Friday, January 18, 2008

Ter jeito

Ora vejamos se nos compreendemos, ter jeito - coisa estranhamente aplicada com regularidade ao teatro, ou ao actor - é coisa vaga e quase mística. Difícil de comprovar, pois difícil de avaliar por ser conceito que escapa aos conceitos (talvez até mesmo de propósito).

Ter jeito será ter habilidade, ter propensão, ter todas as capacidades necessárias ao exercício de...?
Será ter uma vocação, estar vocacionado?
Será ter um dom, ou ser dotado?

Apesar de todas as nossas pretensões ciêntificas à volta do teatro, não está nos nossos horizontes desenvolver o teste-para-certificar-que-você-nasceu-para-isto. Mas interessa-nos pensar no seguinte:

Grandes actores já fizeram burradas com maus encenadores.
Pessoas vulgares fazem improvisações extraordinárias no meio dos seus amigos.
Tudo circunstâncias.
Alguns destes (actores ou pessoas vulgares) tinham à partida uma habilidade ou facilidade especial para a coisa? Sem dúvida.
Isso distingui-las-á de outras numa sala de aula, num teatro? É evidente.
Desde que estejam numa boa circunstância.
É evidente que cansados, tristes ou desanimados ninguém parecerá ter ou jeito ou dom ou facilidade.
É evidente que felizes, valorizados ou ajudados os bons parecerão melhores e os médios parecerão esplêndidos.
É evidente que a facilidade inexplicável que temos em fazer esta ou aquela coisa ou tarefa (da cozinha ao hoquei, passando pelo teatro ou a escrita) não nos salva sempre, dá-nos apenas um pequeno avanço. Em relação a outros, ou em relação à nossa própria dificuldade, preguiça ou desorientação.

Ter jeito (de um modo que pelo menos privilegia o que há em nós de humano e voluntário, e não de divino e incontrolável) será então como fazer surf, aproveitando a onda de circunstância com o pequeno avanço que sem querer temos à partida.

Ditulis Oleh : Unknown // 4:52 AM
Kategori:

0 comments:

Post a Comment

 

Blogger news

Blogroll

About