Não há teatro em Agosto.
Os teatros fecham. Precisam de férias... Há mais tempo para todos, há até algum dinheiro, há visitantes daqui e dali e está tudo fechado, talvez estejam todos a aproveitar o seu tempo e dinheiro, mas noutro lado qualquer.
No Porto o TNSJ está de quarentena em Agosto, por outros lugares será o mesmo, menos no Fundão:
o Fundão fica a 4 horas de viagem do Porto, é uma pequena cidade e tem muita mais civilidade que o Porto, porque lá o teatro não vai de férias. Pelo contrário, em Agosto acontece o festival TeatroAgosto que oferece formação e espectáculos. E serão uns quaisquer, para divertir a malta, ou para fazer animação da cidade como é vulgar agora?
Não, é formação em artes de rua e em (este ano) Commedia dell´Arte; é programação de companhias de Lisboa, Itália, Espanha e do próprio Fundão.
Em relação à formação de Commedia dell´Arte, por exemplo será fajuta, dada por um jeitoso?
Não, é dada por Nuno Pino Custódio que, com a experiência que tenho de vários graus e escolas de teatro, se não é uma raridade em Portugal então não sei o que será: regras, conhecimento, sensibilidade artística, filosofia e objectividade. O que significa que as horas ali passadas correspondem em muito a muitos semestres e euros de cursos e workshops de gente que dá generalidades.
Em relação à programação será "o que o povo quer"?
Não. É cuidada, da mímica, à comédia mais hard-core, acabando nas próprias criações da ESTE - Estação Teatral, companhia residente no Fundão, sob a direcção do próprio Nuno Pino Custódio.
Aqui está um vídeo
Vão lá.
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Monday, August 30, 2010
Teatro em Agosto: TeatroAgosto
Wednesday, August 25, 2010
Subsídios ao teatro 2010
Sempre quis saber quem foi agraciado?
Sempre quis saber se os seus amigos foram apoiados?
Sempre quis saber se os seus inimigos também foram apoiados?
Tem uma enorme curiosidade sobre os montantes, as décimas e os cêntimos?
Sempre quis saber tudo isto e nunca teve pachorra para abrir todos aqueles pdfs da Direcção-Geral das Artes?
Então aqui está: 








Friday, August 13, 2010
Um poema vale menos que um café e um artista vale menos que um cliente
De há uns anos para cá tenho feito sessões de poesia. A história de como isto foi acontecendo é também a história do mundo do espectáculo ainda que num ponto pequeno: propostas de sessões às livrarias A, B, C e D; A não responde senão depois de C ter aceite e o espectador E ter recomendado; B protela e D aceita mas boicota pela negligência.
E negligência é a palavra-chave: o artista é sempre a última das prioridades. O microfone é sempre a última coisa a ser colocada, o som ambiente é sempre a última coisa a ser baixada, os cafés estão sempre a ser servidos. Aconteça o que aconteça os cafés têm que rolar.
Mário Viegas disse algures que quando não podia representar dizia poesia. Levei isto à letra e fi-lo, as mais das vezes graciosamente porque queria representar.
E quando um actor diz poesia - interpretada, como se fosse ele - isto causa impacto, sempre. Por pior que seja o actor. E se o actor trabalhar os poemas e a sua interpretação, mais impacto fará: sabe entrar, sabe suspender, sabe antecipar, sabe olhar, sabe comunicar.
Penso que todas as vezes que disse poesia fi-lo num propósito social: era um imperativo dizer aqueles poemas que falavam de brutalidades, de uma geração oprimida, de gente esquecida; era para mim uma urgência ajudar os parceiros junto de quem dizia poesia (livarias ou híbridos as mais das vezes) para se salvarem da extinção; e era - como disse - para me salvar a mim da inactividade como actor, uma extinção também.
Falava dos livros que leria, dos poemas e das livrarias; fazia o meu endorsement (que é sempre um perigo)e incitava a tirarem-nos a todos da extinção.
Mas digo-vos que nada disto tem valor, porque isto não é quantificável. Um cachet é quantificável; os espectadores que pedem cafés são quantificáveis; as vendas de livros são quantificáveis.
Aconteceu-me até, numa conhecida livraria de Braga, numa sessão que propusera de Pessoa (nada discutível) ao saberem que dava aulas na UMinho pretenderem que lá levasse os alunos a participar, sabendo que os alunos são de Educação Básica: quantidade e pais dos alunos a entrarem pela livraria dentro.
Aconteceu-me ver a filantropia ir pelo cano abaixo e as extinções serem questionadas ao ver livrarias (ou híbridos) a pagarem cachets milionários por sessões entre o negligente e o selvagem.
A vida está difícil para pessoas com ideologia.
Vi comércio em toda a parte, mesmo onde isso era repudiado: a venda de um café tem prioridade sobre um poema que fale do humano.
Um cliente tem sempre prioridade sobre um actor.
E o fazer-se coisas por ideologia, por imperativo quer social, quer artístico, quer afectivo, não tem o valor simbólico de um cachet tanto para os anfitriões como para os espectadores. De preferência um cachet bem alto.
A quantidade é sempre preferida à qualidade. Sempre. Mesmo quando elogiem, mesmo quando haja afecto.
Isto é tramado, mas quando se lida com o comércio (e o mercado cultural também é um mercado)temos que conhecer as regras do comércio. E eu fiz de conta que havia outras regras. Que isto sirva de exemplo.
Lembrem-se que vi sempre serem valorizados os que trabalhavam antes para a sua não extinção financeira pelos cachets, por piores performances que fossem. Quem tem imperativos financeiros não os pode ter artísticos. No entanto ganha-se de bónus o valor simbólico.
Isto anda tudo trocado.
Friday, August 6, 2010
Num post recente que deu alguma polémica punham a questão pertinente de serem os alunos de teatro comparados (ou não) a actores experientes.
Que isso não é honesto, ou justo ou qualquer outra coisa.
E aqui batemos no que é essencial do teatro: não temos referências.
O cinema apareceu há cento e tal anos e não temos trabalhos antigos para ver (mesmo que em filme) e daí é difícil comparar como por exemplo nas belas artes se estuda a arte dos gregos a Rodin, para depois ir a Jeff Koons e etc.
Alguém dirá que não é justo comparar-se um estudante de escultura a Rodin, ou a Soares dos Reis?
Ou um de pintura a Velasquez ou até a Pollock?
Não é justo porque estes artistas são muito bons, são colossais?
Ou até em dança (e recente) com Cunningham ou Barishnikov?
Então que se estudará e com que técnica compararemos a dos alunos?
Diremos "estás a avançar bem, nunca serás ninguém grande mas estás bem"?
O encenador Kuniaki Ida disse em tempos "vocês podem ser muito bons na vossa rua, no vosso bairro, mas e no mundo?"
Dir-se-á que isto não é justo, que o mundo é muito grande que o meu país sufoca-me que precisava de fazer aquela escola em Nova Iorque...
Aqui distinguimos o que é Teatro da Expressão Dramática: o primeiro é uma forma de Arte e o segundo é a expressão por meios dramáticos do indivíduo, mas não tem pretensões artísticas. É claro que para um artista se expressar precisa de muito mais que fazer exercícios e jogos pois a sua Arte está constrangida pelo material, pela ideia, por si próprio. Isto é uma luta, não é inconsequente. A ele importa criar algo e não somente deter-se na sua expressão primordial. E procura criar algo que ombreie com os melhores e não com o que o vulgo fará.
Se quiserem ficar pela Expressão Dramática expressem-se à vontade e em liberdade, mas isso não é Teatro e isso não é o que deveriam ensinar as escolas.
Estude-se os actores melhores (do mundo) e veja-se porque são bons. Como usam o corpo, como usam o olhar, que situações e acções criam. E aprenda-se de uma vez por todas a fazer Teatro.
"Ganhar a falta"
Falo de Futebol:
todos os jogos têm regras, por estas definimos quem ganha e quem perde (nos jogos onde se ganha e perde); as regras definem também o que é permitido e o que não é (no andebol joga-se com a mão, no futebol com os pés...); tudo o que seja infracção às regras é batota e é o não permitido, é uma falta.
As faltas evitam-se, como se evita a batota (não mentimos, não rasteiramos, não somos desonestos) mas... pelos vistos ninguém disse nada em relação a fazer cair o outro em falta... pois no futebol existe a situação (e a expressão)engraçadissima de "ganhar a falta":
o jogador põe-se a jeito, em situação de contacto, e ou cai dolorosamente atingido, ou está sem querer no caminho de um pontapé, ou aconteceu qualquer outra coisa para ele muito honrosamente "ganhar a falta".
A bola passa para a sua equipa, com alguma sorte o outro jogador é penalizado e todos sorriem porque ele vá lá, não rematou ou passou a bola, mas lá conseguiu "ganhar a falta".
E mais uma coisa, não treinamos esses falsos ataques do outro como se fosse stagefighting
Thursday, August 5, 2010
Morreu Orlando Worm
A notícia veio aqui http://www.publico.pt/Cultura/morreu-o-desenhador-de-luz-orlando-worm_1450200.
Já o conhecia antes de o conhecer: falaram-me dele como uma referência e quando o vi finalmente (numa produção da Escola da Noite) pareceu-me muito mais novo que supusera na minha construção de quem seria o lendário Orlando Worm.
Conto isto: ajudava as pessoas. A certa altura fez-se o Citemor em Montemor e, se não me falha a fonte, ele viera com uma companhia e um espectáculo mas não saiu de lá enquanto a jovem organização não tinha todo o aparato técnico (de vassouras a material eléctrico)de que precisava sem o saber;
e a mim ajudou-me também: entre ensaios este homem que fazia luzes especiais deu-me uma dica que foi uma lição de empostação da voz "tens que empostar mais na máscara" e disse-me que tinha feito parte de um coro durante muitos anos.
Mais uma vez tenho uma pena imensa.
Wednesday, August 4, 2010
O Voluntariado
Entre o performer/intérprete/criador e os seus parceiros/programadores/instituições/establecimentos
O voluntariado, em teatro, na verdade é um voluntarismo. Faz-se coisas mas na verdade nada se aproveita, ou antes outros aproveitam-se do que se faz.
A conclusão tem sido inevitavelmente esta:
o voluntário não vale nada, ninguém dá valor a nenhum esforço se for de graça ou pago a valor simbólico, é preciso pagar e de preferência pagar bem para apreciar.
Pagar bem, atentem. Mesmo que por idiotices e idiotas, mesmo que por performances assim-assim, mesmo que por nem-ata-nem-desata.
Isto em si é uma idiotice mas não só os casos de sinergia são poucos (todos trabalham para o mesmo) como só prova que vivemos num sistema capitalista, dentro e fora das nossas cabeças.
Quando deveria ser de outro modo, alterando o mundo, tendo uma verdadeira acção social e fazendo uma verdadeira arte social, de que o teatro (e as suas muitas desmultiplicações em poesia, intervenções públicas e etc.) é o mais perfeito e potencial exemplo.
Mas não é assim, não é assim, não é assim.
É necessário repetir para não se cair repetidas vezes no engano de querer mudar o mundo junto de merceeiros, ou seja, num sistema capitalista oferecendo-se como quem não está num sistema capitalista. Capitalista de valores não só económicos mas morais.
Uma arte social será muito dificilmente aplicável junto de parceiros assim. O capitalismo quer lucro e, se nós queremos ajudar com a nossa arte (o mundo, a cidade, os parceiros, os amigos, tanto faz) estamos no comprimento de onda errado e prometemos falhar.
Ora vejamos, se até a Operação Nariz Vermelho, a tal em que os "Doutores Palhaços levam alegria às crianças hospitalizadas em Portugal", o que deveria ser o exemplo de arte social, de trabalho humanitário, é uma empresa, que move dezenas de milhares de euros todos os meses, porque haveria de resultar qualquer voluntariado em Portugal?
Como o Teatro é uma Arte incrível
Ora vejam só
temos oportunidade, no Teatro, de estar em contacto com o que outros escreveram
de discutir, com outros, pensamentos e opiniões
de nos movermos com outros e sob o olhar de outros
de falarmos para alguém e sermos ouvidos
de fazermos e dizermos coisas de que nunca seríamos capazes, mas de que nos tornamos mais e mais capazes
de pensar as relações humanas e, por conseguinte, o mundo e a transformação do mundo
de ir para casa com o instrumento de fazer Arte e ver com ele, e dormir com ele e sentir com ele, pois ele somos nós
de, por fim, estar em contacto e jogo numa mesma sala com pessoas que nunca conhecemos e que, no final, sentem que houve comunicação entre todos, mesmo sem nos conhecermos
O Teatro, além de ser a primeira rede social, é também uma Arte incrível
Monday, August 2, 2010
A Academice
No seu pior a Academia (Universidade enquanto instituição) tem isto:
nada pode ser dito sem fundamentar em algum autor.
O que, ilustrando, será qualquer coisa deste género
No seu pior, segundo Cronsky (CRONSKY,2000:23), que afirma que "pior é muito mais que mal" e ainda apoiado em Mallhum (MALLHUM,1999:45)na ideia de pior ser "inversamente proporcional ao melhor" a Academia - tida aqui não como a referida por Sooneson, que a distinguia por "espaço amplo e pleno de árvores" (SOONESON, 1987:40) mas mais na acepção de Gustav & Gunner (GUSTAV & GUNNER, 2000:35 e retomado em 2001:78, 2002:101 e 2004:200)a Academia como "meio, recurso e espaço de conhecimento"(Universidade no sentido "Universitas" da Escola de Berlin, enquanto instituição) tem isto:
nada (no sentido que lhe dá o niilismo de Matusson e ainda Harris em MATUSSON, 2007:276 e HARRIS, 2008: 25) pode ser dito (no sentido de dizer enquanto "acto de pronúncia do ser" que Jueves, Carlile, Bonamin & Tuboron afirmaram em JUEVES et al, 1988:29) sem fundamentar em algum (fora do sentido aritmético que lhe deu Silva & Costa em SILVA & COSTA, 1976:76)autor (MEIRELES, 2010:1).
