Em 2004, por altura do apogeu televisivo, audiências e C.ª de Herman José e do programa Herman SIC, surgia uma dúvida - que lhe teria acontecido?:
Que te aconteceu Herman?
Vi-te na televisão ainda no outro dia e continuo sem te reconhecer. Lembro-me de ti quando ainda eras Herman José. Não compreendo porque deixaste de ser Herman José. Agora tens um programa com o teu nome e o cabelo pintado de amarelo. Mas tudo mudou e tu, se calhar, até pensas que não. No outro dia pareceu-me mesmo que acreditavas que o ovo ainda estava no cu da galinha. Mas já não está pois não Herman? A tua confusão deve vir daqueles anos em que deixaste de ser Herman José. Não foi há muito tempo, eu recordo bem a mudança. Tu continuas a sorrir mas sei que sabes já não ser Herman José. E eu tenho pena, é que a minha geração admirava-te. Fazias coisas tão boas que nos nossos afectos estavas sempre ao lado dos melhores e acredita, éramos exigentes.
Enfim, isso foram outros tempos não é? Agora os nossos caminhos separaram-se e tu preferiste deixar de ser Herman José.
Eu até compreendo que deveria ser complicado manter uma carreira como Herman José, a criatividade nunca é fácil. Mas que te aconteceu Herman? Poderias muito simplesmente ter ido embora - eras uma diva e não foste embora como as divas fazem quando percebem que o seu tempo está a acabar. Ficaste e mais programa menos programa foste transformando em pó e em memórias vídeo tudo o que tinhas feito. Tornaste-te Televisão. Agora olho para ti e não te reconheço, tens um programa com o teu nome, dura duas horas, é em horário nobre, tens muitos convidados e uma equipa que trabalha contigo há anos mas no teu caso isso tudo só quer dizer que te tornaste numa instituição. E todos nós sabemos que as instituições não têm graça.
Finalmente compreendo porque não te tenho reconhecido: Herman José agora é museu.
Mas tu, quando acaba o teu programa e vais para casa, tu pensas nisto não pensas? Pensas naquilo que se perdeu, não pensas? De certeza que pensas nas razões que te levaram a deixar de ser actor para ser um colaborador, e com certeza que deves lembrar-te que ser colaborador está muito próximo do traidor. Traíste o teu génio não foi? Vendeste tudo ao desbarato e agora o máximo que se pode dizer de ti é que foste Herman José: quando decidires acabar a tua carreira far-te-ão uma daquelas festas de despedida transmitidas em directo dizendo que se vai embora um homem que em tempos tinha sido Herman José.
E por enquanto, que fazer? Aguentar e vender a agenda da tua estação, não é? Fora isso és apenas mais um em mais um canal, o que é igual a nada. Falas, sorris, dizes coisas, convidas gente que toda a gente conhece, convidas a metade do mundo que pertence ao canal onde trabalhas, convidas estrelas estrangeiras com quem falas com pronúncia e que traduzes truncado para seres engraçado. Mas até tu sabes que há uma diferença entre ter graça e ser engraçado não é?
E o que é mais estranho num homem que foi Herman José é que acreditas tu e a tua equipa que o ovo ainda está no cu da galinha. Mas alguém deveria avisar-te que Herman José se transformou num estúdio de televisão - as gargalhadas no estúdio são sempre garantidas, são como as palmas: de lata.
Antes lutavas por conquistar um país, entretanto preferiste comprar um mundo do tamanho de um estúdio. Pois bem, esse mundo de aluguer é teu, faz dele o que quiseres, poderás envelhecer o teu elenco aí dentro. Poderás fazer mais entrevistas aos teus patrões, poderás fingir ter graça, poderás até inventar uma piada um dia. E sossega, entretanto, poderás distraír tranquilamente toda a gente do facto de teres sido Herman José e agora seres só mais um apresentador de televisão.
Nuno Meireles

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