Wednesday, June 9, 2010

Técnica vs. Estilo - "Droga d´Amor" encenação de Richard Stourac

(Declaração de interesse - ou seja, não sou inocente à partida: está tudo no meu perfil e em posts diversos sobre técnica e apologia de especialistas.)


Droga d´Amor, ontem, foi uma surpresa para mim. E, digamo-lo assim, uma surpresa com um humor que o próprio exercício não teria previsto.

Como é que depois de ter escrito sobre Biomecânica fajuta me aparece mesmo à frente um maravilhoso exemplo disso?

Começou ontem o espectáculo com um Ètude de Biomecânica chamado A Bofetada, que só posso depreender tenha sido aprendido por vias muito ínvias porque até neste exemplo é mauzinho mas ao menos sabem o que fazer com as mãos.

Depois vinha a Commedia dell´Arte talvez(im)propriamente chamada, para a improvisação "como no Jazz".

Aos espectadores atraía muito a estrutura do espectáculo - sempre um guião diferente "recebido às 10 da manhã". A mim não me impressiona nem um pouco, porque não me interessa saber das habilidades ou dos processos (aquilo a que Declan Donnellan chama a parte "invisível" de um espectáculo), interessa-me divertir-me ou comover-me. Esse pormenor do guião e das 10 horas para mim é o equivalente à admiração de espectadores sobre o muito texto e páginas que se decorou. É acessório.

Esse estado de alerta não ajudou os actores. Podiam até ter recebido o guião às 4 da manhã numa folha de ouro mas isso não os faria ter a técnica que deveriam ter e não tinham. Porque não lhes ensinaram.

Por isso o que era anunciado como Commedia dell´Arte era na verdade "à maneira de" Commedia dell´Arte. Era um estilo e não uma técnica.

Ora vejamos - no Il Servitore di Due Padroni, encenação de Giorgio Strehler, o actor do Arlequim disse ter encontrado a voz da sua personagem ao fim de a representar 3 anos - é claro que na carreira de 30 anos a fazer este espectáculo Ferruccio Soleri pode ir improvisando "como no Jazz". Mas para isso foram precisas três décadas!

O pobre coitado não podia impressionar ninguém por todos os dias fazer um guião que Strehler lhe entregaria às 10 da manhã... O pobre coitado deste actor só - coitadinho - podia impressionar com a mestria de uma técnica e de uma arte... Coitadinho...

E aqui voltamos à questão do estilo vs. técnica - se é para dar umas luzes de alguma técnica por favor não se faça um espectáculo porque fica sempre aquém e é-se sempre comparado não com o aluno do lado ou com o espectador menos hábil ainda mas com os Feruccios Soleris deste mundo;

Se é para aprender uma técnica por favor chamem quem a domine e não quem faça estilo Commedia dell´ Arte ou estilo Biomecânica;

Se é para aprender uma técnica por favor não a mostrem senão criando e representando - apresentar um Ètude de Biomecânica antes de um pretenso espectáculo não é somente errado mas se for mal feito (como foi) torna-se vergonhoso.

Até Gennadi Bogdanov - este sim mestre - fervoroso técnico, diz da Biomecânica ser "uma técnica do actor, para ajudar o actor a criar, a organizar a sua representação, não deve ser evidente para o espectador."

Agora imaginem o que ele diria se soubesse que um encenador alemão colocou um Ètude antes de um espectáculo. E ainda por cima um Ètude tão mal feito que posso dizer de certeza que o professor terá aprendido deste homem, ou quejandos. E ensinado da mesma maneira.

Ditulis Oleh : Unknown // 11:41 PM
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