O Jogo tem sido sobejamente utilizado, com a liberdade (e libertação) que lhe é inerente, na criação artística da literatura às artes plásticas e ao cinema.
Já se colou imagens e objectos a outras imagens e objectos; já se colou frases a outras que lhe eram alheias; já se escreveu sem parar fazendo associações livres; já se atirou e já se derramou tintas por cima de superfícies ou superficies por cima de tintas; já se deslocou objectos de um contexto para outros; já se montou as mesmas sequências de filme com várias músicas (toda a montagem de filme é um grande jogo...) e já se fez combinações aleatórias de música e dança.
O acaso e o aleatório têm sido ferramentas extraordinárias na descoberta de sentidos novos, em particular para quem o faz. Do mesmo modo, pensando o performer como ele mesmo uma máquina de montagem de gestos, sons e sentidos, (noção que nos vem de Eugenio Barba no seu Dicionário de Antropologia Teatral), podemos nós também utilizar o acaso e as múltiplas combinações para ir mais longe na busca de sentidos e de estimulação criativa no que fazemos: montando aleatoriamente formas diferentes.
Mexamos pois com as formas do actor. Com a fala e o gesto. Combinemos, sem propósito - somente porque nos apetece - gestos e falas, formas díspares, formas antagónicas. Por exemplo, dentro da fala, façamos acentuações decididas arbitrariamente (adjectivos, ou palavras começadas por A, ou só finais de frase...) ou muito rápido ou piano, ou forte; combinemos essas formas, esses elementos de forma e haveremos de ter sentidos novos, experimentando a liberdade da improvisação de irmos, não pelo sentido à forma, mas pelo seu exacto contrário.
Reflitamos por momentos sobre o que achamos mais importante na fala e no movimento. Rudolf von Laban fê-lo em relação a este último, e é um óptimo recurso a sua observação do movimento humano, com as suas enormes possibilidades: resta-nos brincar com essas possibilidades, experimentando-as. Nem que tiremos à sorte como muitos fizeram antes de nós, nas artes plásticas por exemplo, para decidir combinações de que não queriam ter o poder da decisão. O teatro é jogo, a decisão virá depois, muito depois de termos jogado.
Uma construção imprevisível espera-nos, uma colagem inédita aguarda-nos, para que depois, saciados pela comoção dos sentidos, ou esclarecidos quanto às possibilidades desse objecto cénico - que somos nós com um texto ou uma situação - saiamos libertos, um pouco mais, dos nossos limites habituais.
O limite na verdade está apenas na nossa vontade de brincar.
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Friday, October 19, 2007
Jogo como processo criativo
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Kategori:
processo criativo
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