Tuesday, December 21, 2010

Onde encontrar centenas de peças, ensaios, dicionários, cds e dvds de teatro. Tudo actual, surpreendente e a custo zero.

Imaginem que estão no Porto e têm uma tarde livre.

Imaginem que vocês são alunos, professores, profissionais, investigadores ou curiosos de teatro.

Imaginem que dão convosco a pensar "Onde poderia eu

ver fotografias das cenografias do Josef Svoboda?

ou

ler o catálogo do Museu de Teatro da exposição sobre o Mário Viegas?

ou

ver o que diz o Harold Bloom sobre a questão da homossexualidade no Mercador de Veneza?

ou

folhear a tese de Doutoramento da Francesca Rayner a estudar a transgressão sexual em 3 encenações de Shakespeare?

ou

também folhear a tese de Doutoramento do João Mendes Ribeiro sobre arquitectura e cenografia?

ou

saber o que é o Psycophysical Training de que fala o Phillip Zarrilli?

ou

ver em dvd Il Silenzio de Pippo Dell Bono?

ou

também ver em dvd Orpheus und Eurydike, dança-opera de Pina Baush?

ou

conhecer o dramaturgo polaco contemporaneo Rafal Maciag e a sua peça O Bufão, na tradução espanhola?

ou

ouvir as peças para rádio de Samuel Beckett?

e

acompanhá-las com a edição dos Complete Dramatic Works do mesmo?

e

descobrir a antiga edição da Arcádia do Teatro do ainda Samuel Beckett?"

Se pensassem algo disto, ou algo que envolvesse publicações de/e sobre teatro então só teriam que ir a um espaço que
- tem tudo isto (e muito mais)
- é de livre acesso (mas sem empréstimo domiciliário)
- onde se podem surpreender com o vosso próprio browsing ou acompanhados em conversa, como eu hoje. No Centro de Documentação do Teatro Nacional S.João.

(TNSJ que artistica e politicamente é-me questionável mas também cem vezes admirável pela criação deste centro que pode, com tanta informação de qualidade, revolucionar o teatro da cidade)

p.s. a abundância é tanta e tão boa no Centro que na 1ª vez disse repetidamente para mim "Este livro não tenho" até ter dito, à 2ª vez, "Deixo de comprar livros, vou ler ao Centro"

Saturday, December 18, 2010

"Sem papas na espinha" de Vítor Silva e Margarida Ferndandes - Contagiarte sábado 18 dezembro, 22.30h


(foto Pedro Varela flickr rucativava)


Descaramento, improvisação, ópera e peixeirada.
entrada 5 carapaus

Inde ver!

Thursday, December 16, 2010

Castings - favores e desfavores - um caso

Há um anúncio de casting para o Teatro A.: mandar cv e fotos. Precisam de homens e mulheres. Mando eu e manda X, actriz.

Dias depois X recebe um telefonema, fica gravada na mensagem a voz de R.C. da produção da peça: os seus elementos foram recebidos, a data do casting foi marcada.

Digo a X "Eu conheço essa voz e esse nome, pois conheço R.C. desde a nossa adolescência em Braga e sabia que trabalhava na produção executiva do Teatro A.".

Acescento aqui que as nossas relações nunca foram lá grande coisa. Não esperava nenhum favor. Mas também nenhum desfavor.

Os dias passam, não recebo nenhum telefonema. Penso desde então, reescrevendo a minha própria recordação, que nunca terão tido necessidade de homens, daí não me ligarem.

Os actores são perfis. De corpos, de caras, de cv por vezes.
E quando soube que G. actor como eu, com mesma formação que eu, com a mesma cor de cabelo, estatura e compleição semelhante e menor experiência profissional, havia sido chamado, percebi que coisa era um desfavor.

R.C. havia interferido, inquestionavelmente.

X foi à audição dos papeis femininos.

X ficou à espera da audição, no Teatro A. 6 horas, desde a hora marcada até de madrugada (aparentemente a hora marcada era marcada para todas as actrizes): perguntaram-lhe se vivia sozinha, com quem vivia, se se importava de despir em cena, e para fazer de rato e frigorífico.

Não sei R.C. pretendeu poupar-me a isto mas a verdade é que nunca tive oportunidade de descobrir.

"Sou mãe de uma actriz profissional de dez anos"

Diz-me a senhora, ao lado da sua outra filha, estudante de Direito e nenhuma das duas parece incomodada.

- Isso não é possível, digo eu, porque não se pode ser profissional de coisa nenhuma aos dez anos.

A conversa continua. A senhora continua, diz que a criança é actriz do La Féria.

Eu sabia que esta conversa visava impressionar-me, mas não sabia que tanto e desta maneira.

Continua ela, que os ensaios eram algo exigentes "pois saíam de lá muito tarde, e o encenador parecia esquecer-se de estar a lidar com crianças (?) mas que na altura do espectáculo era mais leve pois entrava às 21h para sair às 24h".

Mas se é uma criança de dez anos com horário de adulto, penso.

Diz-me ainda a senhora que "de facto, alguém tem que passar o recibo por ela, e que se a comissão de protecção de menores soubesse...", a filha mais velha, ao seu lado, estudante de Direito, continua a não parecer incomodada. Percebi que a esta não interessava o Direito e que a aquela interessava que a comissão de protecção de menores não soubesse que a mãe ia pôr a filha a render, num trabalho de que "a miúda gosta".

Ninguém lhe disse que além de ilegal era imoral.

Saturday, November 27, 2010

Conferência sobre o tema do (meu) doutoramento em curso

Na próxima Segunda-Feira 29 de Novembro, farei a conferência "O Prazer e o Medo no Jogo Dramático em contexto de aula de Expressão Dramática/Teatro", às 18h30m, na Sala B2 do Edifício de Belomonte.

Esta conferência integra-se no Ciclo de Conferências do Departamento de Teatro e Cinema.

Tem um nome grande mas resume-se a 3 pontos:

1. Há uns anos que dou aulas de Jogo Dramático (ou Jogo e Expressão Dramática), por isso ando às voltas com o que isso é há tempos;

2. Fui para um doutoramento apostado em estudar isso mesmo;

3. Dou comigo a estudar o Prazer e o Medo e de como se pode estimular um e contornar outro exactamente pelo Jogo Dramático.

esse modo e as fundamentações só as darei quando defender a tese e em exclusivo na conferência, por isso para saber porque é bom que usemos jogos nas aulas (mas não todos ou qualquer um) apareçam.


Entrada Livre

Para mais informações:

Departamento de Teatro e Cinema da ESAP

E-mail: Dep.teatroecinema@esap.pt

Friday, November 26, 2010

Um abraço ao tio rico cuja mulher foi para longe, enquanto os primos passam dificuldades

Abraçou-se o Teatro Nacional S.João. Foram entre 1200 e 200o pessoas (conforme as fontes). Estavam pessoas das escolas de teatro (alunos e professores), estavam celebridades, profissionais (a participar no actual espectáculo do TNSJ), e ainda estavam anónimos.

Foi notícia abraçar-se um teatro que não vai falir, que não passa dificuldades, cujos membros não precisam de emigrar, que tem um orçamento milionário e cobra bilhetes a preços comerciais e, mesmo assim, produz trabalhos que são somente criações pessoais, apresentados como criações pessoais, com as arbitrárias consequências de qualquer criação pessoal, tendo o selo deste ou daquele criador - mas com a diferença fundamental de ser feito com muito dinheiro, num espaço sociológico que automaticamente imprime um selo de "qualidade superior".

As últimas produções de qualidade que vi no TNSJ foram acolhimentos: A Mãe, de Bertolt Brecht, pelo Teatro de Almada/Encenação de Joaquim Benite; Idiotas, a partir de Dostoiévski, pelo Memo Fortas/encenação de Eimuntas Nekrosius.

Paguei para os ver.

Assim como paguei para ver as estopadas do Platónov, de Anton Tchékhov/encenação de Nuno Cardoso, Turismo Infinito, a partir de Fernando Pessoa/encenação de Ricardo Pais e Breve Sumário da História de Deus, de Gil VIcente/encenação de Nuno Carinhas - produções da casa.

Muitos dos que foram fotografados a abraçar o teatro não pagaram, nem pagam. Não vêem as peças pensando se vale o dinheiro e a espera na fila.

Seguem as perguntas e respostas sobre este tema:

"Tem o TNSJ a qualidade superior que o seu selo dá a entender?"
Não.
Tem muito dinheiro e pessoas como todas as outras.

"Valem as produções do TNSJ mais que as outras?"
Não.
São feitas apenas com muito dinheiro e em salas quentes, grandes e douradas.

"Saímos modificados das produções do TNSJ?"
Não.
Saímos enfastiados, porque é só mais uma criação deste ou daquele criador, sabendo invariavelmente a desnecessário.

"A cidade do Porto deve muito ao TNSJ?"
De facto sim, como deve a qualquer instrumento de poder e legitimação do poder: muitos da cidade do Porto estarão eternamente agradecidos ao TNSJ pela elevação simbólica que lhes trouxe a sua associação com o TNSJ.

"Então, sendo assim, se o TNSJ é dessa maneira, quem devemos abraçar?"
Abrace-se antes os não alinhados, os que não têm padrinhos, que não estão dentro do sistema, que fazem um trabalho não comprometido, independente e - ponto vital que o TNSJ falha completamente a dar - artisticamente pertinente. Por exemplo:

LaMarmita, na dança-teatro e música

Nuizis Zobop, nas novas linguagens e escritas performativas

Dois Pontos Associação Cultural, na descentralização das actividades culturais, em especial teatro e poesia

Isto só para falar de estruturas próximas, que são tenazes sobreviventes persistindo com um trabalho ímpar, de uma riqueza artística inversamente proporcional aos seus baixos orçamentos, sem padrinhos, sem papás, e sem o tio rico.

Wednesday, November 24, 2010

10 euros ou o porquê de não abraçar um Teatro

Hoje, dia da Greve Geral, agenda-se um abraço ao Teatro Nacional S. João. Este mudará de modelo de gestão, o que implica outra distribuição de poderes e eventualmente de dinheiros, que por sua vez já foram diminuídos entretanto e etc.

Portanto vai-se abraçar o Teatro Nacional S. João, no que será um abraço simbólico ao teatro todo, ao teatro da região norte, ou ao teatro dos que se sentem desfavorecidos e etc.

No entanto, por mais simbólica e semioticamente importante que seja esse gesto, a verdade é que não se vai abraçar nenhum grupo ou grupos realmente desfavorecidos; não se vai abraçar uma companhia sem rede; não se vai abraçar criadores em dificuldade, ou emigrados, ou exilados; não se vai abraçar senão um grande edifício de teatro, bonito, quente, aristocrático.

Vai-se abraçar esse ideal e a esperança de que esse ideal vingue: que possamos todos fazer um dia um teatro quente, bonito e aristocrático. Em que tenhamos não subsídios mas orçamento e mesmo assim cobremos bilhetes à média de 10 euros para se ver as nossas criações adjectivadas como "espectáculo de variedades, uma criação transdisciplinar, ou… um projecto ricardopaisiano".

Vai-se abraçar um parente rico.

Eu não vou.

Monday, November 8, 2010

Pick & Mix - o estado das escolas de teatro

No Blog de Mark Westbrook encontramos este maravilhoso termo, que sintetiza tão bem pegar-se no que quer que seja, meter no saco e aí vamos nós!

Façamos qualquer coisa, não importa o quê, nem como que tudo dá para formar actores!

Façamos misturas, e coisas que nos ocorreram quando viajávamos na net!

Façamos umas cenas, umas ideias e ao fim de 3 ou 4 anos o micro-ondas apita e já está!

Como diz o meu professor Guennadi Bogdanov, está tudo muito bem em fazer isto e aquilo (...Pilates, Yoga, stretching, danças latinas, magia, new-age disto, new-age daquilo) só não é teatral.

E eu só conheço (do que vejo fazer-se ou não nas escolas que conheço) duas coisas que o são:
Biomecânica de Meierhold
Técnica da Máscara.

O resto é pick & mix.

Wednesday, November 3, 2010

"Reforço Positivo"

Fui ver um jogo de Vólei.
O treinador de uma das equipas aproveitava o tempo disponível não para recomendar remates mas para admoestar os jogadores "fizeste mal isto e fizeste mal aquilo". A sua equipa não jogou melhor nem depois do primeiro nem do segundo sermão. Mas ele lá continuou, praguejando, amuando e dando a impressão de que não era ele um treinador mas um inimigo raivoso.

É claro que perderam.

Só com este exemplo ganhei o dia: há alturas para criticar e essas não são concerteza quando a coisa acontece, seja jogo ou ensaio. Aí, treinadores ou professores, actores ou jogadores, mandamos a bola para a frente.

Só depois é que acertamos contas.
Ou perdemos logo - que foi o que aconteceu a partir do primeiro berro.

LIVRO DO DIA - Estudos sobre Teatro, de Bertolt Brecht



Livro antiguinho, de estudos coligidos por Siegfried Unseld e traduzidos por Fiama Hasse Pais Brandão (com colaboração de Lieselotte Rodrigues).

Para sabermos que o que mais se faz é querer embalar o espectador em vez de mudar o mundo.

Saturday, October 30, 2010

João Paulo Seara Cardoso

Disseram-me ontem à noite e pareceu-me que o mundo começa a cair aos pedacinhos, como uma dentadura.

Foste o meu primeiro encenador e levaste-me àquela maluqueira da EXPO 98 "Então Nuno, queres entrar nesta loucura? Vais ser visto por milhões!"

E foi assim.

E depois também entrámos em conflito.

E também nos fomos encontrando mais tarde, mais pacificamente, na rua, em espectáculos e por aí.

A última vez foi há coisa de meses perto da Esap e mais uma vez te disse que lá dava aulas, falámos do teu Museu (da Marioneta) que estava a andar, mas ainda não estava pronto.

Fazias um Roberto incrível, não me lembro quando o vi, talvez em 2003, e devo ter sido dos milhares ou do milhão de afortunados a ter-te visto a tourear o "Torinho".
Se aquilo não tinha piada!

A tua companhia tinha feito 20 anos e tu estavas a meio de coisas.
Alguém te toureou agora.

A única consolação que imagino é que lá, onde estiveres agora, estás com o David Sobral, que te admirava e a quem as luzes também se apagaram demasiado cedo.

Um abraço
e obrigado.

Friday, October 29, 2010

Workshop Teatro na Católica, Porto


A Área Estudantes e Empregabilidade promove

Workshop de TEATRO

na Católica, Porto.

Formador: Nuno Meireles

Inclui módulos de Expressão Dramática, Voz e Teatro

De Novembro 2010 a Fevereiro 2011

(segundas e quartas-feiras das 20.30h às 22.30h)

Campus da Foz

1ª sessão: quarta-feira, dia 3 de Novembro às 20h30

Mensalidade: 50 €

Inscrições até 29 de Outubro junto da Área Estudantes e Empregabilidade

Mais informações na Área de Estudantes e Empregabilidade através de
ee.geral@porto.ucp.pt
Tel. 226 196 266

Programa Curso de VOZ/EXPRESSÃO DRAMÁTICA/TEATRO

1 – Expressão Dramática: Novembro
Estar à vontade
Expressar-se e comunicar melhor com corpo/voz
Desenvolver criatividade e sensibilidade no gesto, movimento e som
Jogo dramático
Improvisações
Exercícios

2 – Voz: Dezembro
Aquecer, poupar e expressar variadamente em ritmo e entoação
Aplicar à transmissão de conteúdos e interacção com outros
Exercícios
Leituras encenadas de poemas

3 – Teatro: Janeiro Fevereiro
Ensaiar cenas de peças
Ser co-autor de um espectáculo
Representar uma personagem e um texto dramático
Combinar e consolidar os módulos anteriores
Apresentar-se a público
Peça/cenas de
O Círculo de Giz Caucasiano, de Bertolt Brecht/O Mercador de Veneza, de William Shakespeare
Apresentação pública

Thursday, October 21, 2010

Workshop de Teatro, na Católica para estudantes, ex-estudantes e colaboradores da UCP

A Área Estudantes e Empregabilidade promove

Workshop de TEATRO
na Católica, Porto.

Formador: Nuno Meireles
Inclui módulos de Expressão Dramática, Voz e Teatro

De Outubro 2010 a Fevereiro 2011
(segundas e quartas-feiras)

Campus da Foz
1ª sessão: segunda-feira, dia 25 de Outubro às 20h30
Mensalidade: 50 €

Inscrições até 22 de Outubro junto da Área Estudantes e Empregabilidade

Mais informações na Área de Estudantes e Empregabilidade ou através de

ee.geral@porto.ucp.pt
Tel. 226 196 266

Wednesday, October 20, 2010

A verdadeira formação de públicos

são duas:

política - ajudar a que todos consiguemos ir atrás do que queremos, actores, espectadores, pessoas

técnica - fazer teatro tão bom que seja insuperável e tratá-lo com o respeito que pedimos a quem nos vem ver


(e essa coisa da "educação de públicos" é esquecê-la por ser uma treta)

Monday, October 11, 2010

Um blog, uma criação teatral em directo

Já pensaram em espreitar os ensaios de uma peça, só para ver como eles fazem?

Já o podem fazer: As Cebolas de Napoleão.

Uma criação da ESTE e de Nuno Pino Custódio.

Escuso dizer que até à estreia mato o enorme apetite por bom teatro com a leitura do blog.

Obrigado aos seus autores.

Tuesday, September 28, 2010

Gente nova vícios velhos

Há uns dias, numa formação que dei, o aluno x tinha as prioridades erradas:
o seu cigarro tinha prioridade sobre a aula
as suas piadas tinham prioridade sobre os exercícios dos outros
o que lhe vinha à veneta dizer tinha prioridade sobre o ensaio

(e, à noite, no intervalo da peça que fomos ver)
a sua opinião formada tinha prioridade sobre as dos colegas.

Tudo isto só com 17 anos.

Daqui a dois anos está numa escola de teatro. E já está assim.
Uma maçã podre.

Um texto dado para casting

Este é um peculiar texto dado para um casting:

OS SEGREDOS OBSCUROS DA RUA SESAMO
Quem não se lembra da Rua Sésamo? (provavelmente muita gente…) Quem não se lembra das personagens desta série? (provavelmente os mesmos que não se lembram da série…) Pois, estou a ver que ainda há quem tenha passado tardes colado a ver o Poupas a cantar, o Monstro das Bolachas a comer, o Ferrão a resmungar, o Egas e o Becas a comerem-se, etc.. Os nossos pais gostavam que nos víssemos esta série pois pensavam que era educativa, mas enganaram-se. Se aprofundarmos bem as personagens e as suas características chegamos a conclusão que a Rua Sésamo é a principal causa da sociedade de vícios e da juventude “podre” sem valores morais em que vivemos. Ora vamos analisar as personagens.
Monstro das Bolachas – Era um animal “viciado” (palavra chave da sociedade actual) em bolachas, sendo as bolachas um alimento, estamos perante um incentivo a obesidade, que como todos sabemos é um dos grandes problemas da sociedade.
Ferrão – Era um animal que vivia dentro de uma pipa, certamente porque tinha vergonha do seu corpo, logo, estamos perante um caso muito actual, ou seja, a aparência que na juventude leva pessoas a passar por terríveis problemas como: Anorexia,bulimia, etc… Outro aspecto, o Ferrão passava a vida a resmungar, logo dai nota-se um nível elevadíssimo de stress, que como todos sabemos é uma das mais graves doenças intelectuais do momento.
Poupas – Se bem se lembram, o Poupas era a personagem mais mediática da série, e era também a única que interagia com as crianças, o que me leva a pensar que estamos perante um caso de pedofilia, pois pelos vistos não era só o pescoço que era grande…
Eu andei a investigar e descobri que quem vestia a pele de poupas na série era um ilustre desconhecido de seu nome Paulo Pedroso, que mais tarde se encontrou ligado a um caso de pedofilia…coincidências não?
Egas e Becas – Eles aparecem aqui juntos de uma forma propositada, pois como todos sabemos eles são gays, e depois da música da Gloria Gaynor – I Will Survive, estas duas personagens são o maior incentivo aos jovens para a prática da homossexualidade. O mais engraçado é que os produtores da série ainda tiveram o cuidado de separar as camas, para não tornar tão explícito, mas o nome das personagens logo os denunciaram.
Resta-me lamentar a todos aqueles que levaram muito a sério este programa “infantil”, e que neste momento fazem parte do lixo da sociedade.



Para mim isto é arrepiante.
É o mais perfeito reflexo do tal "lixo da sociedade".
Está errado moralmente, humoristicamente, tecnicamente, ortograficamente, gramaticalmente. É preconceituoso, mal feito, ao estilo de "stand-up-follow-my-idea", não tem ideia nem piada, e é um pedaço de lixo. E vai dar lixo.

Friday, September 17, 2010

Porque se paga 10 euros por bilhete a companhias subsidiadas?

Porque nos cobram 10 euros (10 pessoas = 100 euros; 100 pessoas = 1000 euros) companhias subsidiadas em dezenas de milhares de euros?

Porque nos cobra o Teatro Nacional - o mais apoiado e desafogado dos teatros - 10 euros de entrada?

É um engano, é desonesto, essa é a lógica comercial dos teatros comerciais.
É uma fraude e uma extorsão

Jogos Dramáticos - A substância do espaço

Mais um jogo dramático, desta vez de Viola Spolin

A substância do espaço

Após os exercícios preliminares de envolvimento com objetos terem sido usados, A SUBSTÂNCIA DO ESPAÇO deve ser introduzida e repetida pelo menos mais oito sessões como aquecimento. Ela é útil para o relaxamento do grupo em qualquer momento. Uma vez que existem muitas variações possíveis, o professor-diretor deve determinar o seu uso nas sessões subsequentes. Quanto mais frequente ele for usado, mais perfeitos serão os alunos-atores na criação e construção de objetos "a partir do nada" e em "deixar as coisas acontecerem".

A. CAMINHAR NO ESPAÇO
Grupo grande (não é necessário platéia)
Peça aos alunos-atores para se moverem pelo palco, dando substância ao espaço na medida em que caminham. Eles não devem sentir ou mostrar o espaço como se fosse um material conhecido (água, lodo, melado etc.), mas devem explorá-lo como uma substância totalmente nova e desconhecida.

INSTRUÇÕES: Atravesse essa substância e estabeleça contato com ela. Não dê um nome a ela - ela é o que é! Use seu corpo todo para estabelecer contato! Sinta contra o queixo! O nariz! O joelho! Os quadris!
Se os jogadores tentarem usar somente as mãos, faça-os ficarem com elas junto ao corpo para que se movam como uma massa só.
Continue dando instruções: Empurre-a. Explore. Você nunca sentiu essa substância antes. Faça um túnel. Volte pelo espaço que seu corpo moldou. Faça a substãncia voar. Movimente-a. Faça ondas.


SPOLIN, Viola (2003) Improvisação para o Teatro. São Paulo: Edições Perspectiva, pág. 73-74

Tuesday, September 14, 2010

Jogos Dramáticos - O urso de Poitiers

Mais um Jogo Dramático, desta vez de Augusto Boal

O urso de Poitiers

Um participante é escolhido para ser o urso de Poitiers (cidade francesa onde se pratica esse jogo). Dá as costas aos outros, que são os lenhadores. Estes devem estar trabalhando, em mímica. O urso deve emitir um enorme rugido, todos os lenhadores caindo no chão ou ficando imóveis mesmo de pé, sem fazer o menor movimento, totalmente congelados. O urso se aproximará de cada um deles, rugirá quanto quiser, poderá tocá-los, fazer-lhes cócegas, empurrá-los, tudo que puder para fazer com que se mexam, riam, para obrigá-los a mostrar que estão vivos. Se isso acontecer, o lenhador se transformará em urso também, e os dois ursos irão fazer a mesma coisa com os outros lenhadores, que continuarão tentando não se mexer. Em seguida três, quatro ursos etc.

Esse exercício-jogo é muito curioso, porque produz o efeito contrário ao que seria o seu objetivo. O princípio é: se o lenhador adormecer os seus sentidos, se conseguir não sentir nada, se se fingir de morto, o urso não o atacará, porque os ursos não devoram mortos. A instrução "não sentir nada" provoca exatanente a reação oposta, e todos os sentidos se tornam hiperativados. Sente-se mais, escuta-se melhor, vê-se o que não se via, cheira-se o que não se cheirava - só fica de for ao paladar. O medo nos hipersensibiliza.


BOAL, Augusto (2005) Jogos Para Atores e Não-Atores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, pág. 111

Thursday, September 9, 2010

Jogos Dramáticos - O teu lugar favorito

Começarei a colocar aqui jogos dramáticos de modo a esclarecer melhor o que é um jogo dramático e a difundir jogos e livros que são uteis a quem queira mexer com a fantasia dos corpos e vozes de grupos.

A referência do livros segue sempre abaixo.


O teu lugar favorito

Pense num lugar agradável ou que lhe agrade - como um castelo, uma floresta, um jardim zoológico ou um pátio - e faça de conta que está a guiar o grupo através dele. Por exemplo, no castelo mostre-lhes uma passagem secreta, uma escadaria que range e os retratos pendurados num corredor. A visita não deverá demorar mais de um minuto. Quando acabar o tempo, escolha um jogador e peça-lhe para mostrar o seu lugar preferido ao grupo. Quando esse jogador tiver acabado, peça-lhe que escolha outro jogador para continuar o jogo e por aí adiante.
Os outros participantes deverão ficar imediatamente envolvidos na história. Quando o primeiro participante acabar e apontar outro participante, este deverá continuar num ambiente totalmente diferente.


ROOYACKERS, Paul (2003) 101 jogos dramáticos. Porto: Asa Editores S.A. pág.44

Monday, August 30, 2010

Teatro em Agosto: TeatroAgosto

Não há teatro em Agosto.

Os teatros fecham. Precisam de férias... Há mais tempo para todos, há até algum dinheiro, há visitantes daqui e dali e está tudo fechado, talvez estejam todos a aproveitar o seu tempo e dinheiro, mas noutro lado qualquer.

No Porto o TNSJ está de quarentena em Agosto, por outros lugares será o mesmo, menos no Fundão:
o Fundão fica a 4 horas de viagem do Porto, é uma pequena cidade e tem muita mais civilidade que o Porto, porque lá o teatro não vai de férias. Pelo contrário, em Agosto acontece o festival TeatroAgosto que oferece formação e espectáculos. E serão uns quaisquer, para divertir a malta, ou para fazer animação da cidade como é vulgar agora?

Não, é formação em artes de rua e em (este ano) Commedia dell´Arte; é programação de companhias de Lisboa, Itália, Espanha e do próprio Fundão.

Em relação à formação de Commedia dell´Arte, por exemplo será fajuta, dada por um jeitoso?
Não, é dada por Nuno Pino Custódio que, com a experiência que tenho de vários graus e escolas de teatro, se não é uma raridade em Portugal então não sei o que será: regras, conhecimento, sensibilidade artística, filosofia e objectividade. O que significa que as horas ali passadas correspondem em muito a muitos semestres e euros de cursos e workshops de gente que dá generalidades.

Em relação à programação será "o que o povo quer"?
Não. É cuidada, da mímica, à comédia mais hard-core, acabando nas próprias criações da ESTE - Estação Teatral, companhia residente no Fundão, sob a direcção do próprio Nuno Pino Custódio.

Aqui está um vídeo


Vão lá.

Wednesday, August 25, 2010

Subsídios ao teatro 2010

Sempre quis saber quem foi agraciado?
Sempre quis saber se os seus amigos foram apoiados?
Sempre quis saber se os seus inimigos também foram apoiados?
Tem uma enorme curiosidade sobre os montantes, as décimas e os cêntimos?

Sempre quis saber tudo isto e nunca teve pachorra para abrir todos aqueles pdfs da Direcção-Geral das Artes?

Então aqui está:

























Friday, August 13, 2010

Um poema vale menos que um café e um artista vale menos que um cliente

De há uns anos para cá tenho feito sessões de poesia. A história de como isto foi acontecendo é também a história do mundo do espectáculo ainda que num ponto pequeno: propostas de sessões às livrarias A, B, C e D; A não responde senão depois de C ter aceite e o espectador E ter recomendado; B protela e D aceita mas boicota pela negligência.

E negligência é a palavra-chave: o artista é sempre a última das prioridades. O microfone é sempre a última coisa a ser colocada, o som ambiente é sempre a última coisa a ser baixada, os cafés estão sempre a ser servidos. Aconteça o que aconteça os cafés têm que rolar.

Mário Viegas disse algures que quando não podia representar dizia poesia. Levei isto à letra e fi-lo, as mais das vezes graciosamente porque queria representar.

E quando um actor diz poesia - interpretada, como se fosse ele - isto causa impacto, sempre. Por pior que seja o actor. E se o actor trabalhar os poemas e a sua interpretação, mais impacto fará: sabe entrar, sabe suspender, sabe antecipar, sabe olhar, sabe comunicar.

Penso que todas as vezes que disse poesia fi-lo num propósito social: era um imperativo dizer aqueles poemas que falavam de brutalidades, de uma geração oprimida, de gente esquecida; era para mim uma urgência ajudar os parceiros junto de quem dizia poesia (livarias ou híbridos as mais das vezes) para se salvarem da extinção; e era - como disse - para me salvar a mim da inactividade como actor, uma extinção também.

Falava dos livros que leria, dos poemas e das livrarias; fazia o meu endorsement (que é sempre um perigo)e incitava a tirarem-nos a todos da extinção.

Mas digo-vos que nada disto tem valor, porque isto não é quantificável. Um cachet é quantificável; os espectadores que pedem cafés são quantificáveis; as vendas de livros são quantificáveis.

Aconteceu-me até, numa conhecida livraria de Braga, numa sessão que propusera de Pessoa (nada discutível) ao saberem que dava aulas na UMinho pretenderem que lá levasse os alunos a participar, sabendo que os alunos são de Educação Básica: quantidade e pais dos alunos a entrarem pela livraria dentro.

Aconteceu-me ver a filantropia ir pelo cano abaixo e as extinções serem questionadas ao ver livrarias (ou híbridos) a pagarem cachets milionários por sessões entre o negligente e o selvagem.

A vida está difícil para pessoas com ideologia.

Vi comércio em toda a parte, mesmo onde isso era repudiado: a venda de um café tem prioridade sobre um poema que fale do humano.

Um cliente tem sempre prioridade sobre um actor.

E o fazer-se coisas por ideologia, por imperativo quer social, quer artístico, quer afectivo, não tem o valor simbólico de um cachet tanto para os anfitriões como para os espectadores. De preferência um cachet bem alto.

A quantidade é sempre preferida à qualidade. Sempre. Mesmo quando elogiem, mesmo quando haja afecto.

Isto é tramado, mas quando se lida com o comércio (e o mercado cultural também é um mercado)temos que conhecer as regras do comércio. E eu fiz de conta que havia outras regras. Que isto sirva de exemplo.

Lembrem-se que vi sempre serem valorizados os que trabalhavam antes para a sua não extinção financeira pelos cachets, por piores performances que fossem. Quem tem imperativos financeiros não os pode ter artísticos. No entanto ganha-se de bónus o valor simbólico.

Isto anda tudo trocado.

Friday, August 6, 2010

Num post recente que deu alguma polémica punham a questão pertinente de serem os alunos de teatro comparados (ou não) a actores experientes.

Que isso não é honesto, ou justo ou qualquer outra coisa.

E aqui batemos no que é essencial do teatro: não temos referências.
O cinema apareceu há cento e tal anos e não temos trabalhos antigos para ver (mesmo que em filme) e daí é difícil comparar como por exemplo nas belas artes se estuda a arte dos gregos a Rodin, para depois ir a Jeff Koons e etc.

Alguém dirá que não é justo comparar-se um estudante de escultura a Rodin, ou a Soares dos Reis?

Ou um de pintura a Velasquez ou até a Pollock?

Não é justo porque estes artistas são muito bons, são colossais?

Ou até em dança (e recente) com Cunningham ou Barishnikov?

Então que se estudará e com que técnica compararemos a dos alunos?

Diremos "estás a avançar bem, nunca serás ninguém grande mas estás bem"?

O encenador Kuniaki Ida disse em tempos "vocês podem ser muito bons na vossa rua, no vosso bairro, mas e no mundo?"

Dir-se-á que isto não é justo, que o mundo é muito grande que o meu país sufoca-me que precisava de fazer aquela escola em Nova Iorque...

Aqui distinguimos o que é Teatro da Expressão Dramática: o primeiro é uma forma de Arte e o segundo é a expressão por meios dramáticos do indivíduo, mas não tem pretensões artísticas. É claro que para um artista se expressar precisa de muito mais que fazer exercícios e jogos pois a sua Arte está constrangida pelo material, pela ideia, por si próprio. Isto é uma luta, não é inconsequente. A ele importa criar algo e não somente deter-se na sua expressão primordial. E procura criar algo que ombreie com os melhores e não com o que o vulgo fará.

Se quiserem ficar pela Expressão Dramática expressem-se à vontade e em liberdade, mas isso não é Teatro e isso não é o que deveriam ensinar as escolas.

Estude-se os actores melhores (do mundo) e veja-se porque são bons. Como usam o corpo, como usam o olhar, que situações e acções criam. E aprenda-se de uma vez por todas a fazer Teatro.

"Ganhar a falta"

Falo de Futebol:
todos os jogos têm regras, por estas definimos quem ganha e quem perde (nos jogos onde se ganha e perde); as regras definem também o que é permitido e o que não é (no andebol joga-se com a mão, no futebol com os pés...); tudo o que seja infracção às regras é batota e é o não permitido, é uma falta.

As faltas evitam-se, como se evita a batota (não mentimos, não rasteiramos, não somos desonestos) mas... pelos vistos ninguém disse nada em relação a fazer cair o outro em falta... pois no futebol existe a situação (e a expressão)engraçadissima de "ganhar a falta":
o jogador põe-se a jeito, em situação de contacto, e ou cai dolorosamente atingido, ou está sem querer no caminho de um pontapé, ou aconteceu qualquer outra coisa para ele muito honrosamente "ganhar a falta".

A bola passa para a sua equipa, com alguma sorte o outro jogador é penalizado e todos sorriem porque ele vá lá, não rematou ou passou a bola, mas lá conseguiu "ganhar a falta".


E mais uma coisa, não treinamos esses falsos ataques do outro como se fosse stagefighting

Thursday, August 5, 2010

Morreu Orlando Worm

A notícia veio aqui http://www.publico.pt/Cultura/morreu-o-desenhador-de-luz-orlando-worm_1450200.

Já o conhecia antes de o conhecer: falaram-me dele como uma referência e quando o vi finalmente (numa produção da Escola da Noite) pareceu-me muito mais novo que supusera na minha construção de quem seria o lendário Orlando Worm.

Conto isto: ajudava as pessoas. A certa altura fez-se o Citemor em Montemor e, se não me falha a fonte, ele viera com uma companhia e um espectáculo mas não saiu de lá enquanto a jovem organização não tinha todo o aparato técnico (de vassouras a material eléctrico)de que precisava sem o saber;
e a mim ajudou-me também: entre ensaios este homem que fazia luzes especiais deu-me uma dica que foi uma lição de empostação da voz "tens que empostar mais na máscara" e disse-me que tinha feito parte de um coro durante muitos anos.

Mais uma vez tenho uma pena imensa.

Wednesday, August 4, 2010

Curioso complemento ao post anterior

é só atentar à letra

O Voluntariado

Entre o performer/intérprete/criador e os seus parceiros/programadores/instituições/establecimentos

O voluntariado, em teatro, na verdade é um voluntarismo. Faz-se coisas mas na verdade nada se aproveita, ou antes outros aproveitam-se do que se faz.

A conclusão tem sido inevitavelmente esta:
o voluntário não vale nada, ninguém dá valor a nenhum esforço se for de graça ou pago a valor simbólico, é preciso pagar e de preferência pagar bem para apreciar.

Pagar bem, atentem. Mesmo que por idiotices e idiotas, mesmo que por performances assim-assim, mesmo que por nem-ata-nem-desata.

Isto em si é uma idiotice mas não só os casos de sinergia são poucos (todos trabalham para o mesmo) como só prova que vivemos num sistema capitalista, dentro e fora das nossas cabeças.

Quando deveria ser de outro modo, alterando o mundo, tendo uma verdadeira acção social e fazendo uma verdadeira arte social, de que o teatro (e as suas muitas desmultiplicações em poesia, intervenções públicas e etc.) é o mais perfeito e potencial exemplo.

Mas não é assim, não é assim, não é assim.
É necessário repetir para não se cair repetidas vezes no engano de querer mudar o mundo junto de merceeiros, ou seja, num sistema capitalista oferecendo-se como quem não está num sistema capitalista. Capitalista de valores não só económicos mas morais.

Uma arte social será muito dificilmente aplicável junto de parceiros assim. O capitalismo quer lucro e, se nós queremos ajudar com a nossa arte (o mundo, a cidade, os parceiros, os amigos, tanto faz) estamos no comprimento de onda errado e prometemos falhar.

Ora vejamos, se até a Operação Nariz Vermelho, a tal em que os "Doutores Palhaços levam alegria às crianças hospitalizadas em Portugal", o que deveria ser o exemplo de arte social, de trabalho humanitário, é uma empresa, que move dezenas de milhares de euros todos os meses, porque haveria de resultar qualquer voluntariado em Portugal?

Como o Teatro é uma Arte incrível

Ora vejam só
temos oportunidade, no Teatro, de estar em contacto com o que outros escreveram
de discutir, com outros, pensamentos e opiniões
de nos movermos com outros e sob o olhar de outros
de falarmos para alguém e sermos ouvidos
de fazermos e dizermos coisas de que nunca seríamos capazes, mas de que nos tornamos mais e mais capazes
de pensar as relações humanas e, por conseguinte, o mundo e a transformação do mundo
de ir para casa com o instrumento de fazer Arte e ver com ele, e dormir com ele e sentir com ele, pois ele somos nós

de, por fim, estar em contacto e jogo numa mesma sala com pessoas que nunca conhecemos e que, no final, sentem que houve comunicação entre todos, mesmo sem nos conhecermos

O Teatro, além de ser a primeira rede social, é também uma Arte incrível

Monday, August 2, 2010

A Academice

No seu pior a Academia (Universidade enquanto instituição) tem isto:
nada pode ser dito sem fundamentar em algum autor.

O que, ilustrando, será qualquer coisa deste género

No seu pior, segundo Cronsky (CRONSKY,2000:23), que afirma que "pior é muito mais que mal" e ainda apoiado em Mallhum (MALLHUM,1999:45)na ideia de pior ser "inversamente proporcional ao melhor" a Academia - tida aqui não como a referida por Sooneson, que a distinguia por "espaço amplo e pleno de árvores" (SOONESON, 1987:40) mas mais na acepção de Gustav & Gunner (GUSTAV & GUNNER, 2000:35 e retomado em 2001:78, 2002:101 e 2004:200)a Academia como "meio, recurso e espaço de conhecimento"(Universidade no sentido "Universitas" da Escola de Berlin, enquanto instituição) tem isto:
nada (no sentido que lhe dá o niilismo de Matusson e ainda Harris em MATUSSON, 2007:276 e HARRIS, 2008: 25) pode ser dito (no sentido de dizer enquanto "acto de pronúncia do ser" que Jueves, Carlile, Bonamin & Tuboron afirmaram em JUEVES et al, 1988:29) sem fundamentar em algum (fora do sentido aritmético que lhe deu Silva & Costa em SILVA & COSTA, 1976:76)autor (MEIRELES, 2010:1).

Wednesday, July 14, 2010

Este Verão vai aprender Commedia dell´Arte!

És actor?

Estás ligado ao teatro?

Tens vontade de fazer alguma coisa diferente este Verão?

Não queres ficar fora de forma?

Queres reciclar o teu material, a tua técnica, os teus conhecimentos?

Tens gosto pela improvisação?

Tens curiosidade pela Commedia dell Arte e não sabes onde aprender?

Então vai já inscrever-te neste estágio com Nuno Pino Custódio!



16/08/2010 > 22/08/2010

O ESTÁGIO
Regressar à Commedia dell´Arte, hoje, significa sobretudo compreender na formação do actor o próprio fenómeno do Teatro. Voltar a entrar em contacto com o sentido do Teatral, numa arte cada vez mais liberta para se (re)encontrar, desenvolvendo o humano e, por conseguinte, a sua evolução enquanto ser social.

O trabalho com máscara, que implica novas regras e comportamentos, recentrando a teatralidade no corpo do actor, promovendo a despersonalização, a síntese, a fé e uma relação mais interdependente com o público; o trabalho de improvisação e criação
colectiva a partir de guiões, assim como a possibilidade de tornar a corporalidade e a verbalidade mais íntimos e integrados, são algumas das vertentes a explorar neste estágio.

Numa última fase, este estágio oferece a possibilidade dos alunos colaborarem com a criação de um espectáculo profissional da ESTE – Estação Teatral a estrear no Festival TeatroAgosto 2010. Esta participação pode abranger todas as áreas técnicas e artísticas que envolvam a encenação, inclusive a representação com as personagens desenvolvidas
no estágio, dependendo isso do critério e da selecção do formador, bem como da vontade dos participantes.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
• Regras básicas do uso de uma máscara
• Contextualização da Commedia dell´Arte na história da formação
do actor
• A estilização base das personagens máscaras (segundo a escola do
Piccolo Teatro di Milano) .
• Apresentação das principais personagens (Zanni, Arlequim, Capitão,
Doutor, Polichinello, Brighella, Pantalone e Apaixonados)
• Estrutura de uma improvisação (apresentação, conflito e desenlace)
• A arte da pantomima (aprender a comunicar a partir da linguagem
das acções)
• Improvisações com as personagens “escolhidas” pelos alunos, a
partir de guiões da época
• Criação colectiva e encenação (observação e/ou participação na
criação de um espectáculo profissional, simulando uma situação
real, a apresentar no último dia do Festival TeatroAgosto)

O ESPECTÁCULO
Partindo da sua mais recente criação, Cozinheiros, a ESTE – Estação
Teatral propõe um desdobramento para uma versão em Commedia dell´Arte da ideia dramatúrgica presente na obra A Cozinha, de Arnold Wesker.

Teatro com máscara, de cariz iminentemente cómico, onde o gesto e a acção são predominantes, seguindo uma das tradições mais nucleares do teatro tradicional ocidental. Esta é uma criação alternativa, que complementa a versão artística estreada em Dezembro de 2009 n´A Moagem – Cidade do Engenho e das Artes, no Fundão.

Agora, disposta para acontecer ao ar livre (como uma praça, uma rua ou um jardim), pensando no leque de possibilidades e públicos que ocorrem no Verão, a improvisação com base em estruturas fixas permite um relacionamento bem mais directo e integrado com os espectadores, estejam estes mais dispersos ou mais concentrados.

O FORMADOR
Nuno Pino Custódio tem desenvolvido toda a sua actividade em torno de uma metodologia de representação com máscara.
Paralelamente, também as constrói. A sua necessidade de reencontrar uma poética do espaço e a urgência de estabelecer encontros entre “quem faz” e “quem vê”, devolvendo ao corpo as emoções e transpondo-as para o domínio da partilha, encontram nos ensinamentos do uso de uma máscara todo um campo de inúmeras possibilidades.

Dirige estágios em Máscara desde 1991, tendo já colaborado com algumas das mais importantes escolas, universidades e companhias portuguesas.
A sua actividade como encenador também é profícua: Teatro O Bando, ESTE – Estação Teatral, Teatro do Montemuro, Teatro Meridional, FC –Produções Teatrais, Teatro das Beiras, Teatro Oficina são algumas das companhias que já dirigiu.

CONTACTS
ASSOCIAÇÃO TEATROAGOSTO
Quinta das Pocinhas, Apartado 171, 6230-909 FUNDÃO – Portugal
T: (+351)963859458 | (+351) 963859394
E: teatroagosto@gmail.com | esteteatro@gmail.com
www.teatroagosto.com

Monday, June 21, 2010

morreu José Saramago

Ontem no funeral livros seus eram erguidos para o caixão que passava.
Hoje a selecção nacional de futebol joga em luto por José Saramago:
jogadores de um pais manifestam luto pela morte de um seu escritor.

Podiam perder pelos golos que fosse mas nunca me senti tão orgulhoso do meu país.

Sunday, June 20, 2010

Tresler - o caso do interlocutor vesgo e mouco

A "Que engraçado. Lá fora está um burro à porta."
B "O quê? eu sou um burro?"
A "Não, não é nada disso, eu dizia que lá fora está um burro à porta."
B "Hâ? então eu sou que nem uma porta?"
A "De maneira nenhuma, estava a dizer que lá fora está um burro à porta!"
B "Ai então depois de me chamares burro que nem uma porta ainda me pôes daqui para fora?"
A "Não! Eu dizia... é que... Olha esquece, és mesmo burro."


(Antes esta alegoria que a morosa análise comparativa de argumentos/contra-argumentos que nos levaria às mesmas conclusões.)

Provas de acesso de teatro - o caso de X

X quer concorrer às provas de acesso para uma escola (superior) de teatro.

Para se concorrer a estas provas não é requerida oficialmente aprendizagem anterior (como em música por exemplo).

X portanto apresenta-se sem formação anterior e
- nunca tinha feito teatro senão no secundário, pontualmente
- não lia teatro, pois não apreciava
- a última peça de teatro que tinha visto tinha sido numa visita de estudo há mais de um ano, e não sabia nome da companhia ou encenador
- não conhecia sequer grupos ou companhias de teatro da cidade onde se candidatava

X está a arriscar um massacre.

Mas este caso é comum, talvez demasiado comum.
Para lá de pensarmos o que move X a concorrer a algo com que não tem a mínima relação, podemos pensar que o modo de evitar alguma má experiência nas provas em que apontarão estas e outras falhas que decorrem delas é imaginar maneiras de reverter todos os nãos em sins, até às provas:

- ter feito teatro
- ler teatro
- ver peças de teatro
- conhecer grupos ou companhias de teatro da cidade

o resto decorre disto, e é treino pessoal.

Pachorra

Este blog foi criado e alimentado para produzir teoria/informação/cultura dentro do campo específico do "jogo, jogo dramático, expressão dramática e teatro".

Mas às vezes não há pachorra para com diálogos de surdos que ocasionalmente derivam daqui. Já é muita palavra aqui martelada para ter que explicar o explicado, a ensinar tudo desde a base.

Às vezes apetece esquecer tudo de teorias e referências e cultura, e fulanizar tudo, ou pessoalizar - se preferirem.

Às vezes apetece pensar que realmente merecemos todos estar entregues à ignorância.

Às vezes apetece entregar ao lugar-comum e dizer coisas como "muito orgânico" e "há-que ter energia" e aplaudir miúdos que criam estilos ou técnicas.

Às vezes apetece dizer essa coisa de "é tudo muito subjectivo" e marimbar.

Às vezes apetece aceitar a canga e pensar que a ignorância aqui é patológica, pandémica e incurável.

As autoridades

No outro dia numa discussão qualquer no parlamento um deputado respondia à acusação (grave) de outro, não com argumentos, não com refutações, não com justificações, não com correcções dos factos , mas com um brilhante "Mas que autoridade tem você?"

Ficou-se por aí a elevação intelectual da resposta.

Se os nossos parlamentares fazem isso porque não o há-de fazer qualquer pimpolho face a uma crítica?

É fácil, é barato, e fica-se orgulhosamente na mesma - com a vantagem extra de nos podermos sorrir todos para os da nossa bancada, que nos aplaudirão não a sagacidade, ou o raciocinio, ou a correcção de carácter, mas ter derrubado o tabuleiro da discussão mesa abaixo.

Uma treta.

Saturday, June 19, 2010

Kata

Vejam como o Mestre Masatoshi Nakayama interpreta este kata



(a ver isto percebemos bem que não está isenta a imaginação ou a emoção a par com o cuidado do pormenor numa forma imutável)

e visitem este site de kata

Thursday, June 17, 2010

O meu amigo Zé, o melhor encenador do mundo

O Zé é o melhor encenador do mundo! (quem é o Zé?)
É que o Zé é fantástico! (quem é o Zé?)

Pá, o Zé é mesmo fixe, pra mim é o melhor encenador do mundo! (quem é o Zé?)
A minha sensibilidade é que me diz que o Zé é espetacular! (quem é o Zé?)

Pra mim o teatro é essa cena que o Zé faz - eu e ele até já falámos uma vez quando fomos tomar um copo - e ele pá diz que o teatro é a gente sermos... sabes? sermos... o que somos! (quem é o Zé?)

Pra mim o teatro é uma cena subjectiva, é como o Zé diz, é tudo muito subjectivo (quem é o Zé?)

Se é uma cena subjectiva eu nem tenho que saber nada de nada, não é? Só preciso de andar com o Zé que ele dá-me umas luzes (quem é o Zé?)

Uma amiga minha estuda música, mas como não é uma cena subjectiva como a nossa,´tás a ver?, eu mete-me um pouco de impressão, e um amigo do Zé está na dança mas eu dançar é mais na disco e essa cena de treinar faz-me comichão (quem é o Zé?)

No outro dia estávamos na boa, eu e o Zé, e até discutimos sobre as nossas cenas, mas terminou tudo em bem porque a gente sabe que isto é tudo subjectivo e que se formos a dizer o porquê a gente mata a nossa sensibilidade (quem é o Zé?)

Essa minha amiga que está na música passa a tarde toda a estudar lá o clarinete ou o que for, mas nisto eu tou como o Zé - o teatro é uma cena que se inventa a cada dia, é uma cena diferente (quem é o Zé?)

Lá o amigo do Zé tem o mesmo professor de dança há anos e eu até falei isto com o Zé - essa cena é um pouco obsessiva, porque eu gosto é de cenas diferentes e não quero que ninguém me formate - o Zé disse que ele também não quer e que é por isso que ele prefere fazer as descobertas dele sozinho (quem é o Zé?)

Porque eu o Zé sabemos que a sociedade mata-nos, por isso temos que lutar pelo nosso espaço, porque senão a sociedade mata a minha maneira de sentir (quem é o Zé?)

E essa cena do professor de dança é muito ditatorial, tás a ver? porque ele diz ao amigo do Zé cenas do género tens que fazer assim e fazer assado, mas pra mim isso já não se usa porque no teatro temos cada um de fazer a sua cena, se me dissessem cenas assim isso matava a minha sensibilidade e eu bloqueava (quem é o Zé?)

E a outra cena da minha amiga, eu pergunto-lhe mas tu não ficas cansada? ela diz que sim mas ainda não estudou o suficiente - eu acho que isso é um bocado de marados. O Zé diz que isso mata a sensibilidade e é verdade e não é a minha cena (quem é o Zé?)

A minha cena é manter a minha espontaneidade e se for agora a explicar muito, isso mata-a, e uma pessoa não pode mexer muito na espontaneidade é que isso só dá cabo da cabeça a uma pessoa, e pra mim o teatro é essencialmente essa cena pá de uma vida mais intensa, é isso! é viver tudo de uma maneira mais intensa, tás a ver? é ser assim como Zé, um granda maluco (quem é o Zé?)

É que o teatro é mais intuitivo que a música ou a dança, é uma cena mais espontânea -a gente fala um pró outro e já é teatro, não precisamos de estar a martelar como essa minha amiga do clarinete ou o que for, ou o amigo do Zé, lá no estúdio com o professor dele (quem é o Zé?)

- até me tou a lembrar que a minha amiga do clarinete ou o que for foi pra uma escola porque lá tinha o professor não sei das quantas. É mesmo marado, até o Zé diz que a gente tem que descobrir as cenas por nós próprios e que não devemos ser cópias de ninguém (quem é o Zé?)

Eu até acho que essa cena de querer ser ensinado lá pelo professor não sei das quantas é uma cena tipo edipiana, porque até parece que se quer um paizinho! hi hi hi! Disse isto ao Zé e ele disse que eu tinha razão (quem é o Zé?)

A minha cena sabes a minha cena é um bom ambiente porque senão eu não consigo criar e isso mata a minha sensibilidade e até o Zé me disse pra não deixar que me metessem coisas na cabeça (quem é o Zé?)

Wednesday, June 16, 2010

Ser profissional

Ser profissional é quando se tem um patamar alto de exigência. É um comportamento activo. É considerar como prioritário o seu trabalho e agir activamente e com todos os meios para essa prioridade.

Tudo o que não seja em direcção a essa prioridade é não profissional: distracções, desleixos, humores, descontrolos ou problemas pessoais.

O objectivo de cada artista é ser profissional e dizer "eu serei profissional nesta tarefa que projecto/tenho/me incumbiram".

Ser profissional é estar pronto e preparado. É encarar a sua tarefa como a coisa mais importante do mundo.

Ao ver desleixos, esquecimentos, atrasos, distracções, desculpo sempre o(s) seu(s) autor(es) com um sorriso de comiseração pois a verdade é que nem todos querem ser profissionais.

E aqui, mais que a treta do divino talento, é que se fará a triagem dos que vencerão pela sua qualidade.

Recomendo este vídeo que entre outras coisas falará também disto:

"Problemas pessoais"

Toda a gente tem problemas pessoais:
o cão morreu
a impressora morreu
o autocarro morreu
o leite estava estragado
o pé torceu
o despertador não tocou
o avô fez anos

toda a gente tem problemas pessoais que
a) são perfeitamente legítimos e compreensíveis
b) não interessam absolutamente a ninguém

Quando alguém não chega a horas ou falta a um ensaio, aula, reunião, há sempre um problema pessoal. Que não interessa a ninguém.
Não interessa e não é para se dizer. Porque pura e simplesmente não interessa.

Tenho reparado que toda a gente que chega atrasada - pois a sua vida pessoal tornou-se de repente mais prioritária que o compromisso de trabalho - tem uma pulsão irreprimível de partilhar a razão do seu atraso, falta, desleixo.

Chega a ser comovedor mais a necessidade de partilhar que o próprio motivo partilhado. Como se houvesse essa coisa a dizer ou se rebentava. É impressionante.

Mas, por mais que haja essa pulsão, eu não quero ouvir nem falar de problemas pessoais.

Não quero saber porque não estão todos na sala, não quero saber porque não se começa à hora, não quero saber porque se tem que sair mais cedo. Não quero saber e concluo sempre - sempre - que a pessoa não sabe resolver os seus problemas pessoais. Então não é profissional.

Wednesday, June 9, 2010

Técnica vs. Estilo - "Droga d´Amor" encenação de Richard Stourac

(Declaração de interesse - ou seja, não sou inocente à partida: está tudo no meu perfil e em posts diversos sobre técnica e apologia de especialistas.)


Droga d´Amor, ontem, foi uma surpresa para mim. E, digamo-lo assim, uma surpresa com um humor que o próprio exercício não teria previsto.

Como é que depois de ter escrito sobre Biomecânica fajuta me aparece mesmo à frente um maravilhoso exemplo disso?

Começou ontem o espectáculo com um Ètude de Biomecânica chamado A Bofetada, que só posso depreender tenha sido aprendido por vias muito ínvias porque até neste exemplo é mauzinho mas ao menos sabem o que fazer com as mãos.

Depois vinha a Commedia dell´Arte talvez(im)propriamente chamada, para a improvisação "como no Jazz".

Aos espectadores atraía muito a estrutura do espectáculo - sempre um guião diferente "recebido às 10 da manhã". A mim não me impressiona nem um pouco, porque não me interessa saber das habilidades ou dos processos (aquilo a que Declan Donnellan chama a parte "invisível" de um espectáculo), interessa-me divertir-me ou comover-me. Esse pormenor do guião e das 10 horas para mim é o equivalente à admiração de espectadores sobre o muito texto e páginas que se decorou. É acessório.

Esse estado de alerta não ajudou os actores. Podiam até ter recebido o guião às 4 da manhã numa folha de ouro mas isso não os faria ter a técnica que deveriam ter e não tinham. Porque não lhes ensinaram.

Por isso o que era anunciado como Commedia dell´Arte era na verdade "à maneira de" Commedia dell´Arte. Era um estilo e não uma técnica.

Ora vejamos - no Il Servitore di Due Padroni, encenação de Giorgio Strehler, o actor do Arlequim disse ter encontrado a voz da sua personagem ao fim de a representar 3 anos - é claro que na carreira de 30 anos a fazer este espectáculo Ferruccio Soleri pode ir improvisando "como no Jazz". Mas para isso foram precisas três décadas!

O pobre coitado não podia impressionar ninguém por todos os dias fazer um guião que Strehler lhe entregaria às 10 da manhã... O pobre coitado deste actor só - coitadinho - podia impressionar com a mestria de uma técnica e de uma arte... Coitadinho...

E aqui voltamos à questão do estilo vs. técnica - se é para dar umas luzes de alguma técnica por favor não se faça um espectáculo porque fica sempre aquém e é-se sempre comparado não com o aluno do lado ou com o espectador menos hábil ainda mas com os Feruccios Soleris deste mundo;

Se é para aprender uma técnica por favor chamem quem a domine e não quem faça estilo Commedia dell´ Arte ou estilo Biomecânica;

Se é para aprender uma técnica por favor não a mostrem senão criando e representando - apresentar um Ètude de Biomecânica antes de um pretenso espectáculo não é somente errado mas se for mal feito (como foi) torna-se vergonhoso.

Até Gennadi Bogdanov - este sim mestre - fervoroso técnico, diz da Biomecânica ser "uma técnica do actor, para ajudar o actor a criar, a organizar a sua representação, não deve ser evidente para o espectador."

Agora imaginem o que ele diria se soubesse que um encenador alemão colocou um Ètude antes de um espectáculo. E ainda por cima um Ètude tão mal feito que posso dizer de certeza que o professor terá aprendido deste homem, ou quejandos. E ensinado da mesma maneira.

Tuesday, June 8, 2010

Workshop de Commedia dell´Arte com Fabrizio Paladin

ÓPTIMA OPORTUNIDADE DA TERRA NA BOCA!

Introdução à Commedia dell’Arte, historial e estrutura deste género teatral. As máscaras de Commedia dell’Arte: apresentação das principais máscaras e personagens. Exercícios com máscara: escolha de uma personagem tipo e treino para a sua representação.
Composição e criação de novas personagens.

Fabrizio Paladin é actor, dramaturgo, encenador, músico e compositor italiano.
Recebeu o Prémio “Omaggio a Giorgio Gaber” de melhor talento em Música e Teatro de 2004 e é autor do livro O Teatro e a Máscara.
Especialista em Commedia Dell’ Arte e Improvisação.

28 a 2 Julho e 5 a 9 Julho
10:00-13:00 e 15:00-19:00 (70h)
Centro de Formação Cultural do Contagiarte, Rua Álvares Cabral, 360 - Porto
Preço: 200€. Amigo Terra na Boca: 180€
Mínimo: 12 pessoas. Máximo: 15
http://terranaboca-associaocultural.blogspot.com/

Saturday, June 5, 2010

Cursos Superiores de Teatro em Portugal

Para quem esteja à procura, aqui estão. Uns com e outros sem concurso local (provas de acesso).

Concorrer aos Nacionais sem ter experimentado a modalidade - o caso das provas de acesso em Teatro

Imaginemos que eu me encontrava a escolher um desporto. Digamos o Judo, por exemplo. Um dia digo para comigo "Vou fazer Judo" e... vou imediatamente concorrer aos Campeonatos Nacionais...

O que está errado aqui?

Nunca lutei com ninguém, nem sequer comecei pelos meus colegas de clube para depois participar em torneios amigáveis, e depois competições a sério, para enfim competir a nível nacional onde vem gente de todos os lados com excelentes preparações, forma física e técnica.

Não sei sequer as regras, não conheço o fato, nem sei como vencer ou muito menos como evitar magoar-me. Sou inconsciente.

O mesmo se aplica às provas de acesso de Teatro nas Escolas Superiores, que são, em importância simbólica, o equivalente aos Campeonatos Nacionais:

- quantos não concorrem sem ter antes sequer a experiência de um pequeno clube(grupo de teatro), sem terem nunca lutado (representado em público) nem com os parceiros do clube (ou de um círculo pequeno de amigos e conhecidos) muito menos com outros clubes (uma plateia des espectadores desconhecidos)?

- quantos pensam "Teatro!" sem terem ideia de que isso envolve o corpo e a voz e não uma qualidade mística que ou estará inscrita nos genes ou se verá relampejando nos olhos?

É que as provas são exigentes.
E o júri vai ver, ouvir e falar com muitos; vai comparar entre os que vê e os dos anos passados; vai até comparar consigo (Pierre Bourdieu dixit); vai perder a paciência ao terceiro ou quarto candidato manifestamente mal preparado ou inconsciente. E não passam.

Mas, se estes candidatos forem inteligentes, e se isto não tiver sido leviandade, levarão o ano que dista até às próximas provas a munir-se de experiências.

Tuesday, May 25, 2010

Os meus alunos: meus professores

Devo aos meus alunos o estar a descobrir o teatro. Devo isso, e não é só aos meus alunos de agora, mas aos alunos que tenho tido.

Devo aos meus alunos a necessária capacidade de desmontar o que penso saber para poder estimular os outros;

devo aos meus alunos a capacidade de aprender com o que acontece e o que decorre do que dou;

devo aos meus alunos eles estarem a tornar-se mais e mais responsáveis pela minha aula;

devo aos meus alunos ver coisas fantásticas de que sou responsável no primeiro empurrão e de que depois sou espantado espectador;

devo aos meus alunos o perceber que o teatro, se funcionar como um jogo - livre, incerto, num espaço e tempo delimitado (segundo Roger Caillois)- pode ser tudo o que antes procurávamos desenvolver com exercícios;

devo aos meus alunos o compreender que a melhor maneira de trabalhar o teatro é fazendo teatro;

devo aos meus alunos o compreender e encarar de frente que alguma coisa resulta mal quando a proposta é má ou seca;

devo aos meus alunos o ir coligindo informações sobre o que resulta e como resulta de geração de alunos para geração de alunos;

devo aos meus alunos a frustração e também não saber o que dizer quando me perguntam coisas, pontos a partir dos quais cresço sempre;

devo aos meus alunos o tentar ser concreto, e claro, e justo, e rigoroso, e coerente, e eu próprio, na sala de aula;

devo aos meus alunos todos os choques que tive com imprevistos (maus) e todas as surpresas (boas) que tive a sorte de não deixar de reparar como preciosa mina de conhecimento que eram;

devo aos meus alunos o converter a minha experiência em conhecimento, e o saber que se pode converter a experiência deles em conhecimento;

devo aos meus alunos o prazer de estar numa aula, a que fui inteligente o suficiente para escutar, de modo a guiar-me;

devo aos meus alunos, novamente, o aprender a entregar-lhes a aula e deixar, como com crianças que jogam, que a façam e a levem e a conduzam e me mostrem para onde são os seus temas, as suas necessidades, os seus sonhos.

Devo aos meus alunos a grata oportunidade de ser útil.

Friday, May 21, 2010

O que chegar atrasado (a um ensaio, aula, trabalho) diz de ti

Nestes dias tenho tocado em várias circunstâncias neste assunto. Há quem ache que um princípio (moral) pode ser contornado. Eu não acho. Um compromisso é um compromisso. Para mim, nesta área colectiva que é o teatro, ter princípios é ser digno de confiança. Não os ter ou tê-los elásticos é dar razão a séculos de preconceitos que viram os actores como gente marginal.

Trago um muito acertado post de Mark Westbrook a este propósito:

What being late says about you…
Lateness is offensive. It is offensive to the craft of acting, it is an insult to your teacher or director and your fellow performers and colleagues.

But what does lateness say about you?

1) That you don’t feel that you need to respect basic professional courtesy

2) That you care so little about your class, job or role that you can’t turn up on time for it. This being true, give up now.

3) That insulting your teacher/director/classmates/fellow performers is okay with you.

4) That the rules apply to everyone BUT you.

5) That you expect others to indulge you.

6) That following basic professional courtesy doesn’t count if you didn’t mean to transgress. As if all things are made good by an apology.

Just to clear this up, you are late if you are not ready to work on time. Your reasons are not important or relevant. If you were here but in the toilet, you are late, go to the toilet on your own time.

Your lateness is says a lot about you.

Cultivate the habit of being early. That says a lot about you too!

Wednesday, May 5, 2010

Biomecânica "americana" vs. Biomecânica de Meyerhold

Aqui temos dois brilhantes exemplos de como se pode ou não se pode fazer uma técnica:

Mel Gordon (interessante a partir de 1min50s)


Guennadi Bogdanov



é só comparar e lembrar que Guennadi Bogdanov aprendeu de Nikolai Kustov que por sua vez foi actor/colaborador de Meyerhold e que Mel Gordon não aprendeu de ninguém.

Mas... Mel Gordon escreveu um livro, é americano e professor em Berkley e isso pesa mais que a sua biomecânica ser uma palhaçada.

Tuesday, May 4, 2010

O paradigma da macacada

Hoje eu deveria ter dado uma aula de quatro horas. Mas porque há um cortejo dos estudantes as aulas foram canceladas. Ou seja, para que haja uma manifestação simbólica da situação de estudante, a escola - que é onde se é estudante - fecha. Não deixa de ser curioso.
Só não sei que carro alegórico vai repôr a aula que não dei.

Saturday, April 17, 2010

Dario Fo, Grammelot e Gil Vicente

Aqui está o grande Dario Fo (entre outras coisas prémio Nobel da Literatura quase quase inédito em português)num esplêndido monólogo com linguagem inventada retirada do inglês (grammelot) onde faz uma alusão ao Juíz da Beira de Gil Vicente (2`10``).
Uma beleza.

Saturday, April 10, 2010

Digital dirt sticks

"O que se pôe online não desaparece e pode voltar para nos assombrar."
Esta foi uma das frases de uma recente conferência de David Benzie e nem de propósito a internet tinha os dois seguintes vídeos reservados para ilustrar o facto.
(O terceiro é o balanço, e obviamente não é da autoria dos dois primeiros)





Wednesday, April 7, 2010

Aniversário de Almada

Hoje fez anos Almada Negreiros Poeta, Futurista e Tudo! (e dramaturgo, e cenógrafo, e figurinista, e ficcionista, e pintor, e vanguardista), nascido em S.Tomé a 7 de Abril de 1893 e falecido em Lisboa a 15 de Junho de 1970.

E aqui está o grande e sanguíneo actor e recitador Mário Viegas a dizer-lhe o poema A Cena do Ódio.

Mas que grande festa esta.



Thursday, April 1, 2010

Stanislavski, Brecht e várias peças em 1 acto à venda perto de si, no Porto

A Livraria Lumière tem-me sido fonte de livros de edições antigas de teatro, tanto de teoria como de dramaturgia. Há dias passando por lá vejo um exemplar impossível de encontrar do Stanislavski - A Preparação do Actor - que ainda lá está, na montra a tentar os felizardos...

Saturday, March 27, 2010

Dia Mundial do Teatro 2010

Hoje é o Dia Mundial do Teatro: como num aniversário juntamos as pessoas de que gostamos e falamos de histórias, brindamos e rimos, olhamos nos olhos e sem querer dizemos sem dizer o quão somos amigos uns dos outros.

Hoje lembro-me de amigos.

Augusto Boal


Marcel Marceau


Gardi Hutter


Guennadi Bogdanov


Konstantin Stanislavski

Wednesday, March 24, 2010

Mensagem de 27 de Março - o Dia Mundial do Teatro 2010 - Dame Judi Dench

"O Dia Mundial do Teatro é uma oportunidade de celebrar o Teatro em todas as suas múltiplas formas. O Teatro é fonte de entretenimento e inspiração e tem a capacidade de unificar as mais diversas culturas e povos que existem por todo o mundo. Mas o teatro é mais do que isso e também cria oportunidades de educar e informar.

O Teatro é apresentado por todo o mundo e nem sempre numa cena tradicional de teatro. As apresentações podem acontecer numa pequena aldeia em África, perto de uma montanha na Arménia, ou numa minúscula ilha no Pacífico. Tudo o que ele precisa é de um espaço e de espectadores. O Teatro tem a capacidade de nos fazer sorrir, de nos fazer chorar, mas deveria também fazer-nos pensar e reflectir.

O Teatro acontece pelo trabalho de equipa. Os Actores são as pessoas que são vistas, mas há um espantoso conjunto de pessoas que não são vistas. Elas são tão importantes como os actores e as suas diversas e especializadas competências tornam possível acontecer uma produção. Elas também devem partilhar quaisquer triunfos e sucessos que esperançosamente possam ocorrer.

27 de Março é sempre o oficial Dia Mundial do Teatro. De muitas maneiras cada dia deveria ser considerado um dia de teatro, pois nós temos a responsabilidade de continuar a tradição de divertir, de educar e iluminar os nossos espectadores, sem os quais não existiríamos."

Tirado daqui

(tradução nossa desde que em outros sites vimos traduzido "All it needs is a space and an audience" por "Ele não necessita de um espaço e de um público próprios"...)

Saturday, March 13, 2010

Sobre a Praxe e o "trote solidário"

Há uns tempos escrevi sobre a praxe - que, agora neste dias em que se discute o Bullying, me parece pertinente referir, dado que são destratos entre pares. Dizem-me alunos que participam (como praxados) que não é para humilhar, mas as representações em forma de imagem sobre a praxe envolvem sempre vários alunos de quatro, de joelhos no chão, pés cruzados e erguidos, e um outro de dedo apontado ao seu lado, como que a ordenar.

Isto não é violência entre pares? Não é violência sistemática, repetida entre pares?
Isto tem que ser necessariamente assim?

Do outro lado do Atlântico Taís Ferreira escreve um belissimo post de advertência e bom-senso, que transcrevo aqui:

"Queridos/as alunos/a do curso de teatro

Iniciamos mais um ano letivo e gostaria de dar boas-vindas a todos/as em nome da cooordenação do curso e desejar que tenhamos um ano produtivo juntos/as!
E que sejam muito bem-vindos/as e acolhidos/as os/as calouros/as!!!
Creio que todos vocês já saibam, mas não custa lembrar: trotes que envolvam qualquer tipo de violência ou constrangimento (físicos ou morais) são terminantemente proibidos nesta em em qualquer universidade pública brasileira. É crime previsto por lei e o aluno que submeter outro a qualquer prática caracterizada como "trote violento" pode perder sua vaga na instituição, pagar multas altas e até ser preso.
Portanto, sugiro que vocês proponham trotes solidários e úteis (lembrando sempre que NINGUÉM é obrigado a participar, só por livre e espontânea vontade), como limpeza de praças públicas, arrecadação de ração para animais de rua de Pelotas, doação de sangue no Hemocentro, coleta de material escolar e livros infantis para serem doados, realização de alguma atividade teatral em asilos, escolas carentes, abrigos... Enfim, usem a imaginação para pensar em coisas bacanas para recepcionar os calouros!
Grande abraço!

Profa. Taís Ferreira - coordenadora teatro "

"Incorporar a personagem"

Em dois dias ouvi de duas pessoas a expressão acima a propósito de um dos passos do trabalho numa peça/performance de teatro com crianças.

Já ouvi "Encarnar a personagem" de um aluno a referir-se exactamente ao mesmo.

Ocorrera-me neste último caso saber muito sociologicamente onde terá o aluno ouvido ou lido esta expressão. Mas contive-me pois seria demasiado demorado e desgastante provar que é um lugar-comum. Que, nestes contextos, são palavras que não significam nada.

O curioso é que os três casos referidos não tinham relação directa com o teatro (como criadores - porque dar aulas de teatro é outra coisa...), educação formal de teatro, e é pouco provável que pudessem alguma vez ter lido "O trabalho do actor sobre si mesmo no processo criador da encarnação" de Konstantin Stanislávski.

Mas mesmo assim o vento soprou, ao longo de gerações, da Rússia aos EUA, dos anos 1940 ao nosso momento presente e no Norte de Portugal que havia uma coisa chamada "Encarnar a personagem". Não leram Stanislávski, podem nem ter ouvido falar dele, mas citam - sem querer, na benesse da ignorância - um termo seu.

Agora, como o pôr em prática... Aí não há vento tão forte que traga a resposta e é aqui que entra a tal experiência directa que, a não existir, torna-nos uns caretas abstractos.

A importância de se chamar habilitações

Ora bem, não julgo que as habilitações académicas - no pobre estado em que me parece estarmos - sejam muito importantes, mas...

lá por eu escrever neste blog ou ter livros franceses em casa isso dificilmente me torna habilitado a dar Português-Francês;

lá por ter familiares artistas plásticos e eu próprio ter uma carreira numa outra arte, isso não me habilita a dar um atelier de Artes Plásticas;

Lembro uma história: pediram ajuda a um senhor de teatro para formar um grupo de teatro. Ele perguntou porque não faziam eles um grupo de música
- É que não sabemos música...
- Mas teatro sabem?

Pede-se o mínimo, e o mínimo não é uma certa familiaridade, ou um conhecimento de vista, ou ter visto uma peça de teatro... O mínimo é experiência directa, cultura e conhecimento de técnica. O mínimo não é a fraude e, digo-vos, as situações apostas acima são reais e para mim configuram uma fraude. Só que não é um actor a dar Português-Francês, nem a dar Artes Plásticas, será antes o contrário.

Da histeria no teatro

Convenhamos numa coisa: qualquer acto (em) público é um acto teatral.
O que eu faço na rua, no café, numa cantina, no campus de uma universidade é lido, visto, recebido como se fosse um meu discurso. Intencional ou não.

Eu andar aos pinotes e aos gritinhos é visto como gritinhos e pinotes.

Muita gente no teatro - principalmente principiantes - descobre que afinal de contas pode dar gritinhos e pinotes, e fá-lo a torto e a direito, em especial quando vê outro igual.

Resultado: o mais claro acto teatral de se afirmar ao resto da sociedade que em teatro não só se dão muitos gritinhos e pinotes, como que reina histeria entre nós.

Porque não pode ser senão uma patologia este excesso de caretas e risos, súbito surgidos e súbito desaparecidos, como se houvesse um medo de não fazer nada. Uma espécie de overacting na vida real.

Irrita-me, irrita-me e dá-me uma medida muito crua da pessoa que o faz.

Alimenta-se assim a fama de os actores serem desregulados nevróticos, quando o actor não é este adolescente que descobre que afinal existe uma coisa chamada expressão e, que, por isso, tem que estar a dispará-la a toda a hora.

Tuesday, March 9, 2010

autobiografia teatral

Tenho 34 anos. Aos 19 candidatei-me a um curso superior de teatro. Antes disso tinha feito artes marciais (Choy Lee Fat e Tae Kwon Do) desde os 15 anos, de modo formal e informal. Percebi sem pensar muito nisso que para dominar as suas técnicas era preciso treinar até acertar. Treinava em casa.

Quando concorri ao curso de teatro soube que havia provas de acesso. Soube de que tratavam e desde o dia em que soube isso até ao dia das provas treinei-me em casa. Porque pensava que tinha que haver uma maneira de dominar melhor as técnicas. Entrei no curso. Fiz 3 anos + 1. Licenciatura.

Quando fiz o meu primeiro trabalho profissional de actor tinha 23 anos. Desde então trabalhei como actor pago com companhias e grupos, em Lisboa, Coimbra e mais raramente no Porto. Devo ter entrado em cena desde há 11 anos umas 300 ou 400 vezes.

Comprei desde que tenho dinheiro próprio perto de 300 livros de ou sobre teatro.

Mas...

Nunca soube o que fazer em cena. Nunca soube que raio de coisa havia eu de fazer. Nunca soube sequer como começar. Decorava texto, fazia o que me diziam, lembrava-me deste ou daquele ideal e lá soprasse o vento da sorte. Dava o melhor por parecer que era eu quem falava ou mexia e minhas as palavras e a vontade de mexer mas nunca tive a mais minima ideia do que fazer. Representava com o estatuto social de actor mas com os rudimentos de qualquer amador. Salvaguardado pela juventude, boa forma física e algum skill relacional - o que significa que conseguia encaixar facilmente em contextos onde me não conheciam.

Esta ignorância de que tinha consciência fez-me comichão e fez-me fazer formação extra, comprar livros extra. Meio por inquietação, meio por revolta. Porque balanço feito não tinha aprendido nada. Ou nada de útil: 300 ou 400 entradas em cena sem saber senão como copiar os movimentos feitos e dizer as palavras decoradas.

Desde então tenho pensado que a minha verdadeira escola foi o tempo e o treino que fiz a mim próprio. Porque isso continha em si o raciocínio: deve haver algo a fazer, uma técnica.

Durante a escola terei tido aulas de muitas coisas mas sei agora, depois de reflectir, que nem os que me deram aulas faziam sequer ideia do que fazer em cena. E aqui entramos no delicado da questão. Uma escola não tem na verdade como função formar, mas conceder o estatuto social de formado. Só isso pode explicar a minha inépcia final combinada com o facto de ter aulas nucleares com pessoas que nunca foram actores e de ter aulas com outros que acreditavam no talento (aquela coisa que nasce connosco e, que, portanto - ó paraíso dos preguiçosos - não se trabalha).

Fruto de um esquema social em que eu próprio corroborei eis-me passada uma década de me pagarem para representar, vários livros de recibos verdes depois, a começar a fazer coisas a solo e a pensar que raio e como raio vou fazer isto?.

Até ao ano passado. Até Agosto de 2009.

Fui a Itália, à cidade de Perugia, e ali fiz a formação que dava um russo de 60 anos chamado Guennadi Bogdanov. Ele dava a formação (inicial, inicialissima) de Biomecânica Teatral de Meyerhold. Coisa prática, de treino. Sete princípios de construção da acção física. Quando chegou ao fim a formação, no último minuto, estando nós na posição de prontidão - stoika - eu, cansado, extenuado, com os nervos estralhaçados, longe de casa, tive a vontade de chorar dos maratonistas ao chegar ao fim. Tinham sido não as duas semanas da formação mas 10 anos de dar com a cabeça nas paredes, de inépcia, quando a resposta estava ali tão perto.

Sete princípios para construír a acção e um pedagogo exigente mas brilhante.
Foi isso que bastou para fazer desabar o muro da ignorância. E mal sabia eu que mais havia de vir.

Em Fevereiro deste ano, a simplicidade e o exercício batem-me à porta ao fazer uma formação em Técnica da Máscara, com Nuno Pino Custódio. E tudo se compôs. A segmentação, uma acção de cada vez, o erro, a previsão, o olhar frontal e a relação com o público.

Vejam - foram anos e anos, centenas e milhares de euros gastos em livros, workshops, escolas, viagens e, no espaço de um ano, tudo se resolveu.

Mas dará Gennadi Bogdanov um diploma És um actor...?
Nuno Pino Custódio dará o grau de uma licenciatura?

Não, mas o que eles dão, em poucas horas ou dias é o que faz um actor fazer teatro. É o que faz um actor ser actor. É o que faz um actor poder criar e trabalhar e fazer algo que se vê logo que é teatro e não essa treta inominável de aquele tem talento...

Da completa falta de norte de quem vai para teatro

O que levará alguém a frequentar um curso de teatro?

O que me entristece é ver que em tantas formações aparecem candidatos a actores e actrizes cuja falta de habilidade, vontade, alegria em fazer o que dizem amar/indentificar-se/pretender é não só visível como constrangedora.

É constragedor ver alguém que está a sentir-se (ou a apresentar todos os sintomas de se sentir)constrangedor em cena.

É constrangedor e isto não vai mudar senão numa raridade de casos. Porque não há formação que supra a distância entre alguém e as suas ilusões:

Eu apaixonei-me pelo teatro
É o que eu mais quero fazer
Quero muito muito ser actor/actriz


E tudo o que vemos nega, desmente estas afirmações. Cosntrangimento em cima de constrangimento.

Vozes que não saem, corpos hirtos, caretas, vergonha em estar em palco e, no entanto
eu quero muito ser actor
o que eu mais quero no mundo é ser actriz


E na verdade esperam que um dia lhes seja dado o à-vontade, o conforto, a criatividade, o brilho nos olhos. Não será dado nunca. Serão dadas maneiras de se organizarem, de suarem, de levarem a gana que tenham mais longe.

Sem nenhuma gana, nada feito.

Vergonha gera vergonha.

 

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