Tuesday, March 31, 2009

Censo Quase Sociológico da Cretinice

Há uns anos largos, estávamos nos primeiros anos de um curso superior de teatro, num tempo suficientemente longínquo para ser outro tempo, tivemos aulas com uma mestra do teatro: Polina Klimovitskaya.

Era uma grande senhora russa, encenadora, professora de criatividade do actor.

As suas aulas eram diferentes de tudo porque se baseavam em estímulos como animais ou até mesmo nas suas histórias ou nas histórias dos mestres russos que a antecediam.

Fazia assim uma ponte entre a história do teatro e a nossa pequena cidade do Porto - cidade em tudo só um pouco maior que as outras pequenas.

Esta professora orientava processos estranhos e longos, especialmente longos, e nunca como ali se via algum aluno a fazer algo que se separasse tanto da expressão mais evidente da sua personalidade, expressão que seria o ponto alto expectável em outras ocasiões, em outras aulas.

As suas eram aulas estranhas mas eram aulas onde acontecia sempre qualquer coisa, de onde saíamos diferentes, e sempre com a palavra arte especialmente sublinhada nas nossas cabeças.

Ora bem, esta professora não deixava de ser alvo de cretinice: adolescentes acabados de entrar numa escola a achar que na sua opinião de jovens - com a frequência de, no máximo, workshops ou encenador regional com carisma regional - aquilo devia ser de outro modo ou estava errado ou era místico demais ou o diabo a quatro. Temos então jovenzitos que falam desabridos com especial propriedade na sua in-cri-vel-men-te infundamentada opinião com uma senhora com idade para ser sua mãe, professora e directora de actores em vários países, doutorada por Yale, russa a falar de coisas russas que só poderíamos conhecer de livros e, em especial, dona de uma pedagogia sempre positiva e da imaginação do actor e do aluno.

E é este o ponto em que podemos afirmar, no nosso censo quase sociológico, que existe muita cretinice. Existe e existe e existe.

E se existia para esta mestra, infelizmente não podemos esperar outra coisa na nossa vida de professores, meros mortais que somos.



Polina dava sempre respostas inteligentes como mulher inteligente que era, tenhamos esperança de o tempo nos ensinar essa sabedoria e graça de espírito.

Ditulis Oleh : Unknown // 2:15 AM
Kategori:

0 comments:

Post a Comment

 

Blogger news

Blogroll

About