Monday, September 7, 2009

Isabel Alves Costa

Hesitei muito em escrever sobre Isabel Alves Costa, ou antes, sobre o seu falecimento.

Como bem apontou o Luís Campião este blog começa a tornar-se um imenso obituário das pessoas grandes ou queridas do teatro.

Não sei o que se passa este ano, está a ser um ano de abandono.

Soube do desaparecimento de Isabel Alves Costa noutro ponto do globo e noutro ponto de emoção e expectativa, nunca me pareceu justo que ela tivesse morrido e esse luto que não fiz acompanhou-me durante todo o tempo em que estive fora, à procura de outras coisas quando a morte visitara a cidade e uma das pessoas que - se o pudessemos dizer - menos o merecia.

Há pessoas de que conhecemos a grandeza artística e outras de que conhecemos o coração e o carácter, de Isabel Alves Costa posso dizer que tinha tanto a grandeza e a inteligência como o carácter.

Era a mais extraordinária professora portuguesa que alguma vez tive. Era também aguerrida e sabia ser áspera, mas tinha uma força que dirigia a criar condições, estruturas, textos, quando outros - muitos outros - criam politiquíces.

Foi maltratada em várias situações, algumas que se conhecem e são públicas, outras ainda não. E tudo, digo-vos, porque era uma mulher muito mais capaz que a súcia que anda por aí.

Escreveu ou colaborou na escrita de vários livros dedicados à Expressão Dramática, Fantoches, e formação dos professores para que estes possam interagir na expressão dramática das crianças.

Doutorou-se quando isso ainda não estava em moda com uma tese bestial, publicada com o nome de O Desejo de Teatro.

Tinha e alimentava um enorme desejo de teatro e fazia-o nas aulas, nos projectos que dirigiu ou dirigia.

Pôs o Rivoli no mapa da dignidade durante 10 anos até que a corja ignara decidiu que devíamos voltar à degradação.

Dirigia actualmente as Comédias do Minho, projecto-estrutura de verdadeira descentralização teatral de qualidade, na qual tinha um orgulho pujante que, se não era essa a sua identidade, então é assim que a lembro mais.

Era uma mulher importante na cidade e isso não a impedia de receber este ex-aluno em várias ocasiões relacionadas com espectáculos ou investigações académicas.

No seu cartão de visita/apresentação tinha escrito Consultora e nunca me pareceu como na altura que esta palavra fosse tão justa.

Numa cidade que anda a boiar na lama cultural em vários pontos estratégicos, esta mulher extraordinária era razão de orgulho por se relacionar com o mundo, com a contemporaneidade, por ser simultamente investigadora universitária e interlocutora estimulante e estimuladora.

O que eu ganhei consigo Professora foi perceber que pode haver afecto com exigência, que pode haver cultura e desejo de teatro, que pode haver mais uma criança na cidade. E hoje, ainda hoje, choro por si.

Ditulis Oleh : Unknown // 4:44 AM
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