Meus amigos, esta não é só uma iniciativa peregrina de Luciano Amarelo e Terra na Boca, como uma oportunidade única de se contactar em primeira mão - e finalmente - com Filipe Crawford, Nuno Pino Custtódio e outros, e uma técnica onde a precisão, a regra e a organização ajudam a criatividade do actor.
"TÉCNICA DA MÁSCARA
A Técnica da Máscara é um sistema de aprendizagem da arte de representar onde a utilização da máscara dita um conjunto de leis e regras, criando uma metodologia concreta ao serviço do actor. Inspirando-se na herança Ocidental do Teatro Grego e da Commedia dell’Arte, a Técnica da Máscara tem na sua origem o trabalho desenvolvido por alguns encenadores e pedagogos de Teatro do séc. XX, como Jacques Copeau ou Jacques Lecoq em França ou Giorgio Strehler em Itália, que foram responsáveis pela recuperação do teatro de máscaras, tendo desenvolvido e apurado uma técnica para o actor que conta hoje em dia com vários seguidores em todo o mundo.
Amigos Terra na Boca
Se quiser fazer parte da lista de amigos Terra na Boca e usufruir de 10% de descontos em todas as acções de formação e 50% no valor de todas as entradas para todos os tipos de eventos, terá de enviar-nos o seu BI digitalizado, com o seu nome e contacto (email/telemóvel) para: terranaboca@gmail.com
Valor de inscrição por quadrimestre – 20€
Valor de inscrição anual – 50€
Terra na Boca e o seu Centro de Formação Alternativo Permanente em parceria com a
ACE/Teatro do Bolhão e o Centro de Formação Cultural/Contagiarte
propõe:
Estágio completo de Técnica da Máscara, Oficina de Dramaturgia Tribal e Ciclo de Terapias e Bem-estar (Janeiro a Maio)
Janeiro
- Dia 16 (e dia 6 de Fevereiro) – 1º nível de Reiki – Shoden com José Pedras. 11h-20h (16 horas). Valor: 125€ (com direito a manual e diploma). ACE/Teatro do Bolhão, Praça Coronel Pacheco, 1.
Esta técnica de cura proporciona um bem-estar holístico ao alcance de qualquer pessoa. O Reiki é uma filosofia de vida que permite encontrar o caminho da felicidade, da saúde e da tranquilidade. No primeiro nível (Shoden) fica imediatamente apto a usar esta Energia para o seu auto-desenvolvimento purificando o organismo e desintoxicando os canais, podendo amplificar o processo de auto-cura do corpo.
Mínimo: 6 pessoas. Máximo: 12 pessoas. Inscrições até dia 10 de Janeiro.
- Dias 16, 17, 23 e 24 – Dramaturgia Tribal - Workshop de exploração da imaginação simbólica com Jorge Palinhos. 14h30-19h30 (20 horas). Valor: 75€. ACE/Teatro do Bolhão, Praça Coronel Pacheco, 1.
Este workshop pretende explorar a escrita dramática através dos símbolos, dos ritos e dos mitos que regem invisivelmente a nossa vida. Com base em estudos mitológicos, antropológicos, semióticos e textuais, os participantes farão vários exercícios que lhes permitam mergulhar na sua mitologia pessoal e compreender quais as histórias que querem contar e o que é que as histórias significam para si.
Público-alvo: estudantes e profissionais de teatro e todos os interessados em escrita criativa e dramática.
Dia 24 pelas 19h30 – Leitura aberta ao público, de entrada livre, com a colaboração de actores profissionais.
Mínimo: 8 pessoas. Máximo: 15 pessoas. Inscrições até dia 13 de Janeiro.
- De 25 a 29 – 1º Estágio – Preparação à Máscara com Filipe Crawford. 10h-13h/15h-18h (30 horas). Valor: 250€. Centro de Formação Cultural/Contagiarte, Rua Álvares Cabral, 360.
Introdução à Técnica da Máscara. Exercícios de preparação à arte da representação. Trabalho do corpo e do movimento. O olhar, o gesto e a presença cénica. Trabalho dos coros da tragédia grega. Introdução à técnica da improvisação. Estágio de Iniciação, ideal para quem não tem conhecimentos de trabalho teatral.
Mínimo: 12 pessoas. Máximo: 15. Inscrições até dia 17 Janeiro.
Fevereiro
- Dias 13 e 14 - Introdução à técnica da Máscara com Nuno Pino Custódio. 10h-13h/ 15h-19h (14h). Valor: 80 euros. Academia Contemporânea do Espectáculo/Teatro do Bolhão, Praça Coronel Pacheco, 1.
Exercícios e "regras básicas" de um sistema de interpretação com máscara. O Jogo do Círculo (um exercício-ritual ou uma espécie de pré-encenação, onde se comunica através de regras, que faz a transição para a representação propriamente dita e consequentemente para o uso de máscaras). Evolução da técnica, no sentido de torná-la cada vez mais cultural no corpo de cada um e em colectivo.
Mínimo: 12 pessoas. Máximo 15. Inscrições até dia 7 de Fevereiro.
- Dia 20 - Conferência sobre a Técnica da Máscara com Filipe Crawford, 17h. (Preço a confirmar). Villa Community, Travessa dos Congregados, 64.
Breve síntese histórica do surgimento deste método de formação de actores. Alguns apontamentos sobre a máscara, do ritual ao teatro. Apresentação de algumas máscaras: a Máscara Neutra, origem e funções; as Máscaras Expressivas e as Máscaras Larvares; as Máscaras de Commedia dell’Arte. Pequena história da Commedia dell’Arte. Exercícios demonstrativos.
A conferência tem a duração de 1 hora, seguindo-se 30 minutos de debate e questões.
- De 22 a 26 - 2º Estágio – Máscaras Neutras, Expressivas e Larvares com Filipe Crawford. 10h-13h/15h-18h (30 horas). Valor: 250€. Centro de Formação Cultural/Contagiarte, Rua Álvares Cabral, 360.
Introdução ao trabalho gestual, mímica e pantomima. A Máscara Neutra como máscara base do trabalho teatral. Exercícios de representação com Máscaras Neutras, Expressivas e Larvares. Estágio que se pressupõe ser uma continuidade do Estágio de Iniciação.
Mínimo: 12 pessoas. Máximo: 15. Inscrições até dia 14 de Fevereiro.
- Dia 27 (e dia 6 Março) - Curso de Cristais com José Pedras. 14h-19h (10h). Valor: 250 € (inclui manual de cerca de 120 páginas ilustrado). ACE/Teatro do Bolhão, Praça Coronel Pacheco, 1.
Este curso é dirigido essencialmente à exploração da energia dos cristais, aplicando-os à cura energética e ao desenvolvimento pessoal. Serão abordados, entre outros, os seguintes temas: escolha do cristal pessoal; limpeza, energização e programação de cristais; "personalidade" de cada pedra; teoria da cor; formas e usos; mandalas de cristais (pessoais e para o lar/espaços de trabalho); massagem com cristais; meditação com cristais; limpeza de ambientes; limpeza aurica; como identificar o uso de cada cristal; os cristais e os signos.
Mínimo: 10 pessoas. Inscrições até dia 21 de Fevereiro.
Março
- De 15 a 19 / 22 a 26 - 3º Estágio – Workshop de Commedia dell’Arte com Fabrizio Paladin. 10h-13h/15h-19h (70 horas). Valor: 415€. Centro de Formação Cultural/Contagiarte, Rua Álvares Cabral, 360.
Introdução à Commedia dell’Arte, historial e estrutura deste género teatral. As máscaras de Commedia dell’Arte: apresentação das principais máscaras e personagens. Exercícios com máscara: escolha de uma personagem tipo e treino para a sua representação. Composição e criação de personagens.
Dia 26 pelas 19h - apresentação pública do trabalho dos alunos sob a forma de espectáculo.
Mínimo: 12 pessoas. Máximo: 15. Inscrições até dia 28 de Fevereiro.
- Dia 20 (e dia 11 Abril) – 2º nível de Reiki – Okuden com José Pedras. 11h-20h (16 horas). Valor: 180€ (manual e diploma incluído). ACE/Teatro do Bolhão, Praça Coronel Pacheco, 1.
No Okuden, segundo nível de Reiki, são ensinadas várias técnicas que aumentam a capacidade de transmitir a Energia Universal. Através de símbolos que são sintonizados no aluno, fica aberta a capacidade de enviar Reiki à distância, tratar desordens emocionais e ajudar na mentalização de objectivos. O praticante torna-se então mais activo no uso da Energia podendo ajudar outros a restabelecer o seu equilíbrio.
Mínimo: 4 pessoas. Máximo 10. Inscrições até dia 14 de Março.
Abril
- Dia 12 a 16 – Da Máscara Neutra à Máscara Expressiva: A Comédia Humana com Sofia Cabrita. 10h-13h/15h-17h (25 horas). Valor: 215€. Centro de Formação Cultural/Contagiarte, Rua Álvares Cabral, 360.
Motivando o jogo com a técnica, é objectivo geral desta formação a aprendizagem das regras relacionadas com o uso de uma máscara em cena, o reconhecimento do potencial dramático de cada tipo de máscara e a sua experimentação através da improvisação, da análise de movimento e do treino técnico do corpo e voz.
Número mínimo: 12 pessoas. Número máximo: 15. Inscrições até dia 28 de Março.
- Dia 18 - Curso de Chacras com José Pedras. 14h-19h (5 horas). Valor: 25€. ACE/Teatro do Bolhão, Praça Coronel Pacheco, 1.
Tantas vezes ouvimos falar de chacras, às vezes temos até alguma noção do que são, mas será que os conhece a fundo? Saiba para que serve cada um dos sete chacras principais e ainda o oitavo chacra. (…) Serão feitos exercícios para poder sentir a energia individual destes centros energéticos, podendo assim caminhar no despertar da Kundalini.
Mínimo 10 pessoas. Inscrições até dia 11 Abril.
Maio- De 3 a 7 - 4ª Estágio - Máscaras de Bali com Filipe Crawford. 10h-13h/15h-18h (30 horas). Valor: 250€. Centro de Formação Cultural/Contagiarte, Rua Álvares Cabral, 360.
Mínimo: 12 pessoas. Máximo: 15. Inscrições até dia 25 de Abril.
- De 17 a 23 - Workshop de Clown com Lee Delong. 10h-13h/15h-18h (42 horas). Valor: 300 euros. Centro de Formação Cultural/Contagiarte, Rua Álvares Cabral, 360.
Vamos à descoberta do nosso próprio palhaço e do seu universo cómico.
Dia 23 pelas 22h – apresentação pública do trabalho dos alunos sob a forma de espectáculo (com figurinos e dois músicos).
Mínimo: 12 pessoas. Máximo: 15. Inscrições até dia 18 Abril.
Agradecemos a divulgação e esperamos contar com a sua presença!
Para mais informações contactar:
Luciano Amarelo
terranaboca@gmail.com
www.terranaboca-associaocultural.blogspot.com"
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Monday, December 21, 2009
Festival TRANSdisse 2010 - O ANO DA MÁSCARA
Thursday, December 17, 2009
Pacote de Natal para o Actor Português
Prendas ideais, sugestão do autor deste Blog:
Pacote ideal
Stanislavski (3 volumes) + Gil Vicente (2 volumes) [= 120 euros*]

Pack económico
Stanislavski (2 volumes) + Gil Vicente (1 volume)/Stanislavski (1 volume) + Gil Vicente (2 volumes) [= 90 euros*]

Pacotinho super económico
Stanislavski (1 volume) + Gil Vicente (1 volume) [= 60 euros*]
*preços arredondados
Prendas ideais, só com isto já se fica actor.
Jogo Simbólico e Jogo Dramático, distinções e semelhanças
Uma leitora, a propósito de um post antigo, perguntava-me a diferença entre jogo simbólico e jogo dramático; corrigindo o que escrevi antes digo que serão a mesma coisa, mas designações ligeiramente diferentes da mesma coisa: Piaget fala do jogo simbólico como de uma faculdade que a criança desenvolve, Slade fala do jogo dramático como a actividade em que a criança se envolve, como quando brinca com bonecas (este será projectivo) e quando brinca aos piratas (este será pessoal).
para mais referências procurar
PIAGET, Jean: A Formação do Símbolo na Criança – Imitação, Jogo e Sonho, Imagem e Representação. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1975
SLADE, Peter: O Jogo Dramático Infantil. São Paulo, Summus,1978
Wednesday, December 16, 2009
Exercício-Homenagem a António Pedro no Contagiarte

Numa saudável ponte entre a ESAP e o Contagiarte, juntam-se actores estudantes a um palco da cidade, tudo numa homenagem ao homem que veio dar o pontapé de saída teatral ao Porto.
Thursday, December 10, 2009
Wednesday, December 9, 2009
EXERCÍCIO-HOMENAGEM A ANTÓNIO PEDRO

Hoje, dia 9 de Dezembro de 2009, o pintor, escritor, tradutor, dramaturgo, poeta, ensaísta, historiador de arte, professor, ceramista, cenógrafo e encenador de teatro António Pedro faria 100 anos.
Hoje, nos dias que correm, em que nos parecemos demarcar de um passado que não reconhecemos ou não queremos reconhecer como nosso, é quando mais urge olhar para trás e em volta e perceber quem nos fez o que somos.
Hoje, no fim de Dezembro de mais um ano do Sec.XXI, precisamos de reparar que mesmo aqui ao lado, ou há pouco tempo, o nosso mundo (artístico, teatral, portuense) deu um salto, graças a António Pedro. Foi um salto maior que nós e maior que a nossa medida. Terá sido mais pequeno que a Europa e muito mais pequeno que o mundo em relação ao qual estamos num constante jet lag. Mas foi o nosso salto. E devemos estudá-lo, olhá-lo com a admiração que se deve aos pioneiros e honrá-lo.
António Pedro, além de pintor surrealista (e um dos primeiros em Portugal) além de ambicioso historiador de arte, além de escritor e poeta, foi também um verdadeiro homem de teatro, encenando, traduzindo, teorizando, escrevendo para e sobre o teatro. É nessa sua qualidade que o homenageamos neste Exercicio-Homenagem.

Numa altura (anos 50-60) em que o teatro em Portugal e no Porto em particular estava longe de ser de referência, António Pedro - no recém-criado e ainda semi-profissional Teatro Experimental do Porto - levava à cena o melhor da dramaturgia mundial, dos clássicos Molière e Shakespeare aos contemporãneos Eugene O´Neill e Arthur Miller, passando pelo (na altura) emergente Bernardo Santareno e o importante António José da Silva.
Levar à cena só por si não basta, mas se recordarmos que se saudava o verdadeiro experimentalismo destas peças perceberemos o seu arrojo e ambição. Adjectivos que há mais de cinquenta anos uma companhia de teatro a sair do amadorismo, no Porto, personalizava.
Esse Porto que António Pedro ajudou a empurrar para o desenvolvimento teatral e artístico, esse Porto que saiu mais rico dos anos 60 porque um extraordinário artista polivalente por cá passou na sua fulgurante vida de cinquenta e oito anos, esse Porto dizia, agora deve-lhe um parabéns. Que é uma forma de agradecer por ter existido.
E agora, na nossa pequena medida de uma pequena medida, com os que mais personalizam a aprendizagem constante do teatro - os alunos - invoca-se António Pedro pondo em cena António Pedro, usando os seus textos, ensaios e traduções. Como se fosse um jogo de voltar ao passado.
ENCENAÇÃO/DRAMATURGIA
Nuno Meireles
ELENCO
2º ANO DO CURSO SUPERIOR DE TEATRO
Tuesday, December 8, 2009
Amanhã fará cem anos António Pedro/Exercício-Homenagem na ESAP
9 de Dezembro de 2009
15h Auditório ESAP entrada por Rua de Belomonte ou Rua de S.Domingos
TEXTOS
Texto invocativo, de Luiz Francisco Rebello
Prólogo a Antígona - Glosa Nova da Tragédia de Sófocles, de António Pedro
Macbeth - Cena Primeira, de William Shakespeare, Tradução e marcações de António Pedro
Reginaldo Coral - Romance Tradicional Adaptado por António Pedro
Excertos de Pequeno Tratado de Encenação, de António Pedro
ENCENAÇÃO/DRAMATURGIA
Nuno Meireles
ELENCO
2º ANO DO CURSO SUPERIOR DE TEATRO
Friday, December 4, 2009
Citação de Stanislavski
"Hoje, como todos os dias, cheguei à aula muito antes da hora."
A Construção da Personagem. (1994) 7ª edição, Civilização Brasileira. Pág. 241
Que implícita dica a tudo que é aluno e gracioso recado a todos em geral.
Saturday, November 28, 2009
Wednesday, November 25, 2009
Citação de Stanislavski
"As aulas de canto que damos a vocês, alunos, não são meros exercícios para colocar a voz durante aquela determinada hora. Em aula vocês têm que aprender as coisas que deverão ser praticadas, primeiro sob o controle de um treinador experiente e depois independentemente, em casa e em toda parte onde forem, durante todo o dia."
A Construção da Personagem. (1994) 7ª edição, Civilização Brasileira. Pág. 128
Que brilhante formulação da semente que é o ensino artístico.
Friday, November 20, 2009
A minha escola
A minha escola, como actor, como professor, como tudo que eu seja, foram as artes marciais.
A verdadeira escola, que é a base do pensamento e comportamento foram de facto as artes marciais. Antes mesmo de me ter ocorrido o teatro ou semelhantes.
A minha escola, antes de ter cursado teatro e praticado teatro, foram as artes marciais porque foi aí intuitivamente que me encaixei, que senti que respeitava algo e havia um património e legado a manter.
Foi aí com quatorze, quinze anos que me eduquei. E digo me eduquei pois antes de qualquer aprendizagem formal já eu me treinava e sabia que para atingir a habilidade tinha que dominar o meu corpo. Já nessa altura, muito antes de ouvir falar de motricidade ou psicomotricidade ou antes mesmo de pensar que coisa era a técnica.
E muito antes de entrar numa aula de teatro ou num ensaio já eu me educara - por ter sido a escolha do que eu queria - a nunca faltar a uma aula, ou a um treino em casa, sózinho, para dominar e preservar em mim a técnica, que era o saber e o ser da arte marcial.
Muito antes das regras já eu praticava as regras.
Muito antes de ler fosse o que fosse de técnicas teatrais e pensar na ética já eu me tinha educado na observação das normas, da hierarquia por saberes, mestrias e experiências. Muito antes de tudo já eu estava a cultivar o meu corpo e a minha mente para que fosse chão arável.
Muito antes de saber o que era técnica e estímulos, me preparava em casa para as provas que tinha de fazer para entrar na Escola de Teatro que tinha escolhido.
Preparei-me pensando sempre que - como nas artes marciais - se se pode fazer, pode-se treinar e melhorar até à excelência ou, pelo menos, ao seu domínio confortável.
Passaram-se vinte ou quase vinte anos desde que isto começou. Ainda penso da mesma maneira. E choca-me lidar em todos os lados por onde tenho passado com alunos que não fazem a mínima ideia de como se preparar, que não têm a mínima ideia de regras de conduta - e, portanto, de como tornar pronto o seu chão para se arar.
Choca-me pois ninguém tem controlo material sobre o que faz, desde grupos de amadores, a teatros universitários passando por cursos superirores vocacionais ou não.
Ninguém consegue pensar em metas e domínios do que tem a fazer: se um texto é para decorar é fácil de o fazer, decorando-o; se se tem dificuldade a ler em voz alta, é fácil resolvê-lo... lendo em voz alta; se há uma hora de começo da aula ou do ensaio, essa hora é a hora de começar e não a de chegada; se há roupa com que se começa então é só metê-la no saco no dia anterior; se no ensaio é para ouvir e fazer, basta não se falar; se... e se... e se... e se...
Não há normas dentro de ninguém porque ninguém se educou.
E eu serei um caso raríssimo, num meio quase rural, a inventar por mim e para mim o que havia de me tornar possível ser o que queria ser. Espero bem que o futuro me prove o contrário. Por enquanto ainda estou no grau quase zero de tudo.
Monday, November 9, 2009
Doença do Teatro: síndroma da mosca na sopa

Como com a madeira, ou o papel ou outros materiais quase vivos, existe um bichinho, uma doença no teatro que tudo corrói. Como num jogo quando um participante se levanta a dizer que Isto é Estúpido/Ridículo/Está mal feito o teatro também é atingido por essa bactéria de propagação rápida a que chamaremos o Desprazer.
O Desprazer está muito difundido entre os artistas e os criadores de teatro em especial.
Em vez do Prazer que procuramos todos, há qualquer coisa que impede muita gente de teatro assistir a teatro sem ser necessariamente com Desprazer.
(É óbvio que há aqui uma relação nociva com o Teatro, mas esse assunto tão bem desenvolvido na tese de Isabel Alves Costa e que se prende com o relaciomaneto com o Desejo de Teatro, não nos ocupará agora.)
É como se um actor fosse ver outros actores à procura da mosca na sua sopa. Isto é nocivo e é uma doença. Isto é pernicioso como um bicho que rói sistematicamente madeira ou semelhantes.
Isto é um comportamento recorrente ainda por cima. Disfarçado de desculpa lá é que não consigo deixar de ver com o meu olho clínico, ou só consigo ver de um modo técnico.
Sabemos bem, na situação de incultura em que nos encontramos, que não há conhecimento de técnica que suporte isto, não há conhecimento de gramática teatral que fundamente isto.
Há sim um sentimento daninho que inquina tudo, a começar pelo próprio artista.
Mas a nossa resposta é não responder na mesma moeda. Vemos, apreciamos, pensamos e falamos como seres civilizados com os criadores, cientes de que estamos no fluxo vivo de um processo criativo que é difícil de invocar e muito fácil de amarrotar.
Thursday, November 5, 2009
Estreia hoje: Amanhã Continuamos a Inventar as Coisas, no Contagiarte

"Amanhã, continuamos a inventar as coisas"
Duas personagens desconhecidas, Ela e Ele, cruzam-se, algures, numa qualquer cidade. Entre eles, está uma mala.
Num zig-zag de caminhos de aproximação e repulsa o drama da solidão humana ganha forma. Um drama que neste espectáculo é muitas vezes transformado em farsa, como se de conversas entre duas crianças se tratasse... os actores brincam às casinhas.
E a mala?
Adaptação da peça "Sopinhas de Mel" de Teresa Rita Lopes
Interpretação: Margarida Fernandes e Rui Oliveira
Direcção/Dramaturgia: Ana Saltão
Assistência de Direcção: Nuno Meireles
Cenografia/Figurinos: colectivo
Design Gráfico: Paulo Gomes
Desenho de Som: Hugo Gomes (Osga)
Desenho de Luz: Rui Oliveira
Fotografia: Hugo Lima
Comunicação: Daniela Reis e Thomas Gawrisch
Operação Técnica: João Pedro Jorge e Nuno Meireles
Produção: Acaro
Reservas
Tel: 222000682 (16h30 / 20h30)
Da necessidade de mestres - Stanislavski, Shakespeare

Precisamos de mestres. Sempre precisámos e agora, no caos do pós-pós-modernismo ainda precisamos mais, como outrora (ou ainda hoje?) se precisou de Deus.
Precisamos de acreditar em alguém, alguém que nos ultrapasse e - do passado - nos tenha ultrapassado extraordináriamente. Precisamos de saber que houve quem tivesse dado passos de gigante e precisamos - no teatro - de saber que não começou tudo quando começámos.
Precisamos de mestres porque é a nossa criatividade e sensibilidade que está em causa. E um mestre é um caminho. Precisamos de caminhos. Eu não acredito em nenhum caminho original de alguém vivo. Demasiado novo. Demasiado recente. Demasiadamente não-validado. Precisamos de anos e anos de experiências. Precisamos, não de inventar o teatro que fazemos mas de aproveitar o teatro que foi feito e deixado para nós o continuarmos. Precisamos dos romances de aprendizagem de Stanislavski onde a criatividade é colossal, e precisamos da complexidade de pessoas e intrigas e significados e formas de Shakespeare.
Precisamos de nos radicar. Uma árvore sem raízes não chega a ser árvore. Precisamos de nos filiar em algum mestre. Pode ser Stanislavski ou Meyerhold ou outro assim, pode ser algum destes revolucionários. Pode ser Shakespeare ou Gil Vicente. Pode ser. Mas precisamos de caminhar em alguma direcção.
Agora estamos no quase nada, quase nada de saber como fazer as coisas (e as coisas é a criatividade, é a poesia), estamos no quase nada de referências pertinentes, teatrais. Precisamos de admiração. Stanislavski admirava o actor italiano Salvini. Nós admiramos Stanislavski. É uma direcção. Uma aprendizagem.
Precisamos de vir de algum lado, algum lado maior que uma cidade ou uma escola ou a sala de uma escola. Precisamos de vir da Rússia do princípio do séc.xx - por exemplo - ou da Inglaterra Isabelina.
Precisamos disso porque sem mestres somos só nós, num eterno arrabalde de tudo, a tentar ensinar a criar a nós mesmos. 
Saturday, October 24, 2009
Livro do Dia - O Trabalho do Actor de Cinema, de Assumpta Serna
Como recentemente o autor deste blog participou numa curta-metragem, resolveu servir-se deste livro, comprado havia há muito e nunca lido, apesar de tão claro e bom e útil para os actores. Escrito por um actriz.
Nos seus muitos capítulos fala-se de se ser Actor de teatro, das Vantagens para representar em cinema. Fala-se de Castings, de Vídeo de promoção (Demo-real), do que não devemos fazer e do que devemos fazer. E assim por diante.
Este belo livro de amor ao actor pode ser comprado aqui.
Friday, October 23, 2009
Beijamins - Festival para a Infância e Juventude


Durante o próximo mês de Novembro o Beijamins - Festival para a Infância e Juventude terá uma extensão em S. Tomé e Príncipe.
Um mês de espectáculos, exposições, filmes, debates e formação.
A iniciativa, promovida pelo TeatroArado, é o resultado da política de formação de públicos e cooperação com os países africanos de expressão portuguesa que a companhia tem vindo a desenvolver nos últimos anos.
Monday, October 19, 2009
Saturday, October 10, 2009
O Marinheiro, de Fernando Pessoa, pelo Teatro Plástico - Crítica

No Porto, temos ainda até amanhã para sermos arrebatados por uma improvável peça extraordinariamente posta em cena: O Marinheiro, de Fernando Pessoa, pelo Teatro Plástico, direcção de Francisco Alves.
Esta é a única peça publicada em vida de Fernando Pessoa e é intrincada: três mulheres, irmãs, velam o corpo de uma quarta durante uma noite e, falando entre si, uma delas conta um sonho com um marinheiro. Isto será o enredo mas... as personagens não têm identidade definida, as suas acções são ténues, e o seu diálogo é poesia completa, como se fosse um único poema que em coro vão distribuindo entre si durante a espera que fazem.
Peça complicada, com elevadas hipóteses de fracasso. Leia-se tédio ou aborrecimento ou desconexo ou falta de sentido. Sempre me pareceu irrepresentável. No entanto até hoje me parecera irrepresentável: depois desta encenação penso de outro modo.
Pois hoje vi uma imensidão de sentidos, vi cada frase abrir-se para mim do que conhecia e não conhecia do Pessoa, vi na verdade estalarem pequenos conflitos entre as irmãs, e vi identidades. Vi expressão onde podia ter só existido verborreia, vi precisão - quando a precisão interessa-nos ao se ser preciso a atingir a beleza, ou os sentidos do espectador e, por conseguinte, a sua alma.
Vi como é possível o teatro revelar o que nem a leitura nos dá.
Vi abrir-se para mim uma colossal e invejável obra que dá vontade de reler e fazer e ver mais. Vi uma verdadeira encenação, com interpretações fortíssimas porque maduras de um trabalho tão coeso, tão sólido e sempre supreendente, tão tornado sensível que, como este, não se vê frequentemente.
Domingo dia 11 é o último dia. Se ainda não foi, vá.
Nota: Além da qualidade da peça, além da generosa conversa com a equipa criativa no final da apresentação, além de tudo isto o programa tem um ensaio inédito de Teresa Rita Lopes sobre Pessoa e o "Teatro de êxtase". Se isto não é uma ocasião, já não sei o que o é.
Sunday, October 4, 2009
A Casa de Bernarda Alba, de Federico García Lorca, pelo Teatro da Terra - Crítica
A Casa do Disparate
Foi-nos dado a ver, no dia 2 de Outubro, no Porto (no Teatro do Bolhão) o que talvez seja a pior das peças dos últimos tempos e sem dúvida a mais desastrada versão da peça de Lorca.
Tenho certas dúvidas de que qualquer grupo (por exemplo amador) pudesse errar tão disparatadamente quanto este recente Teatro da Terra, na encenação de Maria João Luís.
Imagine-se todos os elementos teatrais, do som à dramaturgia, da cenografia à interpretação e imagine-se tudo truncado, teremos assim uma ideia do que foi esta representação.
Imagine-se uma mulher idosa a fazer de mulher idosa e uma mulher nova a fazer de idosa, temos aqui a opção do Teatro da Terra para as personagens de María Josefa, mãe de Bernarda (que terá 80 anos) e da criada Poncia (que terá 60)- comprometendo tudo o que se seguirá;
Imagine-se que o Teatro da Terra não conseguiu (!)encontrar actrizes para as personagens das filhas de Bernarda com a idade aparente de 20 a 39 anos e todas elas pareçam ter não só a mesma idade como não ter razão para o conflito da mais velha se casar somente por ser a herdeira;
Imagine-se que a fortíssima personagem de Bernarda Alba (Custódia Gallego) nos aparece em cena com uma ridícula peruca grisalha, enfiada na cabeça como um capacete, superado apenas pela igualmente ridícula peruca de Magdalena (Inês Castel-Branco), esta negra mas também capacete - quando todas as outras não tinham senão o seu cabelo natural, longo ou não;
Imagine-se em cena, e à boca de cena, dois simbólicos e gigantescos novelos de fio vermelho, com uma também gigantesca agulha lá trespassada, constrastando alegremente com as cadeiras de aparência antiga que são ora trazidas ora levadas, ou com a água de verdade com que a criada lava o chão;
Imagine-se um elenco a entrar em cena rouco, e a obstinar-se por continuar rouco, gritando a plenos pulmões em todas as cenas - com três excepções: as actrizes que fazem de criada, de Amélia e de María Josefa (Cremilada Gil esta última - não conseguimos apurar o nome das restantes);
Imagine-se - e aqui entramos no pernicioso desta representação - que as actrizes gritam porque não há senão violência nesta peça. Violência ensandecida, injustificada, gritaria e nada mais. Como se o grande poeta García Lorca tivesse escrito esta peça para que se representasse como a mais idiota imagem da violência familiar, como se fosse apenas o paroxismo da discussão, sem se perceber que elas ficarão fechadas durante os anos de luto da morte do pai, sem se perceber que estas mulheres são mulheres e não cães, e que nem mesmo os bichos se agridem constantemente; sem se perceber que esta peça não é a colecção de neuróticas e paranóides que se representou;
Imagine-se uma peça onde as suas personagens estão condenadas a ficar durante oito anos numa casa - no vicejar das suas vidas e desejo - por altura da morte do pai e a mando da mãe: imagine-se então que de todos os matizes para esta situação (luto, pesar, confusão, esperança, revolta, rebeldia, rancor, raiva, desespero, ilusão, sonho) a encenadora tenha escolhido um só (a raiva) e assim se representem as relações entre irmãs e entre filhas e mãe;
Imagine-se que na peça que Lorca escreveu a filha mais nova (Adela) se revolta contra a mãe quebrando-lhe o bastão em dois, quando aqui a esbofeteia (?);
Imagine-se que num elenco de onze actrizes só duas parecem representar - sem gritos constantes, sem disparates, falando somente - Cremilda Gil e a actriz da personagem Amélia, sendo que estas terão sobrevivido à direcção (ou ausência dela) de Maria João Luís;
Imagine-se que a actriz-cantora Ana Brandão na personagem inacreditável de Poncia, parece ser uma anedota viva, fazendo da sua voz um circo de entoações, estragando-a para descer de timbre;
Imagine-se que esta peça, como a escreveu García Lorca, é uma tragédia e - pasme-se -não foram raras as vezes em que o público riu em uníssono de cenas tão pouco risíveis como o anúncio da morte de Pepe Romano, o rapaz que atiçou o desejo e desencadeou a catrástofe:
Angustias
Deus meu!
Bernarda
A espingarda! Onde está a espingarda? (sai correndo)
(...)
Adela
Ninguém poderá comigo!
(vai para sair)
Angustias
(segurando-a)
Daqui não sais tu com o teu corpo em triunfo, ladra! Desonra da nossa casa!
Magdalena
Deixa que se vá para onde não a vejamos nunca mais!
(soa um disparo)
Bernarda (entrando)
Atreve-te a procurá-lo agora.
Martírio
(entrando)
Acabou-se o Pepe Romano.
RISOS DO PÚBLICO
é isto possível?
Possível é que uma actriz extraordinária como Maria João Luís seja um desastre de encenadora, errando todas as escolhas - da distribuição e casting do elenco, da cenografia, de figurino, da pobríssima movimentação de cena e acertando APENAS na presença das actrizes junto às pernas do palco, na penumbra.
Possível é que uma boa actriz e cantora como a Ana Brandão se amesquinhe fazendo uma personagem que não é para si e de um modo que não é para ninguém, senão para uma anedota de criada.
Possível é que os melhores momentos nos tenham sido dados pela actriz de Amélia, entre o receio, o choque, a reserva e - lufada de ar fresco - sem gritos.
Possível é que tenha sido perdido o tempo e dinheiro a ver a peça, dado ser um disparate, e só por fé e indignação tenha investido o tempo e pensamento para escrever sobre essa disparatada perda.
Desgraça não foi a das filhas de Bernarda fechadas em casa, foi a nossa de estarmos fechados com elas.
Wednesday, September 30, 2009
Aulas de Teatro I e II, Centro de Formação Cultural, Contagiarte, Porto - começa em Outubro

©HUGO LIMA
Nesta oficina serão trabalhados os signos teatrais: geografia cénica, corpo, acção e texto.
Os participantes serão convidados a criar os artifícios de uma peça de teatro e ao longo deste percurso, verão afinal que estes artifícios têm de ser verdadeiros e vindos do fundo da alma.
Numa primeira fase da oficina, as actividades centram-se no jogo, no prazer de jogar e estar com os outros (semelhante ao gozo do actor em representar e contracenar). Despertado o corpo, desinibida a mente, virá a movimentação no palco através de exercícios de improvisação. Complementando estes elementos virá o texto. Mediante o excerto de peças de teatro, aos participantes será colocado o desafio de articular tudo isto de uma forma verdadeira e universal (compreensível para todos).
Pegaremos em textos da dramaturgia ocidental, onde o texto é crucial e abundante, encarnaremos personagens, mas sem esquecer o corpo e as acções. O silêncio é tão ou mais importante do que as palavras, as relações entre as pessoas estabelecem-se por fios invisíveis e indizíveis. Por isso, nesta oficina iremos lentamente, tecer esses fios que seguram a teia de uma peça de teatro.
Como o público é o elemento essencial do teatro, ele não poderia ser esquecido. Assim sendo, grande o objectivo, ou a meta final, deste Teatro I é o levantamento, montagem e apresentação de um espectáculo de teatro.
Teatro I
Iniciação
Sexta-feira: 20h00-22h00
Mensalidade: 30Eur
Teatro II
Intermédios
Quarta-feira: 20h00-22h00
Mensalidade: 30Eur
Orientadora: Margarida Fernandes
MARGARIDA FERNANDES é actriz e professora de expressão dramática de crianças, adolescentes e idosos. Já encenou A Casa de Bernarda Alba de Federico García Lorca. Participou como autora dos textos do espectáculo de teatro Um Acordar Cinzento e Cheio de Sono. Recentemente descobriu o gosto por ser Criadora e Contadora de Histórias. Vive no Porto.
Monday, September 21, 2009
A criatividade
Uma conferência excepcional com ideias pertinentíssimas:
a educação destrói a criatividade?
a universidade cria a educação à sua imagem e semelhança?
que estatuto da dança e teatro (drama) na educação?
Saturday, September 19, 2009
Monday, September 14, 2009
Curso Livre de Teatro - ESAP

Curso livre de teatro da ESAP que inclui as áreas de Interpretação, Jogo Dramático, Voz e Dramaturgia
Público Alvo: Público em geral
Mínimo de 10, máximo de 15 inscrições
21 a 25 de Setembro, das 18h às 21H
valor da inscrição (estudantes da ESAP/outros): 35 euros/ 40 euros
docentes responsáveis: Roberto Merino, Margarida Machado, Nuno Meireles e José Couto/docentes do Curso de Teatro da ESAP
- outros cursos livres em http://www.esap.pt/downloads/calendarizacao%20CL%2011set2009.pdf
Monday, September 7, 2009
Isabel Alves Costa
Hesitei muito em escrever sobre Isabel Alves Costa, ou antes, sobre o seu falecimento.
Como bem apontou o Luís Campião este blog começa a tornar-se um imenso obituário das pessoas grandes ou queridas do teatro.
Não sei o que se passa este ano, está a ser um ano de abandono.
Soube do desaparecimento de Isabel Alves Costa noutro ponto do globo e noutro ponto de emoção e expectativa, nunca me pareceu justo que ela tivesse morrido e esse luto que não fiz acompanhou-me durante todo o tempo em que estive fora, à procura de outras coisas quando a morte visitara a cidade e uma das pessoas que - se o pudessemos dizer - menos o merecia.
Há pessoas de que conhecemos a grandeza artística e outras de que conhecemos o coração e o carácter, de Isabel Alves Costa posso dizer que tinha tanto a grandeza e a inteligência como o carácter.
Era a mais extraordinária professora portuguesa que alguma vez tive. Era também aguerrida e sabia ser áspera, mas tinha uma força que dirigia a criar condições, estruturas, textos, quando outros - muitos outros - criam politiquíces.
Foi maltratada em várias situações, algumas que se conhecem e são públicas, outras ainda não. E tudo, digo-vos, porque era uma mulher muito mais capaz que a súcia que anda por aí.
Escreveu ou colaborou na escrita de vários livros dedicados à Expressão Dramática, Fantoches, e formação dos professores para que estes possam interagir na expressão dramática das crianças.
Doutorou-se quando isso ainda não estava em moda com uma tese bestial, publicada com o nome de O Desejo de Teatro.
Tinha e alimentava um enorme desejo de teatro e fazia-o nas aulas, nos projectos que dirigiu ou dirigia.
Pôs o Rivoli no mapa da dignidade durante 10 anos até que a corja ignara decidiu que devíamos voltar à degradação.
Dirigia actualmente as Comédias do Minho, projecto-estrutura de verdadeira descentralização teatral de qualidade, na qual tinha um orgulho pujante que, se não era essa a sua identidade, então é assim que a lembro mais.
Era uma mulher importante na cidade e isso não a impedia de receber este ex-aluno em várias ocasiões relacionadas com espectáculos ou investigações académicas.
No seu cartão de visita/apresentação tinha escrito Consultora e nunca me pareceu como na altura que esta palavra fosse tão justa.
Numa cidade que anda a boiar na lama cultural em vários pontos estratégicos, esta mulher extraordinária era razão de orgulho por se relacionar com o mundo, com a contemporaneidade, por ser simultamente investigadora universitária e interlocutora estimulante e estimuladora.
O que eu ganhei consigo Professora foi perceber que pode haver afecto com exigência, que pode haver cultura e desejo de teatro, que pode haver mais uma criança na cidade. E hoje, ainda hoje, choro por si.
Monday, August 10, 2009
No funeral de Raul Solnado
No funeral de Raul Solnado, esse actor tão terno quanto engraçado (no verdadeiro sentido de cair em graça)nas ruas a cidade de Lisboa aplaudia o carro fúnebre que passava com o seu corpo.
Passava o carro e as pessoas nas ruas aplaudiam.
Molière foi a enterrar à noite e em solo não sagrado, pois a profissão de comediante era tão mal visto quanto um proscrito.
Mas ontem um país saiu às ruas para bater palmas a um comediante (e que comediante!): podemos ser pobres e miseráveis em muitos aspectos, mas aqui está a nossa civilização, a de respeitarmos o nosso afecto a um homem que nos fez rir.
E não conheço melhor resposta à morte que esta.
Wednesday, July 29, 2009
Manuel Ângelo Mota
Acabei de saber do falecimento de Manuel Ângelo Mota.
Era mais um homem ligado o teatro que se foi. Algumas pessoas que conheço começaram a fazer teatro com ele, no Flôr de Infesta; era companheiro e camarada de Roberto Merino, Fernando Peixoto e da Esap e dos seus alunos, para os quais fez vários desenhos de luz.
E era - parecia-me - um homem bom.
Neste mundo tão pequenino, que é o mundo dos afectos e que para mim tem sido muito o mundo da Esap, esta é outra perda - grande como daquelas pessoas que se sentavam à mesa nos jantares de família.
Tenho muita pena.
Tuesday, July 21, 2009
Wednesday, July 8, 2009
Cursos Intensivos de Biomecânica Teatral, Perugia, Itália

O Centro Internazionale Studi di Biomeccanica Teatrale promove estas magníficas formações:
17th of august - 5th of september 2009
Intensives Courses of Theatrical Biomechanics of Meyerhold
summer 2009 12th work session
directed by
Gennadi Nikolaevic Bogdanovdirect heir of Meyerhold pedagogy
The only person in the world who is able to teach
the Classic Etudes of Theatrical Biomechanics
First "basic" level
from 17th to 29th of august 2009
60 hours practice activities plus 8 hours theoretical activities
This intensive course of Meyerhol’d’s Biomechanics is open to actors, directors, dancers, liric singers and studente.
Study planning
You will study Biomechanics training, the 7 Biomechanics principles of the construction of the action and you will approach to Classic Etudes.
A € 480,00 fee is required
(€ 200,00 discount for the CISBiT's students who wants to repeat the 1st level)
At the end of course you received the certificate the attendence at the first level.
"In-depth" course Training - Principles - Etudes
from 31th of august to 5th of september 2009
30 hours of practice activities
This intensive course of Meyerhol’d’s Biomechanics is open to the students who have already studied with the Master Gennadi Nikolaevic Bogdanov for at least 2 weeks at one of the recognized structures as CISBiT – Perugia - Italy, the Mime Centrum - Berlino, Talia Theatre – Manchester, Freehold - Seattle, Department of Theatre - Concordia University – Montreal – Canada.
Study planning:
You will study in depth the Biomechanics training and the 7 Biomechanics Principles of the construction of the action and you will study at least one Classic Etude.
A € 280,00 fee is required
At the end of course you will receive the certificate of attendance of the "In-depth course TPE".
"In-depth" course Training - Principles - Rhythm
from 31th of august to 5th of september 2009
30 hours of practice activities
This intensive course of Meyerhol’d’s Biomechanics is open to the students who have already studied with the Master Gennadi Nikolaevic Bogdanov for at least 4 weeks at one of the recognized structures as CISBiT – Perugia - Italy, the Mime Centrum - Berlino, Talia Theatre – Manchester, Freehold - Seattle, Department of Theatre - Concordia University – Montreal – Canada.
Study planning:
You will study in depth the Biomechanics training and the 7 Biomechanics Principles of the construction of the action, study of the rhythmical relations between the actor, his actions and the space.
A € 280,00 fee is required
At the end of course you will receive the certificate of attendance of the "In-depth course TPR".
During the training you need: the sport shoes with the soles of the gum very thin and flexible, comfortable dress with the preferable long-sleeved shirts without any writings or pictures. For this work it is not advised the use of shorts and vests.
Languages of the course: Russian and Italian. It's possible to have an English translater.
Every course will take place in Perugia (university town about 150 Km from Rome).
If you need an accomodation, we can help you to find a cheap one.
Enrollment:
You have to send a C.V. with a photo, a letter of presentation about your life in the art to labiomeccanica@microteatro.it and a deposit of €250,00 to:
Deutsche Bank S.P.A.: via Oberdan 10/12 - 06121 - Perugia - Italy
Bank account to: IBAN code: IT - 35 - L - 03104 - 03003 - 000000820342
Bic swift code: deutitm1323
Registered in the name of Claudio Massimo Paternò
For further info, please contact us to:
labiomeccanica@microteatro.it
or tel 0039 347 0798353 or 0039 75 5721238
A NÃO PERDER!
Actores doutorados 'honoris causa' em Évora
(estes - grandes - actores foram agraciados pelo seu mérito artístico, que prova de civilização)
por LUÍS MANETA, Diário de Notícias 04 Julho 2009
"Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho foram agraciados pela Universidade de Évora pelo seu trabalho enquanto profissionais e professores na arte da representação. O dois regressam, em Setembro, ao palco do Teatro Nacional D. Maria II
Dois dos mais conceituados actores portugueses, Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho, foram ontem doutorados honoris causa, pela Universidade de Évora.
"Nunca a universidade pública portuguesa, até hoje, teve uma palavra de apreço para com eles e para com os actores de uma forma geral", recordou o reitor da mesma universidade, Jorge Araújo, justificando a distinção com as "extraordinárias carreiras" dos homenageados. "São dois grandes profissionais de teatro mas também dois grandes professores da arte de representar", frisou.
Em declarações ao DN, momentos antes de se dirigirem para a Sala dos Actos da Universidade de Évora e aguardarem pela chegada do cortejo universitário, onde se integrou o ex-ministro da Educação, Marçal Grilo, patrono do doutoramento, Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho confessaram ter ficado surpreendidos pelo facto de uma universidade se ter "lembrado" de lhes atribuir um doutoramento honoris causa. "Foi um gesto invulgar, muito invulgar em Portugal", reconheceu Ruy de Carvalho, considerando que se trata de um título académico que "incentiva toda a classe". "Nunca se tinham lembrado de nós mas nunca é tarde e estas distinções obrigam-nos a ter cada vez mais respeito por aquilo que fazemos", acrescentou o actor.
No mesmo sentido, Eunice Muñoz destacou o "acontecimento inédito" que estava a viver. "Tudo o que diga respeito à cultura fica sempre um pouco esquecido apesar de existirem grandes actores e grandes actrizes em Portugal. Não sou só eu e o Ruy que merecemos", sublinhou Eunice Muñoz que, pouco depois, faria questão de se apresentar perante a academia de uma forma directa: "Sou actriz e sou mãe, tenho 80 anos e venho de uma família de gente ligada ao teatro".
Na oração laudatória, durante a qual sintetizou o percurso profissional dos dois actores, o ex-ministro da Educação definiu Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho como "figuras marcantes da vida nacional" que dedicaram a sua carreira à "difícil e exigente arte de representar", partilhando o seu "saber e experiência" com as novas gerações de actores.
"Num mundo em que os valores são postos sistematicamente em causa, é muito significativo que a universidade saiba e queira estabelecer e identificar padrões de comportamento e referências que possam inspirar e enquadrar a formação dos mais novos", acrescentou Marçal Grilo.
Já o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, fez-se representar na cerimónia pela directora do Teatro Nacional D. Maria II, tendo enviado uma mensagem na qual considera ser "factor avultado e assinalável" a circunstância do "reconhecimento público" dos dois actores "advir agora de uma universidade".
Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho juntam-se a um vasto conjunto de personalidades da cultura a quem a Universidade de Évora atribuiu o doutoramento honoris causa, no qual se incluem os escritores José Saramago e Amin Maloufe, o músico catalão Jordi Saval e o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, entre outros.
Os dois actores vão regressar ao palco do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, em
Setembro."
Friday, July 3, 2009
salada russa - estreia hoje

SALADA RUSSA
Uma receita de Margarida Fernandes
tempo de preparação: cerca de 40 m
grau de dificuldade: nível 1
custo: económico
nº de pessoas: bastantes
Ingredientes: Alexandra Arnóbio; André Carvalhosa; Catarina Barbosa; Cristina Sousa; Eduarda Dias; Fabiana Costa; Isabel Reis; Mariana Dorey; Mónica Pacheco; Susana Cunha.
Temperos: uma pitada de García Lorca; de José Régio; Gil Vicente q.b; Max Aub a gosto e um cheirinho de Arnold Wesker.
Preparação: juntar os ingredientes uma vez por semana, cerca de duas horas, durante alguns meses (podem ser 6). Misturá-los muito bem, de uma forma divertida para ligarem melhor. A boa disposição é indispensável, assim como algumas doses de paciência. De seguida despejar os temperos e deixar marinar para que ganhem gosto.Colocar no frigorífico, na prateleira de baixo junto aos legumes e aguardar. Retirar, deitar para dentro de uma saladeira larga e mexer a mistura delicadamente com talheres grandes, próprios para salada, E voilá: Salada Russa pronta! Bom apetite!
Nota: Atenção aos ingredientes, eles têm de ser frescos e manuseados com cuidado para não pisarem.
3 e 4 de Julho
22.30
2 euros de entrada
Contagiarte - Espaço de Sensibilização, Formação e Dinâmica Culturais
Porto - Rua Alvares Cabral, 372 (próximo Praça da República / junto à ex-sede do Salgueiros)
Telf: 222 000 682 / www.contagiarte.pt / contagiarte@contagiarte.pt
Wednesday, July 1, 2009
Pina Bausch 1940-2009
É simples, Pina Bausch que ontem morreu era um grande génio criador. E eu tenho uma pena muito grande que tenha morrido, porque não é todos os dias que Deus nos agracia com poetas.
Saturday, June 27, 2009
Como fazer um doutoramento

cartoon daqui
Ora bem, o meu caro leitor pode ter vontade de estudar,
de deixar uma pegada nas teorias do mundo,
de ser tratado por Professor Doutor em eventos sociais;
pode estar ligado a uma instituição de ensino,
querer provar uma teoria,
querer estar 3 a 4 ou talvez mais anos em companhia de um ou uma orientador/a, ou na companhia de alguns livros e leituras que o leitor preza muito a ponto de se casar por um quadriénio com eles;
pode ser tudo isto ou outras coisas até - tem é que fazer um Doutoramento.
Mas não sabe como o fazer.
Aqui entra o matutanço e dar com a cabeça nas paredes.
O leitor até tem ideias, uma teoria, uma sensação de premência: de certo modo está grávido e não sabe como entrar em parto, nesse longo trabalho de parto.
Não sabe por onde começar mas sabe que a acabar terá que ter um volume de 300 a algumas mais páginas (parece que agora se pede mais síntese)de conteúdo inovador.
É um romance que tem na cabeça e não sabe como o pôr para fora. O leitor até pensa em frequentar as oficinas de escrita criativa, mas as teses de doutoramento não têem sido consideradas género literário e muito menos de escrita criativa.
Opta pelo método fuga para a frente: escrever e escrever não importa o quê.
Até bater noutra parede.
...Ou até eu lhe fornecer graciosamente a receita, encontrada no reino mágico da internet - que só fará sentido se tiver passado por todos ou quase todos os passos anteriores (ter ideias, vontade de pôr uma teoria no mundo, ter leituras de afeição e fé, escrever sem saber para que direcção e ainda a sensação de bater constantemente com a cabeça na parede).
Experimente respirar fundo, beber uma bebida morna e preencher o seguinte questionário:
a) Especialidade [de investigação] em que se inscreve [ou procura fazer a sua tese de doutoramento]:
b) Área temática de investigação:
- Área temática de investigação, dentro da especialidade (máximo 250 caracteres incluíndo espaços)
c) Palavras-chave (máximo de 5)
d) Intenções de Investigação e objectivos que se propõe atingir (máximo de 2500 caracteres)
e) Principais referências bibliográficas (máximo de 5)
Pode começar do fim ou do princípio, pode deixar a questão dos vinte mil euros para o fim [d)] ou pode aventurar-se por essa mesmo. A questão é que respondendo a isto tem o leitor uma direcção. Gratuita, cortesia do Instituto de Estudos da Criança e de mim próprio, que ando aqui ao mesmo.
Um abraço e boa sorte.
(lembre-se de respirar fundo, descontrair e - é claro - da bebida morna)
Thursday, June 11, 2009
Personagem s.f.
Achega:
Personagem - em português - é substantivo feminino
"A minha personagem..."
"As personagens desta peça..."
"Então a personagem faz isto ou aquilo"
Por favor não se refiram ao meu personagem, em espanhol isto passa, em português não.
Monday, June 8, 2009
Hot tips for cold readings, de Nina Finburgh - livro do dia

Vão a uma audição, ou casting, dão-vos um texto para ler, é o guião do filme ou uma cena da peça para que estão a fazer esta audição, então que fazer?
Este livrinho dá-nos pistas sobre isso, olhar a frase, identificar-se com ela e dizê-la para a frente (de modo a ser vista a nossa interpretação) é uma dela. Precioso.
Está à venda aqui, por exemplo.
Hot Tips for Cold Readings: Some Do's and Don'ts for Actors at Auditions
de Nina Finburgh
Smith & Kraus (1993)
Saturday, May 30, 2009
Exercício final do Curso Intensivo de Iniciação Teatral da Seiva Trupe

Conclui-se este fim de semana o Curso em que tenho colaborado:
estes cinco intensos meses chegam agora ao seu justo fim que é a apresentação pública e, espectador parcial que sou, é orgulhoso do nosso resultado que vos convido a serem os olhos e ouvidos para quem estes actores durante três dias acenderão a boca, as mãos e os pés.
Nuno Meireles
"O Actor Acende a Boca - Gota de Mel"
sobre textos de Léon Chancerel, Herberto Helder, Manuel Alegre, Eduardo De Filippo, Gastão Cruz e Sérgio Godinho
Adaptação/Direcção Geral: Júlio Cardoso
Assistência de Direcção: Nuno Meireles
Exercício final do Curso Intensivo de Iniciação Teatral da Seiva Trupe, em Co-produção com o Cine-Teatro Constantino Nery, em Matosinhos
sexta 29 (21.30h)
sábado 30 (21.30h)
e domingo 31 (16h)
bilhetes a 5 euros
duração aproximada: 1.30h
Saturday, May 23, 2009
O crime exemplar não é atirar o retardatário para debaixo de um eléctrico, é o retardatário sorrir à chegada
"Estava um frio danado. Ele marcara-me encontro às sete e um quarto na esquina da Venustiano Carranza com a San Juan de Letran. Não faço parte dessas pessoas absurdas que adoram os relógios e os veneram como a divindades indestrutíveis. Sei perfeitamente que o tempo é elástico e que se nos dizem sete e um quarto, isso pode significar sete e meia. Aliás, tenho um espírito largo e sempre fui tolerante, um liberal da velha guarda. No entanto, há coisas que nem mesmo um liberal como eu poderá alguma vez aceitar. Que eu chegue à hora aos encontros não obriga os outros a fazer o mesmo, mas isto só até certo ponto, e concordarão comigo que esse ponto existe. Já disse que estava um frio horrível e que nesse cruzamento do diabo soprava uma ventania impossível. Sete e meia, vinte para as oito, dez para as oito, oito horas. É perfeitamente lógico que me pergunte porque é que não me fui embora. É simples: sou um homem de palavra, um pouco antiquado se prefere. Quando decido fazer uma coisa, faço-a. Heitor tinha-me marcado encontro para as sete e um quarto, e nunca me teria passado pela cabeça faltar a esse encontro. Oito e um quarto, oito e vinte, oito e vinte e cinco, oito e meia e Heitor nada.
Estava completamente gelado: doíam-me os pés, as mãos, o peito e os cabelos. Na realidade, se tivesse vestido o meu sobretudo castanho, talvez isto não tivesse acontecido. Mas os desígnios do destino são misteriosos; asseguro-lhe que às três da tarde, quando saí de casa, nada fazia prever a ventania que se levantou. Vinte e cinco para as nove, vinte para as nove, um quarto para as nove. Estava enregelado e roxo. Ele chegou às dez para as nove: calmamente, sorridente e satisfeito. Trazia vestido o seu sobretudo cinzento e as luvas forradas. E assim, sem mais nem menos, saudou:
— Olá! Estás bom?
Não pude deixar de o fazer, empurrei-o para debaixo do eléctrico que ia a passar."
in Crimes exemplares, de Max Aub, tradução de Jorge Lima Alves, Antígona, pp. 57-58
Agora imaginem que isto se passa num ensaio, sem eléctricos à mão.
Thursday, May 21, 2009
O absentismo
O que dá cabo do teatro, em especial do amador, não é a incapacidade ou a limitação, mas o absentismo, esse sempre tenebroso absentismo. Não há nada que possa arruinar melhor um ensaio que uma falta, e não há nada que possa aruinar melhor uma produção que uma sucessão de faltas. Ou atrasos, que são faltas às prestações.
"Acordei tarde no dia seguinte. Quando cheguei ao teatro já toda a gente estava à espera na sala de ensaios. Fiquei tão embaraçado que, em vez de pedir desculpa, disse unicamente:— «Parece-me que cheguei um pouco atrasado». O assistente do director, Rakhmanov, lançou-me um longo olhar torvo e disse finalmente:
— Estamos fartos de esperar por si! Estamos todos enervados e sob tensão, e tudo o que encontra para dizer é que lhe parece que chegou um pouco tarde!... Chegámos aqui cheios de entusiasmo, prontos para começar, e agora, por sua causa, ninguém já tem vontade de trabalhar. Ë difícil fazer despertar a inspiração criadora mas destruí-la é extremamente fácil. O seu próprio trabalho depende unicamente de si, mas não tem o direito de dificultar o trabalho dos seus camaradas. O actor, como o soldado, tem de submeter-se a uma disciplina de ferro.
Apesar das minhas desculpas, Rakhmanov decidiu acabar ali a aula. O primeiro ensaio devia ser um acontecimento importante na vida de um actor e guardar-se dele a melhor recordação possível. Naquele dia eu tinha estragado tudo com o meu desleixo: o ensaio foi adiado para o dia seguinte."
in A PREPARAÇÃO DO ACTOR, de Konstantin Stanislavski, tradução de Artur Ramos, Editora Arcádia, pg.17
Tuesday, May 5, 2009
Boal, aplausos e o Cortejo
Daqui a algumas horas a cidade do Porto será percorrida por centenas de estudantes num cortejo. É o Cortejo dos estudantes.
Há dias morreu Augusto Boal combatente incansável e humorado das ditaduras, morreu às mãos da mais derradeira das ditaduras, a leucemia.
Há dias morreu Boal, numa data vizinha do 1º de Maio, onde tantas outras pessoas se manifestavam e corriam as ruas que hoje o Cortejo vai percorrer.
Há dias um grupo improvisado de cidadãos na sua maioria jovens, especializados e filhos da liberdade, manifestou-se na rua contra o facto de serem trabalhadores precários. Esta manifestação seguia no fim - na cauda - da outra muito maior das centrais sindicais.
Há dias percebi definitivamente que somos a geração que pôde emergir e verdadeiramente crescer depois de uma ditadura apenas para se ver a braços com ser precários, para se ver a braços com ser coisa nenhuma, uma especializada, investida, reflectida e livre coisa nenhuma.
Há dias morria Augusto Boal. Algumas pessoas sentiram que morrera um espírito livre, algumas pessoas lamentaram que a Terra tivesse ficado mais pobre de um dramatugo, professor, teatrólogo e encenador teatral. Algumas pessoas chocaram-se com a notícia como se tivesse sido de uma bomba na sua cidade natal.
Isto aconteceu há dias e hoje passa um cortejo de estudantes pelas mesmas ruas por onde se manifestavam os restos de uma geração.
Os estudantes vão passar e há dias eu achava que tudo isto era uma valente macacada e macacada era gritar pelas ruas, e a macacada das praxes, e a macacada dos trajes, e a macacada das "actividades académicas", e a macacada do queimódromo e a macacada das barraquinhas e a macacada das cervejas e a macacada dos meninos que estão à frente dos carros e que estão à frente das negociatas das cervejas e que estão à frente na macacada do número de matrículas, e da treta e da macacada dos doutores e dos caloiros que andam pelo chão para se darem a conhecer melhor e a macacada dos meninos e meninas que vão orgulhosamente ser vistos pelo INEM por estes dias.
Eu achava que tudo isto era uma macacada.
Mas agora percebo que a liberdade é também ser-se macacóide.
Há dias Augusto Boal foi a cremar, calculo que ao subir o fumo das suas cinzas no crematório todos os presentes tenham aplaudido, como na morte se faz às pessoas de teatro. Calculo que todos tenham aplaudido e que essa tenha sido a feliz revolução contra a última ditadura - ditadura de dentro de um homem só, com uma única vítima mortal.
Há dias ter-se-á ouvido aplausos numa cremação. Hoje ouvir-se-á um cortejo a passar.
Mas atentem como as palmas a um homem nobre ensurdecem tudo o resto.
Friday, May 1, 2009
Precários de Todo o Mundo - Uni-vos!
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Dia 1 de Maio: dia do trabalhador precário.
Síntese do que é um trabalhador precário da nossa geração:
Recibos verdes (independentemente da continuidade do trabalho para o qual se foi contratado)
Sem direito a subsídio de desemprego (independentemente da duração do trabalho para o qual se foi contratado)
Obrigatoriedade de contribuição à Segurança Social (independentemente do pouco que tenha recebido do trabalho para o qual se foi contratado)
Obrigatoriedade de pagar do seu bolso um seguro de saúde (independentemente da instituição para o qual se foi contratado)
O que isto dá é que a geração que pôde escolher o seu futuro, uma geração com formação superior, encarnação da liberdade de escolha por que um país lutou e venceu, vive na inconstância não do desemprego (que é outra conversa) mas da mais completa falta de dignidade nos empregos que têm, e - como aconteceu dizerem-me hoje - receber a horas é uma sorte.
Nós - actores, professores, designers, arquitectos, jornalistas, bolseiros de investigação - nós éramos para ser a verdadeira geração auto-estrada e levarmos o país para mais longe; nós éramos para ser algo mais do que precários; nós éramos para ser algo mais que um outro lado da miséria; nós éramos para ser algo mais do que a sorte de receber a horas.
Portugal todo devia sentir vergonha.
Porque nós somos os seus filhos,
E isto não se faz a um filho. 
Mais informações neste Blog ou neste outro, sobre os recibos verdes.
Thursday, April 30, 2009
Livro do Dia: Dramaturgia de Abril
No último dia deste Abril em que a Revolução dos Cravos fez 35 anos recomenda-se este conjunto de 8 peças em 1 acto, com prefácio do recentemente desaparecido crítico de teatro Carlos Porto.
O livro pode ser encontrado aqui.
Wednesday, April 29, 2009
O que é a quarta parede?
Se imaginarmos que o palco tem três paredes - as dos lados e o fundo - temos uma boa ideia do que será a sua quarta parede: aquela que isola e separa o que se passa em cena do público. Esta quarta parede não existe, mas procede-se em cena como se existisse, fazendo tudo como se não houvesse olhares exteriores, isto isola o actor e concentra a sua atenção no que está a fazer e não no público.
Os espectáculos podem portanto ser de dois modos: com e sem quarta parede.
Exemplo: João chega a casa, Maria está na sala com André, amigo de João, com quem Maria tem um caso. João surpreende os dois num grande e inocente beijo.
Com quarta parede: passa-se somente o que foi descrito, como se isto se passasse numa sala normal, fora do teatro.
Sem quarta parede: João olha para o público ao entrar, depois para o casal de amantes, Maria repara que está ali João e olha para o público, assustada, chama a atenção de André e este também olha para o público com expressão "Agora é que estou tramado".
Acontece às vezes haver e depois deixar de haver quarta parede, mas é arriscado, pois se abre para o público o que custa a fechar.
Tuesday, April 28, 2009
Encenação/Direcção de Actores - Eimuntas Nekrosius
Eimuntas Nekrosius, encenador lituano poderosíssimo, que o Porto teve há uns anos o privilégio de ver via Ponti* (Porto Natal Teatro Internacional - extinto festival organizado bianualmente pelo TNSJ), dizia de si ser um encenador de "papel e caneta" pois procurava em casa, antes do ensaio do dia seguinte, escrevendo e escrevendo, o que fazer depois com os actores, pois "o encenador não deve fazer experiências com os actores" chegando à sala sem saber que tarefas lhes dar (para alimentar a sua criatividade e não, como muitas vezes se julga, para fazer precisamente as formas que o encenador quer).
Que grande lição de como fazer poesia em cena com os actores e não apesar dos actores.
A sua companhia na Lituânia é a meno fortas, o que significará Força da Arte.
*O Porto - e Portugal por consequência - deixou de ver Nekrosius nos palcos do TNSJ, mesmo com lotações esgotadas de todo o país e uma febre Nekrosius alimentada por produções tão extraordinárias quanto longas (3 a 4 horas) de Tchékhov, Shakespeare e outros, pois quem o trouxe deixou de o trazer uma vez que, citando, "O porto já teve Nekrosius que baste". E ficámos condenados às grandes referências regionais mas, por mais que procure no índice, nenhuma delas figura aqui. E Nekrosius sim.
Tuesday, April 21, 2009
Meyerhold e Bogdanov
Um interessante video que mostra Estudos de Biomecânica e ainda depoimento de Guennadi Bogdanov, actor e professor, com quem muitos aprenderam em primeira mão Biomecânica, entre os quais o autor deste blog.
Wednesday, April 8, 2009
Isabel Alves Costa: Desejo de Teatro - o Instinto do Jogo Teatral Como Dado Antropológico - Livro do Dia
Um livro fabuloso, resultado da pesquisa, da observação, da curiosidade e do doutoramento de Isabel Alves Costa, que nos vem dizer que a criança quer e deseja fazer teatro. Teatro com público. E diz-nos que esse desejo será ou não concretizado, apoiado ou não e assim se definirá a relação do adulto (que esta criança virá a ser) com o teatro e com o desejo de teatro dos outros.
Indispensável a qualquer educador que se interesse,debruce ou tome em consideração o teatro na criança.
Thursday, April 2, 2009
Theatre Games, de Clive Barker - Livro do Dia

Este livrinho tão discreto encerra o encontro entre questões importantíssimas como o que é na verdade a actividade do actor e como a abordar.
Está aqui o impagável o saber de um homem (o seu autor) que não pretendendo de início ser actor acabou por ver-se a bater com a cabeça nas paredes das suas próprias limitações até compreender que não se vai para cena para "fazer alguma coisa acontecer" mas para "deixar que alguma coisa aconteça", assim apresenta-nos observações dos passos que teve que percorrer - o que veio a desembocar na descoberta do Jogo como meio de articular a prática das ferramentas do actor. Cruzando Laban, Stanislavski (um pouco), Alexander (o da Técnica Alexander), Feldenkrais e em especial os jogos infantis.
Tuesday, March 31, 2009
Censo Quase Sociológico da Cretinice
Há uns anos largos, estávamos nos primeiros anos de um curso superior de teatro, num tempo suficientemente longínquo para ser outro tempo, tivemos aulas com uma mestra do teatro: Polina Klimovitskaya.
Era uma grande senhora russa, encenadora, professora de criatividade do actor.
As suas aulas eram diferentes de tudo porque se baseavam em estímulos como animais ou até mesmo nas suas histórias ou nas histórias dos mestres russos que a antecediam.
Fazia assim uma ponte entre a história do teatro e a nossa pequena cidade do Porto - cidade em tudo só um pouco maior que as outras pequenas.
Esta professora orientava processos estranhos e longos, especialmente longos, e nunca como ali se via algum aluno a fazer algo que se separasse tanto da expressão mais evidente da sua personalidade, expressão que seria o ponto alto expectável em outras ocasiões, em outras aulas.
As suas eram aulas estranhas mas eram aulas onde acontecia sempre qualquer coisa, de onde saíamos diferentes, e sempre com a palavra arte especialmente sublinhada nas nossas cabeças.
Ora bem, esta professora não deixava de ser alvo de cretinice: adolescentes acabados de entrar numa escola a achar que na sua opinião de jovens - com a frequência de, no máximo, workshops ou encenador regional com carisma regional - aquilo devia ser de outro modo ou estava errado ou era místico demais ou o diabo a quatro. Temos então jovenzitos que falam desabridos com especial propriedade na sua in-cri-vel-men-te infundamentada opinião com uma senhora com idade para ser sua mãe, professora e directora de actores em vários países, doutorada por Yale, russa a falar de coisas russas que só poderíamos conhecer de livros e, em especial, dona de uma pedagogia sempre positiva e da imaginação do actor e do aluno.
E é este o ponto em que podemos afirmar, no nosso censo quase sociológico, que existe muita cretinice. Existe e existe e existe.
E se existia para esta mestra, infelizmente não podemos esperar outra coisa na nossa vida de professores, meros mortais que somos.
Polina dava sempre respostas inteligentes como mulher inteligente que era, tenhamos esperança de o tempo nos ensinar essa sabedoria e graça de espírito.







