coisa nossa e pronto. É deambular. É para consumo interno. Não nos interessam espectadores, ou receptores. Brincamos e continuamos a brincar porque isso é bom, porque estamos a sonhar.
Brincar assim - ao que tecnicamente chamamos jogo dramático - é sonhar acordado. É fantasiar. É apresentar um programa em cima da cama, é fazer passagens de modelos frente à televisão, é fazer de mau ou de triste e imaginar como os outros reagiriam. É não ter plateia senão nós mesmos.
Este jogo com a sua fantasia é o que em teatro, enquanto criação e comunicação com uma plateia, se procura associado ao termo Quarta parede.
É como se estivessemos (enquanto actores) no palco mas imaginando que não é um palco, mas sim uma divisão completa, como um quarto (até mesmo o nosso quarto) com uma quarta parede que nos protege de qualquer olhar ou distracção do sonho, como o nosso quarto nos protege de qualquer espectador.
Imagina que tens uma quarta parede e que nós (espectadores) não estamos na sala.
(Diria um director* ao actor.)
Assim, enquanto actores, para que mergulhemos melhor na nossa fantasia, mergulhamos de volta em nós, na infância e no sonho a que brincávamos.
* Este director poderia muito bem ser Konstantin Stanislavski que terá sido o inventor da Quarta Parede imaginária, de modo a ajudar o actor a penetrar mais verdadeiramente na sua fantasia.
