Friday, January 1, 2010

2009

Para mim 2009 foi um ano bom, ou eu fui bom para o ano que passou.

Como sempre imprevisível o ano, foi a antecâmara do teatro que farei ou de um regresso ao teatro. Expliquemo-nos: estes anos têm sido algo acidentais e as escolhas, quando as fiz, fi-las sem saber quando as poderia cumprir. Fazer teatro e ser actor era uma delas. Antes disso, as artes marciais. Este anos viu-me voltar a uma delas e a caminhar com seguros passos em direcção à outra.

Primeiro o Judo. Não interessa verdadeiramente se me serve ou não a mim como actor e professor, interessa - como em tudo - que me sinto em casa quando lá estou. E sinto dificuldades e sinto confusão e receio de deslocar ombros e até cair. Mas quando vou para lá é como ir para casa, e isso há muitos anos que não sentia em nada.

Foi uma escolha dada a minha idade, o meu corpo fragilizado em alguns pontos por anos de ginásticas diferentes, e por ser uma arte marcial que nunca tinha feito. E não me enganei. Treinar é bom.

Treinar teatro voltei a fazê-lo depois de tantos anos e interrogações e não saber bem o que fazer apesar de saber que algures deveria haver algo para se treinar em teatro, de modo a se ser actor e/ou melhor actor. A Biomecânica Teatral de Meyerhold, ou antes um seu mestre: Gennadi Bogdanov. Não sei porquê tenho tido ao longo dos anos quase somente referências russas: criativas, morais, técnicas. Teatrais em suma. Bogdanov, Polina Klimovitskaia e por fim o mítico Stanislasvki.

Se não estou em contacto directo com estes dois últimos, apesar das lembraças daquela e dos textos deste, quanto a Gennadi Bogdanov a coisa já é diferente, e ainda bem que o é. 2009 foi o ano de o reencontrar depois de um primeiro contacto em 2004, por altura de uma formação mais alargada e de um momento meu mais vago, a sair de um rumo (actor) para um outro, talvez (encenador). Na verdade nessa altura foi a semente de algo a que demoradamente fui dar uso e pensamento. E o pensamento na Biomecânica é treino. E é treino diário. O tal training dos actores.

E se isto orientou a esperança de poder fazer algo que jeito tenha também alimentou o que sempre tenho crido: há uma técnica e sinceramente não é professor de teatro quem a não ensine.

Técnica é algo que se defina, se repita e se treine, não é gosto, não é jeito, é skills. A Biomecânica de Meyerhold/Bogdanov tem sete princípios da construção da acção física e, ainda que compreenda todo o ensino proprioceptivo que se faz, nunca tive pistas do que fazer em cena senão até conhecer estes principios.

Quem os quiser conhecer: os seminários lá estão, custam muito menos dinheiro que uma escola ou um curso e fazem muito mais que eles. Mas não é fácil e exactamente por isso é que podemos construír novas formas, com novos corpos.

Este ano foi assim e foi também o Desejo de Teatro e eu a perceber que - na prática - tendo eu maior desejo, mais conseguia estimular o desejo dos alunos. Foi assim na UMinho, com frutos visíveis. E foi essa a minha questão num recente exercício de teatro. Mais que regras e boas intenções (até louváveis), o que pesa é Desejo, tive bons exemplos e maus exemplos, tive choque e tive que reflectir sobre o que estávamos a fazer e digo-vos, sem Desejo de estar em cena, nada feito.

Concluo daqui que a tarefa de uma escola ou curso será dar técnica (algo de directriz e regra, concreto, estimulante e treinável) e alimento do Desejo de teatro. Sem estes dois estamos tramados. E todo o currículo é inútil e desadequado.

O Doutoramento em calha - cuja ajuda curricular devo sobretudo a uma dupla de empenhados professores que estimulam a produzir ciência, que é o mesmo que conhecimento, que é o mesmo que eu próprio clamava há tempos - tem-se dirigido cada vez mais para aqui. Sem Desejo nada feito, nem mesmo para quem não vai fazer disso profissão.

Entretanto morrera Isabel Alves Costa, a mais injusta de todas as mortes de Pina Bausch, Merce Cunningham e outros. Isabel Alves Costa (vi os seus livros há dias) era uma mulher inteira e a autora da noção de Desejo de Teatro, a minha ideia foi sempre seguir de onde ela tinha deixado. E dedico-lhe tudo que possa desenvolver.

O resto... o resto foi o resto. Como não cabe no meu Desejo de Teatro ou na viva estimulação disso nos outros, não é importante.

Ditulis Oleh : Unknown // 4:00 AM
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