
No Porto, temos ainda até amanhã para sermos arrebatados por uma improvável peça extraordinariamente posta em cena: O Marinheiro, de Fernando Pessoa, pelo Teatro Plástico, direcção de Francisco Alves.
Esta é a única peça publicada em vida de Fernando Pessoa e é intrincada: três mulheres, irmãs, velam o corpo de uma quarta durante uma noite e, falando entre si, uma delas conta um sonho com um marinheiro. Isto será o enredo mas... as personagens não têm identidade definida, as suas acções são ténues, e o seu diálogo é poesia completa, como se fosse um único poema que em coro vão distribuindo entre si durante a espera que fazem.
Peça complicada, com elevadas hipóteses de fracasso. Leia-se tédio ou aborrecimento ou desconexo ou falta de sentido. Sempre me pareceu irrepresentável. No entanto até hoje me parecera irrepresentável: depois desta encenação penso de outro modo.
Pois hoje vi uma imensidão de sentidos, vi cada frase abrir-se para mim do que conhecia e não conhecia do Pessoa, vi na verdade estalarem pequenos conflitos entre as irmãs, e vi identidades. Vi expressão onde podia ter só existido verborreia, vi precisão - quando a precisão interessa-nos ao se ser preciso a atingir a beleza, ou os sentidos do espectador e, por conseguinte, a sua alma.
Vi como é possível o teatro revelar o que nem a leitura nos dá.
Vi abrir-se para mim uma colossal e invejável obra que dá vontade de reler e fazer e ver mais. Vi uma verdadeira encenação, com interpretações fortíssimas porque maduras de um trabalho tão coeso, tão sólido e sempre supreendente, tão tornado sensível que, como este, não se vê frequentemente.
Domingo dia 11 é o último dia. Se ainda não foi, vá.
Nota: Além da qualidade da peça, além da generosa conversa com a equipa criativa no final da apresentação, além de tudo isto o programa tem um ensaio inédito de Teresa Rita Lopes sobre Pessoa e o "Teatro de êxtase". Se isto não é uma ocasião, já não sei o que o é.
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Saturday, October 10, 2009
O Marinheiro, de Fernando Pessoa, pelo Teatro Plástico - Crítica
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Ditulis Oleh : Unknown // 4:17 PM
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Teatro Plástico
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