Há dias escrevi uma espécie de conclusão para o que andava fazendo. E esse género de implicação nas coisas de facto para mim acabou. Seja em aulas seja no blog (que afinal continua, mas de modo diferente).
Dou-vos um exemplo de como as coisas agora são impeditivas: tenho x alunos de teatro (a quem isto deveria dizer muito respeito), normalmente vêm à aula 50 ou 60% desses alunos. Cada um deles paga pelo curso tanto quanto pago eu por um doutoramento. Chegam muitas vezes às pinguinhas, atrasados, tanto para o início da aula, como depois do (enorme) intervalo, têm necessidade de sair mais cedo (sempre), ou às vezes de não vir ao uma segunda parte da aula. Apesar de cada um deles pagar tanto quanto pago eu por um doutoramento. No meio disto tudo é uma fantasia falar da capacidade indispensável do actor se conter, que é assim que começa a arte do actor, pois ele é o seu material.
No meio disto tudo ir falando de coisas e ir dando a experimentar coisas é uma evolução extraordinariamente lenta: recomeçando cada semana, às vezes recomeçando a cada parte da aula. Não admira que até agora ninguém tenha ido a Itália ter tido aulas com Bogdanov além de mim - ninguém está preparado, nem para aí virado. Essa é a escala em que trabalho. Estamos todos ainda no nível dos workshops ligeiros. A cada semana recomeço, uns centímetros mais adiante somente. É claro que com a taxa de atrasos e faltas em alguns casos é recomeçar do quase zero - porque algum aluno se lembrou de não aparecer quando as regras estavam a ser ou explicadas ou assimiladas.
A minha professora Polina Klimovitskaia dizia que dava aulas para quem lá estava. Eu tenho repetido essas mesmas palavras. Mas a verdade é que arrelia. Arrelia olhar para uma turma e estarem menos 7 ou 8 alunos. Arrelia ouvir o recado de que "fulano ou fulana vai chegar atrasado/a", arrelia explicar aos alunos que numa aula de quatro horas se por acaso não vêm à segunda parte não posso considerar a sua presença. Arrelia e a culpa de me arreliar é só minha. Arrelia mas a responsabilidade apesar de tudo não é dos pais, da escola ou da geração: é de cada um dos alunos. De cada um deles porque cada um é responsável pelos seus actos. E só encarando-os assim se pode ministrar um ensino de responsabilidade.
Agora voltando ao pastoreio: sei de facto que agora sei mais coisas do que quando comecei a dar aulas, sei de facto que agora sei muitas mais coisas do que quando comecei a estudar, sei até que sei mais coisas que muitos dos meus professores. Sei técnicas, conheço princípios e domino como criador muitas coisas. Isto adianta alguma coisa nos tempos que correm? Se vocês tiverem uma taxa de faltas de 50 ou 40% esse conhecimento, esse pastoreio vai por água abaixo porque na verdade se aprende em grupo fruto da responsabilidade individual. Porque a falta não é apenas do corpo, mas da atenção. Ou arranjo maneira de os alunos estarem vigorosamente envolvidos em alguma tarefa ou instala-se o tédio, os corpos começam a vergar-se, a querer sentar-se. Isto é primário. Aceito isto numa primeira aula, depois não.
Portanto o que sei (e disse que sei) serve às pinguinhas e às pinguinhas vamos avançando. Um dia pastoreio um grupo, no outro dia é outro grupo. Avanço pouquinho e eles avançam pouquinho, pagando 10 vezes mais que o que eu pago em Itália para eu avançar 10 vezes mais.
A vida é assim. Percebo que eu como criador sou uma coisa aparte do que sou como professor, que o que adquiri como actor serve só um pouquinho o que devo fazer adquirir como professor. Porque tudo tem que ser muito diluído. Como quando se dá algum bom nutriente a crianças se dilui de modo a ser mais digerível, ou agradável. Pouco a pouco. Porque não estão preparados.
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Tuesday, May 24, 2011
O fim do pastoreio?
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