A minha escola, como actor, como professor, como tudo que eu seja, foram as artes marciais.
A verdadeira escola, que é a base do pensamento e comportamento foram de facto as artes marciais. Antes mesmo de me ter ocorrido o teatro ou semelhantes.
A minha escola, antes de ter cursado teatro e praticado teatro, foram as artes marciais porque foi aí intuitivamente que me encaixei, que senti que respeitava algo e havia um património e legado a manter.
Foi aí com quatorze, quinze anos que me eduquei. E digo me eduquei pois antes de qualquer aprendizagem formal já eu me treinava e sabia que para atingir a habilidade tinha que dominar o meu corpo. Já nessa altura, muito antes de ouvir falar de motricidade ou psicomotricidade ou antes mesmo de pensar que coisa era a técnica.
E muito antes de entrar numa aula de teatro ou num ensaio já eu me educara - por ter sido a escolha do que eu queria - a nunca faltar a uma aula, ou a um treino em casa, sózinho, para dominar e preservar em mim a técnica, que era o saber e o ser da arte marcial.
Muito antes das regras já eu praticava as regras.
Muito antes de ler fosse o que fosse de técnicas teatrais e pensar na ética já eu me tinha educado na observação das normas, da hierarquia por saberes, mestrias e experiências. Muito antes de tudo já eu estava a cultivar o meu corpo e a minha mente para que fosse chão arável.
Muito antes de saber o que era técnica e estímulos, me preparava em casa para as provas que tinha de fazer para entrar na Escola de Teatro que tinha escolhido.
Preparei-me pensando sempre que - como nas artes marciais - se se pode fazer, pode-se treinar e melhorar até à excelência ou, pelo menos, ao seu domínio confortável.
Passaram-se vinte ou quase vinte anos desde que isto começou. Ainda penso da mesma maneira. E choca-me lidar em todos os lados por onde tenho passado com alunos que não fazem a mínima ideia de como se preparar, que não têm a mínima ideia de regras de conduta - e, portanto, de como tornar pronto o seu chão para se arar.
Choca-me pois ninguém tem controlo material sobre o que faz, desde grupos de amadores, a teatros universitários passando por cursos superirores vocacionais ou não.
Ninguém consegue pensar em metas e domínios do que tem a fazer: se um texto é para decorar é fácil de o fazer, decorando-o; se se tem dificuldade a ler em voz alta, é fácil resolvê-lo... lendo em voz alta; se há uma hora de começo da aula ou do ensaio, essa hora é a hora de começar e não a de chegada; se há roupa com que se começa então é só metê-la no saco no dia anterior; se no ensaio é para ouvir e fazer, basta não se falar; se... e se... e se... e se...
Não há normas dentro de ninguém porque ninguém se educou.
E eu serei um caso raríssimo, num meio quase rural, a inventar por mim e para mim o que havia de me tornar possível ser o que queria ser. Espero bem que o futuro me prove o contrário. Por enquanto ainda estou no grau quase zero de tudo.
Friday, November 20, 2009
A minha escola
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