Ontem no funeral livros seus eram erguidos para o caixão que passava.
Hoje a selecção nacional de futebol joga em luto por José Saramago:
jogadores de um pais manifestam luto pela morte de um seu escritor.
Podiam perder pelos golos que fosse mas nunca me senti tão orgulhoso do meu país.
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Monday, June 21, 2010
morreu José Saramago
Sunday, June 20, 2010
Tresler - o caso do interlocutor vesgo e mouco
A "Que engraçado. Lá fora está um burro à porta."
B "O quê? eu sou um burro?"
A "Não, não é nada disso, eu dizia que lá fora está um burro à porta."
B "Hâ? então eu sou que nem uma porta?"
A "De maneira nenhuma, estava a dizer que lá fora está um burro à porta!"
B "Ai então depois de me chamares burro que nem uma porta ainda me pôes daqui para fora?"
A "Não! Eu dizia... é que... Olha esquece, és mesmo burro."
(Antes esta alegoria que a morosa análise comparativa de argumentos/contra-argumentos que nos levaria às mesmas conclusões.)
Provas de acesso de teatro - o caso de X
X quer concorrer às provas de acesso para uma escola (superior) de teatro.
Para se concorrer a estas provas não é requerida oficialmente aprendizagem anterior (como em música por exemplo).
X portanto apresenta-se sem formação anterior e
- nunca tinha feito teatro senão no secundário, pontualmente
- não lia teatro, pois não apreciava
- a última peça de teatro que tinha visto tinha sido numa visita de estudo há mais de um ano, e não sabia nome da companhia ou encenador
- não conhecia sequer grupos ou companhias de teatro da cidade onde se candidatava
X está a arriscar um massacre.
Mas este caso é comum, talvez demasiado comum.
Para lá de pensarmos o que move X a concorrer a algo com que não tem a mínima relação, podemos pensar que o modo de evitar alguma má experiência nas provas em que apontarão estas e outras falhas que decorrem delas é imaginar maneiras de reverter todos os nãos em sins, até às provas:
- ter feito teatro
- ler teatro
- ver peças de teatro
- conhecer grupos ou companhias de teatro da cidade
o resto decorre disto, e é treino pessoal.
Pachorra
Este blog foi criado e alimentado para produzir teoria/informação/cultura dentro do campo específico do "jogo, jogo dramático, expressão dramática e teatro".
Mas às vezes não há pachorra para com diálogos de surdos que ocasionalmente derivam daqui. Já é muita palavra aqui martelada para ter que explicar o explicado, a ensinar tudo desde a base.
Às vezes apetece esquecer tudo de teorias e referências e cultura, e fulanizar tudo, ou pessoalizar - se preferirem.
Às vezes apetece pensar que realmente merecemos todos estar entregues à ignorância.
Às vezes apetece entregar ao lugar-comum e dizer coisas como "muito orgânico" e "há-que ter energia" e aplaudir miúdos que criam estilos ou técnicas.
Às vezes apetece dizer essa coisa de "é tudo muito subjectivo" e marimbar.
Às vezes apetece aceitar a canga e pensar que a ignorância aqui é patológica, pandémica e incurável.
As autoridades
No outro dia numa discussão qualquer no parlamento um deputado respondia à acusação (grave) de outro, não com argumentos, não com refutações, não com justificações, não com correcções dos factos , mas com um brilhante "Mas que autoridade tem você?"
Ficou-se por aí a elevação intelectual da resposta.
Se os nossos parlamentares fazem isso porque não o há-de fazer qualquer pimpolho face a uma crítica?
É fácil, é barato, e fica-se orgulhosamente na mesma - com a vantagem extra de nos podermos sorrir todos para os da nossa bancada, que nos aplaudirão não a sagacidade, ou o raciocinio, ou a correcção de carácter, mas ter derrubado o tabuleiro da discussão mesa abaixo.
Uma treta.
Saturday, June 19, 2010
Kata
Vejam como o Mestre Masatoshi Nakayama interpreta este kata
(a ver isto percebemos bem que não está isenta a imaginação ou a emoção a par com o cuidado do pormenor numa forma imutável)
e visitem este site de kata
Thursday, June 17, 2010
O meu amigo Zé, o melhor encenador do mundo
O Zé é o melhor encenador do mundo! (quem é o Zé?)
É que o Zé é fantástico! (quem é o Zé?)
Pá, o Zé é mesmo fixe, pra mim é o melhor encenador do mundo! (quem é o Zé?)
A minha sensibilidade é que me diz que o Zé é espetacular! (quem é o Zé?)
Pra mim o teatro é essa cena que o Zé faz - eu e ele até já falámos uma vez quando fomos tomar um copo - e ele pá diz que o teatro é a gente sermos... sabes? sermos... o que somos! (quem é o Zé?)
Pra mim o teatro é uma cena subjectiva, é como o Zé diz, é tudo muito subjectivo (quem é o Zé?)
Se é uma cena subjectiva eu nem tenho que saber nada de nada, não é? Só preciso de andar com o Zé que ele dá-me umas luzes (quem é o Zé?)
Uma amiga minha estuda música, mas como não é uma cena subjectiva como a nossa,´tás a ver?, eu mete-me um pouco de impressão, e um amigo do Zé está na dança mas eu dançar é mais na disco e essa cena de treinar faz-me comichão (quem é o Zé?)
No outro dia estávamos na boa, eu e o Zé, e até discutimos sobre as nossas cenas, mas terminou tudo em bem porque a gente sabe que isto é tudo subjectivo e que se formos a dizer o porquê a gente mata a nossa sensibilidade (quem é o Zé?)
Essa minha amiga que está na música passa a tarde toda a estudar lá o clarinete ou o que for, mas nisto eu tou como o Zé - o teatro é uma cena que se inventa a cada dia, é uma cena diferente (quem é o Zé?)
Lá o amigo do Zé tem o mesmo professor de dança há anos e eu até falei isto com o Zé - essa cena é um pouco obsessiva, porque eu gosto é de cenas diferentes e não quero que ninguém me formate - o Zé disse que ele também não quer e que é por isso que ele prefere fazer as descobertas dele sozinho (quem é o Zé?)
Porque eu o Zé sabemos que a sociedade mata-nos, por isso temos que lutar pelo nosso espaço, porque senão a sociedade mata a minha maneira de sentir (quem é o Zé?)
E essa cena do professor de dança é muito ditatorial, tás a ver? porque ele diz ao amigo do Zé cenas do género tens que fazer assim e fazer assado, mas pra mim isso já não se usa porque no teatro temos cada um de fazer a sua cena, se me dissessem cenas assim isso matava a minha sensibilidade e eu bloqueava (quem é o Zé?)
E a outra cena da minha amiga, eu pergunto-lhe mas tu não ficas cansada? ela diz que sim mas ainda não estudou o suficiente - eu acho que isso é um bocado de marados. O Zé diz que isso mata a sensibilidade e é verdade e não é a minha cena (quem é o Zé?)
A minha cena é manter a minha espontaneidade e se for agora a explicar muito, isso mata-a, e uma pessoa não pode mexer muito na espontaneidade é que isso só dá cabo da cabeça a uma pessoa, e pra mim o teatro é essencialmente essa cena pá de uma vida mais intensa, é isso! é viver tudo de uma maneira mais intensa, tás a ver? é ser assim como Zé, um granda maluco (quem é o Zé?)
É que o teatro é mais intuitivo que a música ou a dança, é uma cena mais espontânea -a gente fala um pró outro e já é teatro, não precisamos de estar a martelar como essa minha amiga do clarinete ou o que for, ou o amigo do Zé, lá no estúdio com o professor dele (quem é o Zé?)
- até me tou a lembrar que a minha amiga do clarinete ou o que for foi pra uma escola porque lá tinha o professor não sei das quantas. É mesmo marado, até o Zé diz que a gente tem que descobrir as cenas por nós próprios e que não devemos ser cópias de ninguém (quem é o Zé?)
Eu até acho que essa cena de querer ser ensinado lá pelo professor não sei das quantas é uma cena tipo edipiana, porque até parece que se quer um paizinho! hi hi hi! Disse isto ao Zé e ele disse que eu tinha razão (quem é o Zé?)
A minha cena sabes a minha cena é um bom ambiente porque senão eu não consigo criar e isso mata a minha sensibilidade e até o Zé me disse pra não deixar que me metessem coisas na cabeça (quem é o Zé?)
Wednesday, June 16, 2010
Ser profissional
Ser profissional é quando se tem um patamar alto de exigência. É um comportamento activo. É considerar como prioritário o seu trabalho e agir activamente e com todos os meios para essa prioridade.
Tudo o que não seja em direcção a essa prioridade é não profissional: distracções, desleixos, humores, descontrolos ou problemas pessoais.
O objectivo de cada artista é ser profissional e dizer "eu serei profissional nesta tarefa que projecto/tenho/me incumbiram".
Ser profissional é estar pronto e preparado. É encarar a sua tarefa como a coisa mais importante do mundo.
Ao ver desleixos, esquecimentos, atrasos, distracções, desculpo sempre o(s) seu(s) autor(es) com um sorriso de comiseração pois a verdade é que nem todos querem ser profissionais.
E aqui, mais que a treta do divino talento, é que se fará a triagem dos que vencerão pela sua qualidade.
Recomendo este vídeo que entre outras coisas falará também disto:
"Problemas pessoais"
Toda a gente tem problemas pessoais:
o cão morreu
a impressora morreu
o autocarro morreu
o leite estava estragado
o pé torceu
o despertador não tocou
o avô fez anos
toda a gente tem problemas pessoais que
a) são perfeitamente legítimos e compreensíveis
b) não interessam absolutamente a ninguém
Quando alguém não chega a horas ou falta a um ensaio, aula, reunião, há sempre um problema pessoal. Que não interessa a ninguém.
Não interessa e não é para se dizer. Porque pura e simplesmente não interessa.
Tenho reparado que toda a gente que chega atrasada - pois a sua vida pessoal tornou-se de repente mais prioritária que o compromisso de trabalho - tem uma pulsão irreprimível de partilhar a razão do seu atraso, falta, desleixo.
Chega a ser comovedor mais a necessidade de partilhar que o próprio motivo partilhado. Como se houvesse essa coisa a dizer ou se rebentava. É impressionante.
Mas, por mais que haja essa pulsão, eu não quero ouvir nem falar de problemas pessoais.
Não quero saber porque não estão todos na sala, não quero saber porque não se começa à hora, não quero saber porque se tem que sair mais cedo. Não quero saber e concluo sempre - sempre - que a pessoa não sabe resolver os seus problemas pessoais. Então não é profissional.
Wednesday, June 9, 2010
Técnica vs. Estilo - "Droga d´Amor" encenação de Richard Stourac
(Declaração de interesse - ou seja, não sou inocente à partida: está tudo no meu perfil e em posts diversos sobre técnica e apologia de especialistas.)
Droga d´Amor, ontem, foi uma surpresa para mim. E, digamo-lo assim, uma surpresa com um humor que o próprio exercício não teria previsto.
Como é que depois de ter escrito sobre Biomecânica fajuta me aparece mesmo à frente um maravilhoso exemplo disso?
Começou ontem o espectáculo com um Ètude de Biomecânica chamado A Bofetada, que só posso depreender tenha sido aprendido por vias muito ínvias porque até neste exemplo é mauzinho mas ao menos sabem o que fazer com as mãos.
Depois vinha a Commedia dell´Arte talvez(im)propriamente chamada, para a improvisação "como no Jazz".
Aos espectadores atraía muito a estrutura do espectáculo - sempre um guião diferente "recebido às 10 da manhã". A mim não me impressiona nem um pouco, porque não me interessa saber das habilidades ou dos processos (aquilo a que Declan Donnellan chama a parte "invisível" de um espectáculo), interessa-me divertir-me ou comover-me. Esse pormenor do guião e das 10 horas para mim é o equivalente à admiração de espectadores sobre o muito texto e páginas que se decorou. É acessório.
Esse estado de alerta não ajudou os actores. Podiam até ter recebido o guião às 4 da manhã numa folha de ouro mas isso não os faria ter a técnica que deveriam ter e não tinham. Porque não lhes ensinaram.
Por isso o que era anunciado como Commedia dell´Arte era na verdade "à maneira de" Commedia dell´Arte. Era um estilo e não uma técnica.
Ora vejamos - no Il Servitore di Due Padroni, encenação de Giorgio Strehler, o actor do Arlequim disse ter encontrado a voz da sua personagem ao fim de a representar 3 anos - é claro que na carreira de 30 anos a fazer este espectáculo Ferruccio Soleri pode ir improvisando "como no Jazz". Mas para isso foram precisas três décadas!
O pobre coitado não podia impressionar ninguém por todos os dias fazer um guião que Strehler lhe entregaria às 10 da manhã... O pobre coitado deste actor só - coitadinho - podia impressionar com a mestria de uma técnica e de uma arte... Coitadinho...
E aqui voltamos à questão do estilo vs. técnica - se é para dar umas luzes de alguma técnica por favor não se faça um espectáculo porque fica sempre aquém e é-se sempre comparado não com o aluno do lado ou com o espectador menos hábil ainda mas com os Feruccios Soleris deste mundo;
Se é para aprender uma técnica por favor chamem quem a domine e não quem faça estilo Commedia dell´ Arte ou estilo Biomecânica;
Se é para aprender uma técnica por favor não a mostrem senão criando e representando - apresentar um Ètude de Biomecânica antes de um pretenso espectáculo não é somente errado mas se for mal feito (como foi) torna-se vergonhoso.
Até Gennadi Bogdanov - este sim mestre - fervoroso técnico, diz da Biomecânica ser "uma técnica do actor, para ajudar o actor a criar, a organizar a sua representação, não deve ser evidente para o espectador."
Agora imaginem o que ele diria se soubesse que um encenador alemão colocou um Ètude antes de um espectáculo. E ainda por cima um Ètude tão mal feito que posso dizer de certeza que o professor terá aprendido deste homem, ou quejandos. E ensinado da mesma maneira.
Tuesday, June 8, 2010
Workshop de Commedia dell´Arte com Fabrizio Paladin
ÓPTIMA OPORTUNIDADE DA TERRA NA BOCA!
Introdução à Commedia dell’Arte, historial e estrutura deste género teatral. As máscaras de Commedia dell’Arte: apresentação das principais máscaras e personagens. Exercícios com máscara: escolha de uma personagem tipo e treino para a sua representação.
Composição e criação de novas personagens.
Fabrizio Paladin é actor, dramaturgo, encenador, músico e compositor italiano.
Recebeu o Prémio “Omaggio a Giorgio Gaber” de melhor talento em Música e Teatro de 2004 e é autor do livro O Teatro e a Máscara.
Especialista em Commedia Dell’ Arte e Improvisação.
28 a 2 Julho e 5 a 9 Julho
10:00-13:00 e 15:00-19:00 (70h)
Centro de Formação Cultural do Contagiarte, Rua Álvares Cabral, 360 - Porto
Preço: 200€. Amigo Terra na Boca: 180€
Mínimo: 12 pessoas. Máximo: 15
http://terranaboca-associaocultural.blogspot.com/
Saturday, June 5, 2010
Cursos Superiores de Teatro em Portugal
Para quem esteja à procura, aqui estão. Uns com e outros sem concurso local (provas de acesso).
Concorrer aos Nacionais sem ter experimentado a modalidade - o caso das provas de acesso em Teatro
Imaginemos que eu me encontrava a escolher um desporto. Digamos o Judo, por exemplo. Um dia digo para comigo "Vou fazer Judo" e... vou imediatamente concorrer aos Campeonatos Nacionais...
O que está errado aqui?
Nunca lutei com ninguém, nem sequer comecei pelos meus colegas de clube para depois participar em torneios amigáveis, e depois competições a sério, para enfim competir a nível nacional onde vem gente de todos os lados com excelentes preparações, forma física e técnica.
Não sei sequer as regras, não conheço o fato, nem sei como vencer ou muito menos como evitar magoar-me. Sou inconsciente.
O mesmo se aplica às provas de acesso de Teatro nas Escolas Superiores, que são, em importância simbólica, o equivalente aos Campeonatos Nacionais:
- quantos não concorrem sem ter antes sequer a experiência de um pequeno clube(grupo de teatro), sem terem nunca lutado (representado em público) nem com os parceiros do clube (ou de um círculo pequeno de amigos e conhecidos) muito menos com outros clubes (uma plateia des espectadores desconhecidos)?
- quantos pensam "Teatro!" sem terem ideia de que isso envolve o corpo e a voz e não uma qualidade mística que ou estará inscrita nos genes ou se verá relampejando nos olhos?
É que as provas são exigentes.
E o júri vai ver, ouvir e falar com muitos; vai comparar entre os que vê e os dos anos passados; vai até comparar consigo (Pierre Bourdieu dixit); vai perder a paciência ao terceiro ou quarto candidato manifestamente mal preparado ou inconsciente. E não passam.
Mas, se estes candidatos forem inteligentes, e se isto não tiver sido leviandade, levarão o ano que dista até às próximas provas a munir-se de experiências.
